Capítulo 33

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A mulher era transparente e sua imagem tremia, como se ela estivesse desaparecendo e tentando ficar aqui. No mundo dos vivos. Ela usava um fino vestido com alças, que marcava suas curvas, e seu cabelo liso caia sobre seus ombros até o quadril, uma expressão serena ocupava seus traços delicados, lábios grossos na medida certa. Perfeita demais, mesmo que não tivesse cor. Será que a morte deixava sua alma com uma aparência extraordinária?

Ou ela que era estonteante quando viva.

— Vejo que tomaram os devidos cuidados. — a mulher se pronunciou, seu olhar percorrendo todo o cômodo e observando atentamente cada um de nós por cinco segundos. Sim, eu contei. Ainda mais quando ela me observou e se demorou mais tempo. — Oras, o que temos aqui, uma Filha de Garlight.

— Uma filha de que? — perguntei franzindo o cenho, ignorando o pedido da Rainha em deixar só ela falar.

Afinal, a mulher estava falando comigo. Não conhecia esse termo. Garlight. Espero que não seja um xingamento. Mas a mesma não teve tempo de responder, já que a Rainha Eloá entrou na minha frente e começou a falar.

— Não tente mudar de assunto. Sabe porque está aqui. — a governante de Mylathow apontou o óbvio, eu tendo que me erguer um pouco nos dedos dos pés para observar o fantasma — Nos diga seu nome e o que queremos, então iremos libertá-la.

— Lillá, és meu nome. E não sou sua inimiga. — a mulher inclinou a cabeça um pouco para o lado, olhando atentamente para a Rainha. — Sair do Bosque te mudou bastante, não é á toa que o bosque está morrendo. Seu coração só não é gelo puro por causa de seus filhos.

— O que está dizendo?

Percebi a Rainha ficando tensa a minha frente, seu corpo rígido como pedra.

— Estou dizendo que se, seu coração não estivesse virado gelo, você saberia como resolver esse problema e não precisaria me chamar até aqui. Você esqueceu que é a guardiã do Bosque, esqueceu seu imenso poder, nessa vida tola de mortal. — o olhar de Lillá foi até Weynar, um sorriso surgindo no canto de seus lábios. — Se sua filha não tivesse escolhido bem quem chamar, vocês iriam piorar ainda mais a situação. Garota poderosa.

Uma vermelhidão tomou conta do rosto de Weynar com o elogio. Ela é mesmo poderosa, mas, que bom, que ela toma cuidado com seu poder.

Não enrole. — Henrik bufou, chamando a atenção de todos. — Conte logo o que queremos saber.

A Rainha olhou para seu filho e lhe lançou um olhar de "fique quieto". Era meio difícil não acabar falando algo no meio de tudo aquilo, só Lorine se mantinha em completo silêncio, observando tudo. Até Weynar parecia querer falar algo. Eu, sinceramente, queria fazer muitas perguntas, mas mantive o bico fechado.

— Impaciente como sua mãe. — Lillá abriu um sorriso, que parecia bem forçado, para o príncipe mais velho. — Vejo muito dela em você. Cuidado para não deixar seu coração endurecer também.

Tinha que concordar, via muito da Rainha em Henrik. Às vezes chegava a pensar que ele já tinha o coração endurecido, mas ele ainda tem tempo de mudar isso.

— Enrolando novamente. — Henrik revirou os olhos. — Responda, como o Bosque está morrendo? É por isso que estão punindo meu irmão?

— É uma coisa maior, que não sei detalhes por não fazer parte, mas está matando o Bosque. É uma coisa poderosa, mortal, sombria. Muitas almas, assim como eu, estão fazendo o máximo para se esconder da coisa. Por isso digo que a princesa escolheu bem em me chamar. Poderia ter vindo uma alma pior. — Lillá contou sem mais enrolação. — Seu irmão é só um hospedeiro que busca alimento, para o que há entre as árvores. Não é nenhuma vingança. Ele só é o hospedeiro perfeito.

A Veracidade das SombrasWhere stories live. Discover now