Capítulo 5

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Em todas manhãs que tenho companhia ao meu lado na cama, eu sempre sou a primeira a acordar e ir embora sem deixar nenhum bilhete de despedida. Não há porque acordar junto com tal pessoa e me despedir com beijos ou sorrisos, isso demonstra que gostou tanto daquela noite que gostaria muito de repetir mais algumas vezes e depois, talvez, iria vir os encontros e uma possível relação. Não é algo que eu queira ou deseje. O que desejo é uma noite e nada mais. Se acontecer de nos encontrarmos novamente e repetir a noite, ótimo, maravilha. Seria assim com o homem misterioso da noite anterior.

Se ele não tivesse ido embora antes de mim.

Despertei sentindo algo estranho no ar, que não conseguia identificar muito bem pela sonolência ainda presente em meu corpo, mas ao abrir os olhos entendi o porquê daquela sensação. O misterioso não estava mais ao meu lado na cama e isso era estranho para mim por nunca ter me acontecido. Eu deveria ter ido embora antes dele e isso não aconteceu por ter dormido demais, um sono pesado depois de umas deliciosas horas de prazer.

Ele era muito mais do que eu tinha imaginado. Mil vezes melhor. E eu nem percebi quando ele se foi.

Não era como se eu fosse ficar chateada com isso, ele seguiu seu caminho e eu iria seguir o meu, por isso não demorei a me levantar da cama e me encaminhar para um banho quente para me despertar completamente. Ele havia me trazido para uma estalagem, pagando por uma noite inteira e meia manhã, e não demorou para que alguém batesse na porta cobrando mais uma diária ou que eu fosse embora logo. Mal esperam a manhã ir embora completamente para cobrar, dinheiro era tão importante.

Sair rapidamente da banheira e coloquei o vestido da noite anterior, juntando todos os fios bagunçados em um coque. Não poderia andar com ele solto daquela maneira, já que eu ainda não voltaria para o castelo e sim aproveitaria o ouro que tinha comigo para comer algo em algum lugar na Vila.

Antes de sair da estalagem, joguei a chave do quarto no balcão do recepcionista e respirei fundo o ar puro, apreciando o sol da manhã antes de começar a andar e procurar algo para encher meu estômago vazio. As ruas estavam em um processo de limpeza depois de toda aquela festa, mas ainda sim muitas pessoas andavam pelas barracas e lojas de vendas, e eu era uma delas. Havia tantas coisas impressionantes e incríveis sendo vendidas, e em cada uma dessas coisas conseguia identificar o estilo da população de Mylathow. Em Aradaik é tudo tão ligado a natureza, a cores fortes e vivas; enquanto aqui era algo mais suave e com várias estampas.

Depois de um tempo andando pelas barracas, me sentei finalmente em um banco no parque com um enorme pão com carne em uma mão e um copo de suco de laranja na outra. O ouro que tinha trazido não dava ao luxo de comer em um restaurante e nem estava interessada nisso. Preferia sentir na pele o sol da manhã. Estava pronta para devorar aquilo tudo e encher o estômago vazio antes de ouvir uma exclamação alta.

— Prestem atenção! Em silêncio!

Virei a cabeça em direção a voz e encontrei um homem no começo de sua velhice, que estava sentado de pernas cruzadas na grama abaixo de uma sombra de uma árvore. Quase achei que ele estava falando comigo, devido ao tom de sua voz, mas havia várias crianças se sentando na grama a sua frente com um brilho curioso no olhar, e notei então que o homem era um contador de histórias.

Dei uma grande mordida no pão em minha mão pouco interessada na história que ele iria contar, porém seu tom era alto e firme e era meio difícil não ouvir. Além de que era um dos meus contos preferidos. O começo do novo mundo. A união que nos salva das trevas.

“   No começo dos tempos havia a luz do sol durante o dia e a luz do luar e das estrelas durante a noite. Havia terras, gramas, águas e certos animais desconhecidos. E havia as bestas, que com a força e brutalidade comiam tudo o que via pela frente quando estavam famintas, deixando apenas podridão atrás de si.

A Veracidade das SombrasWhere stories live. Discover now