Capítulo 11

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Eu tinha morrido com certeza. Se ainda estivesse viva estaria sentindo alguma dor pelo corpo e não estava sentindo absolutamente nada. Nada. Mas se estava morta, como estava ouvindo vozes ao longe? Talvez eu tivesse me transformado em um fantasma, já tinha lido sobre esse tipo de coisas em livros.

Uma pessoa ficava presa no mundo como um fantasma por ter assuntos ainda pendentes para resolver. Mas o que eu tinha para resolver? Minha vida havia sido ótima, mesmo que não tenha aproveitado tudo, e não morri devendo nada a ninguém, ao contrário, tinha muito ouro guardado. Leon com certeza receberia esse ouro, meu único parente vivo. Ele iria ficar rico. Esperava que pelo menos ele me agradecesse e sentisse minha falta agora que eu não estava mais nesse mundo. Já devia ter recebido a notícia da minha morte e estava vindo para meu enterro. Se alguém o encontrasse seja lá onde ele estava.

Mas se eu era um fantasma porque estava sentindo uma mão sobre meu braço? E porque o toque estava me queimando? Me retrai, movendo meu braço para longe daquele toque antes que a queimação ficasse mais intensa. E abrir os olhos ao mesmo tempo que uma voz feminina falava em um tom frio:

— O que está fazendo aqui?

— Só vim ver como ela estava. — respondeu outra voz, também feminina.

— Como se você se importasse com ela, você nem a conhece.

Pisquei os olhos, tentando ajustar a visão sobre o brilho repentino do lugar em que eu estava. Bem, realmente não estava morta, o drama no momento em que acordei e a conversa ao meu redor já tinha deixado isso claro. Sentia que estava deitada em uma cama, e, se ainda estava no castelo, devia estar na enfermaria.

— Isso não quer dizer que lhe desejo o mal. Mas já estava de saída — retrucou uma das vozes e dessa vez conseguir reconhecer: Lorine. O que ela estava fazendo ali? Nem era minha amiga para me visitar. — E se quer saber, ela está acordando.

Ao conseguir ajustar a visão soube que estava certa, realmente estava na enfermaria, e quem estava falando com Lorine — ou quase a expulsando —, era Makenna. Minha amiga não demorou a aparecer em meu campo de visão ao mesmo tempo que eu ouvia alguém saindo. Impressionantemente, Makenna estava com os olhos inchados e lágrimas começavam a inundar os mesmos. Se ela esteve chorando, e estava quase fazendo isso de novo, o negócio era sério.

— Allyria! Graças aos Deuses! — ela falou, a voz embargada pelo choro enquanto jogava seus braços ao meu redor, me envolvendo em um abraço desajeitado já que eu continuava deitada. — Você me assustou! Pensei...pensei que…

— Morreria? — terminei por ela com a voz um tanto rouca. Ela me soltou de seu abraço e assentiu freneticamente tentando conter as lágrimas. — Sinto lhe informar, Alteza, mas não foi dessa vez.

Segurei sua mão e abri um pequeno sorriso. Assim ela iria ver que eu realmente estava bem, e não precisaria mais se preocupar tanto. Olhei ao redor, observando tudo, e parei meu olhar sobre a roupa que estava vestindo — um vestido branco horrível de mangas longas.

— Quem me colocou nesse negócio? — falei em um tom repugnante. — Espero que ninguém tenha me visto nua!

— É claro que viram — Makenna ri. — mas não se preocupe, foi apenas a curandeira que cuidou de você.

— Não me sinto aliviada, espero que pelo menos ela tenha me achado bonita.

— Se está fazendo gracinhas é porque realmente está bem. — ela me envolve em um abraço mais uma vez, dessa vez um tanto mais forte e sussurrando em meu ouvido: — Eu quase morri junto, espero que não faça isso de novo.

— Deuses, você pode me largar e me dá um pouco de água? — pedi, empurrando seu corpo fracamente e de brincadeira. — E me contar o que aconteceu, só lembro de estar rindo e no momento seguinte não consegui respirar. Estou doente, é isso? — franzi o cenho em preocupação. — É melhor me contar a verdade, eu aguento.

A Veracidade das SombrasWhere stories live. Discover now