- A Escuridão -

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O viajante tinha uma missão.

Ele foi encarregado de avisar um velho amigo sobre algo importante que estava acontecendo no Bosque de Haeshym. Se a guardiã de sua aldeia estiver certa, e ela sempre está, só a mãe desse amigo podia resolver o problema. A escuridão que estava consumindo todo o bosque e matando as árvores, a terra e até animais inocentes. Ninguém nunca tinha visto uma escuridão assim.

Era antigo, poderoso, sombrio.

A intuição da guardiã de sua aldeia lhe dizia que o mundo está prestes a mudar. Que algo muito horrível está se aproximando. Tempos sombrios estão chegando.

O viajante esperava que, pela primeira vez, a guardiã estivesse errada. Ninguém quer que o mundo fique nas sombras.

O viajante já fez muitas viagens, várias delas sozinho, e ele sabia se cuidar muito bem. Ele sempre nota os sinais de que alguém ruim está se aproximando e sabe lidar com esse tipo de pessoa, mas ele não notou dessa vez. Como ele podia notar alguém que apareceu do nada? Esse alguém nem estava seguindo-o, ele só...apareceu. Bem na sua frente.

— Puta que pariu, quem é você? — o viajante esbravejou, se recuperando rápido do susto.

Ele não era bobo, sabia que o alguém era uma ameaça. O viajante o observou bem, já avaliando seus pontos fracos e onde poderia atingi-lo fatalmente. A ameaça era um homem alto e com cara de aristocrata. Não tinha cara de que conhecia golpes mortais, mas o viajante sabia que as aparências enganam.

— Alguém que veio para matá-lo. — o aristocrata respondeu, em um tom bem frio e mortal. — Não devia ter se enfiado naquelas árvores, ali você colocou um ponto final na sua vida.

Demorou alguns segundos, mas o viajante entendeu do que exatamente o homem estava se referindo. O aristocrata estava envolvido na causa da escuridão do Bosque de Haeshym. Como? O viajante tinha a impressão que não receberia a resposta, então ele nem perguntou em voz alta. Ele só soltou uma risada de desdém.

— Veio me matar? Não vai ser fácil.

O viajante não iria abaixar a cabeça para um merdinha que vive em uma mansão, rodeado de riquezas. Ele iria lutar até cair.

— Está enganado. Vai ser bem fácil.

O aristocrata abriu um sorriso macabro e o viajante não conseguiu conter o arrepio na nuca, o arrepio de medo. E ele tinha motivos. Uma pantera enorme e negra surgiu das árvores e estava caminhando até ele lentamente, se preparando para dar o bote.

O viajante pegou seu machado e se colocou em posição de luta, observando atentamente a pantera, tentando descobrir uma forma de acabar com ela antes que ela acabasse com ele. Não adiantava fugir, ele sabia, as panteras são rápidas e não param até pegar sua presa.

— Tenha uma boa refeição, querida. — o aristocrata falou para sua pantera, abrindo um sorriso enorme.

O viajante percebeu que as palavras eram um comando e fez algo que não pretendia fazer. Ele correu. Correu o mais rápido que podia pelas árvores, sem olhar para trás. Ele não precisava olhar para saber que a pantera vinha ao seu enlaço. Ele conseguia ouvi-la.

Ele estava indo bem em sua fuga até que, minutos depois de tanto correr, ele tropeçou em uma raiz no chão e a pantera conseguiu chegar até ele. O viajante caiu na terra e, no mesmo instante, sentiu as garras das panteras em sua barriga, abrindo ferimentos enormes e dolorosos. Ele agarrou seu machado com firmeza e golpeou de todas as formas, desesperado. Um dos golpes, graças aos deuses, atingiu a pantera e a tirou de cima dele.

O viajante agiu rápido para aproveitar a oportunidade. Fazendo pressão em sua barriga, ele se levantou e voltou a correr. Era a única coisa que ele podia fazer. Não tinha chances contra um animal predador que tinha ordens para matá-lo.

Mas ele faria de tudo para sobreviver, e isso significava que ele iria continuar correndo até chegar ao seu destino. Ou até ser morto.

A Veracidade das Sombrasحيث تعيش القصص. اكتشف الآن