Capítulo 2

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Não estava tão impressionada com o castelo de Mylathow. Tirando algumas coisas, era bastante igual ao castelo de Aradaik que tinha algo que aqui não existia: fontes termais; pelo menos não tinha perto do castelo. E tive a certeza disso quando caminhamos por horas a fio e nada do Príncipe Keeran mostrar algo “impressionante”.

Makenna às vezes cochichava sobre tal lugar, onde ela já havia se machucado ou começado uma discussão com um dos príncipes.

O único lugar que se encaixava na categoria “impressionante” era o imenso jardim, que se misturava com a floresta ao redor. Parecido com o de Aradaik, mas com diferentes árvores e decorações. Era bem cuidado pelos diversos jardineiros que caminhavam pelo mesmo, para fazer alguma tarefa, e nos encontrávamos caminhando pelo local já que Keeran achou que o ar puro seria bom. Ele ao menos pensou que nós já tínhamos caminhado demais sentindo esse ar durante nossa longa viagem?

— Esse jardim é enorme — comentei, observando tudo ao redor atentamente. — E belíssimo.

— O bosque de Haeshym fica ao longo das árvores, por isso cuidamos muito bem do jardim e cultivamos tantas coisas. Mesmo que o seu poder tenha se acabado. — respondeu o príncipe sobre meu comentário.

Bosque de Haeshym, o lugar onde antigamente muitos feiticeiros iam para ver o passado e/ou futuro. Só os fortes sobreviviam, tinha toda uma cerimônia e uma longa escolha para entrar nele. Hoje em dia o bosque não tinha mais poder, só havia suas árvores e histórias contadas em fogueiras.

No jardim havia vários canteiros de diversos tipos de flores, diversas plantas que pelo o meu conhecimento eram usadas em medicamentos e vários tipos de árvores frutíferas; além de fontes, havia várias estátuas, de animais e pessoas, espalhadas pelo local e ao longe uma enorme estufa. Eram tantas coisas que não conseguia ficar com o olhar preso por muito tempo em um ponto exato. Os jardineiros devem ter um trabalho enorme, e essa propriedade com certeza tinha mais criados do que a de qualquer outro reino.

Me peguei pensando que meus pais amariam tudo isso. Há dois anos atrás poderia visitar-los na vila onde moravam, que ficava poucas horas de viagem da capital, quantas vezes eu quisesse, quando não estava ocupada, e sempre mandava uma carta por mais pequena que fosse. Metade do meu salário de dama de companhia era entregue a eles para ajudá-los nas despesas, o que ganhavam na feira não era suficiente e eles sempre atendiam as pessoas de graça. Meu pai dizia que o dom da cura não lhes foi dado para lucrar, mas para ajudar sem receber nada em troca. Eu o admirava por isso.

Ainda o admiro, nos meus pensamentos e memórias, já que não estava mais nesse mundo. Meus pais haviam morrido durante a época da peste, um curandeiro nunca consegue curar a si próprio e a peste ainda era desconhecida para ser contida. Muitas pessoas haviam morrido naquela época, mesmo com todos os cuidados.

A peste era algo raro, a última vez que apareceu foi a cinquenta anos e agora dois anos atrás. Os Seyhs, aqueles que pregam em nome dos Deuses, avisaram que a peste era uma alerta, aos pecadores, das divindades sagradas para demonstrar quem estava no comando. Meus pais não eram pecadores, mas acabaram pagando o preço de outra pessoas. Eu tive que lutar para tentar acabar com a raiva que se apoderou de mim naquela época, contra os Deuses. Se virar contra Eles não acabava bem. Tive que lidar com o luto de outra forma, ainda mais quando também perdi meu único irmão, que acabou indo embora de Aradaik dizendo que ali não era mais sua casa.

Leon sempre teve o desejo de ir morar em outro reino, e com a morte dos nossos pais veio a desculpa perfeita para ir embora. Não sentia aquele tipo de saudades que aparecia todos os dias, não éramos tão próximos. Eu acabei por ir morar no castelo cedo demais e éramos bastante diferente um do outro, entretanto, trocamos algumas cartas e assim me sinto aliviada sabendo que ele está bem seja lá onde estiver.

A Veracidade das SombrasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora