Capítulo 9

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Snowyn, Aradaik
Aos nove anos de idade

Mamãe havia pedido que uma criada me levasse para longe do quarto antes que os gritos começasse. Ela não estava esperando um paciente em uma situação tão grave quando me trouxe ao castelo para observar, e agora deveria esperar que ela terminasse seu trabalho sem ficar bisbilhotando nadinha. O que era muito chato. Queria ver o sangue e a cura, tinha vindo ali para isso.

Queria tanto andar pelo castelo e conhecê-lo melhor, o lugar onde príncipes e princesas vivem uma vida cheia de brilho e conforto, ver como era os enormes cômodos que tantas pessoas comentavam e ansiavam. E nem era o maior castelo da família real, eles deviam ter um que tocava o céu como o que uma mulher contou na feira. Mas era uma menina obediente, e tinha que ficar onde estava até que mamãe viesse me procurar. Sem fazer nada, sentada quietinha em um banco no jardim só olhando para o céu nublado. O inverno estava chegando, logo as crianças poderiam aproveitar a neve, e eu estava louca para que a mesma não demorasse tanto.

Parecia que estava ali uma eternidade e minha barriga começava a roncar pedindo comida e meu bumbum já estava dolorido por causa daquele banco duro. Não aguentava mais ficar ali! Por isso me levantei e estiquei meu vestido para descolar da pele. Talvez mamãe já estivesse chegando, mas não podia mais ficar parada. Uma voltinha no jardim não faria mal, não é mesmo? Podia até achar uma fruta em alguma árvore como sempre tinha lá em casa, assim encheria meu estômago por um curto período. E se papai estivesse aqui ele diria para eu dar uma volta, sem se afastar muito e sem mexer onde não devia, para acabar com minha enorme curiosidade de criança.

Eu podia mexer em tudo no jardim, eram só plantas e flores. Não tinha nenhum perigo, mamãe não ficaria com raiva e ninguém brigaria comigo.

Comecei a andar lentamente pelo jardim observando tudo ao redor com admiração, a cada passo que dava, mais árvores apareciam e os criados que sempre andavam pelo jardim começavam a diminuir. Havia vários canteiros de flores de diversos tipos, e acabei por me aproximar de um que havia orquídeas rosas com traços brancos. Uma das minhas preferidas. Pena que estavam se fechando por causa do inverno.

Peguei uma, coloquei sobre a orelha e voltei a saltitar pela grama sem prestar muita atenção a minha frente. Foi então que colidir com alguma coisa que me fez cair de bunda no chão, e se esse chão não fosse macio eu estaria com uma grande dor nesse momento.

— Desculpaaa!! — lamentou uma voz masculina me fazendo olhar para cima. — Eu te machuquei?

Balancei a cabeça em negação enquanto me colocava de pé, ao mesmo tempo que ele. Nenhuma dorzinha, estava bem. Olhei para o menino a minha frente com o cenho franzido, quem tinha derrubado quem?

— Desculpe, não estava muito atenta. — confidenciei, soltando uma risada baixa e passando a mão sobre a parte de trás do meu vestido, tirando alguma possível sujeira. — Papai diz que me distraio fácil, acho que... Ah, meus Deuses!

Berrei assustada ao perceber o sangue na grama, que pingava das mãos do menino. Eu não tinha feito isso, tinha? Um esbarro não podia causar esses ferimentos. Ou podia? Não!

— Vo-você tá machucado! Muito machucado! Eu fiz isso?

Perguntei, chegando mais perto para observar os machucados, depois que o susto inicial passou. O menino era um pouquinho mais alto que eu, devia ser mais velho, mas mesmo com minha baixa altura conseguia ver que em suas mãos estavam cheias de sangue saindo de dois ferimentos.

— Você? Claro que não! — esclareceu, rindo. — Me machuquei ao tentar pegar uma espada caída perto da trilha do rio, era afiada demais e não devia ter tocado. Estava correndo até o castelo para que alguém me ajudasse e esbarrei em você. Mamãe vai ficar muito brava comigo se ver isso!

A Veracidade das SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora