Capítulo 3

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Aretha Anders

— Como tá a sua faculdade? — Perguntei para Audrey enquanto aguardávamos os pedidos, Harry e Archie conversavam sobre assuntos financeiros da cafeteria, os quais eu entendia pouquíssimo.

— Eu tô quase enlouquecendo. — Sorriu nervosa, brincando com o guardanapo sobre a mesa. — Essa reta final tá muito difícil, é só respirar que tá caindo avaliação do céu.

— Imagino que sim. — Respondi desviando meu olhar para a luminária que ficava sobre a mesma. Eu não tinha interesse em começar uma faculdade agora, me sentia despreparada e em dúvida sobre o que cursar. — Mas você vai se sair muito bem e eu vou poder falar, com muito orgulho, que minha irmã vai ser a melhor médica desse país.

Audrey sorriu carinhosa colocando sua mão sobre a minha, o sonho dela era ajudar as pessoas, acompanhar os tratamentos e a evolução dos quadros clínicos dos pacientes. Eu dava todo o apoio que conseguia, não só por ser minha irmã, mas porque eu acreditava que ela tinha todo o potencial para isso.

Nossos pratos chegaram, o cheiro das massas e o molho tomaram conta da mesa, senti minha boca salivar vendo o vapor que subia da massa enrolada no centro do prato branco. Eu poderia dizer que estava com fome e isso deixava a comida mais apetitosa, mas isso não seria novidade, eu sempre estou com fome.

— Obrigada. — Sorri sutilmente agradecendo ao garçom que tinha nos atendido, os demais na mesa agradeceram também, o moço sorriu nos desejando um bom jantar e se retirou.

Nos próximos minutos pouco foi falado na nossa mesa e tenho que ressaltar que as outras pessoas estavam na mesma situação, já que pouco se ouvia no ambiente além da música tranquila e um casal de senhores que faziam seus pedidos. A comida tinha esse efeito sobre as pessoas.

Eu não reparei nos clientes e muito menos no lugar, eu já tinha ido naquele restaurante inúmeras vezes e não me interessava ficar encarando desconhecidos, não queria deixá-los desconfortáveis, pois era assim que me sentia quando passavam muito tempo me olhando. Mas eu sabia que aquele era um dos restaurantes mais tranquilos da nossa pequena cidade, frequentado principalmente por famílias ou casais, não fazia muito o tipo de lugar que os adolescentes daqui gostavam de frequentar.

— Que merda! — Exclamei frustrada, eu fui tomar meu lindo suco de laranja e em um momento de distração olhando para meu celular, acabei virando muito o copo e o líquido caiu na minha roupa.

— Normalmente as pessoas usam a boca pra tomar as coisas. — Archie debochou e eu mostrei o dedo do meio para ele.

— Vou no banheiro. — Falei me levantando tentando secar o excesso do suco na minha calça com um guardanapo. — Já volto.

— Quer que eu vá junto? — Minha irmã perguntou e eu neguei sorrindo fraco.

— Não precisa, eu já volto. — Ela assentiu e eu me afastei da mesa, indo em direção ao banheiro, que ficava no fim de um corredor.

É incrível como essas coisas sempre acontecem comigo! Eu sou tão estranha que não consigo nem tomar um copo de suco sem parecer uma retardada. E o pior é que esse tipo de situação raramente acontece quando eu estou em casa sozinha, sempre passo vergonha em público.

Entrei no banheiro e observei meu reflexo no grande espelho que enfeitava a parede, liguei a torneira e peguei um lenço que eu tenho na bolsa para limpar a lente do óculos que uso às vezes, passei o pano molhado na parte da calça que havia sujado, felizmente era só um pequeno círculo na coxa.

Alguém que estava na cabine tossia de forma falhada, no começo eu não tinha reparado, mas depois acabei ficando preocupada. Desliguei a torneira e enxuguei minhas mãos me aproximando da porta da cabine, deixando algumas batidas leves nela.

— Com licença, você tá bem? — Perguntei e vi a porta ser destrancada e, em seguida, aberta. A mulher morena balançou a cabeça freneticamente ainda tossindo, ela era um pouco mais alta que eu, mas não parecia ter tanta diferença de idade. — Vem aqui, aí é muito apertado e você não vai conseguir respirar direito.

Ajudei a mesma a andar até a bancada da pia, ela apoiou as duas mãos enquanto tentava respirar fundo, a tosse agora parecia menos forte.

— O que eu faço pra te ajudar? — Questionei preocupada colocando minha mão sobre seu ombro. — Precisa de algum remédio? Quer que eu chame alguém?

— Eu... - Ela continuava a tossir, sua pele estava ficando pálida e ela parecia com febre. — Zayn. — Sussurrou, eu quase não consegui entender.

— Zayn? — Questionei confusa. — Ele tá aqui? — Ela assentiu e no momento seguinte estava caindo de joelhos no chão quase desmaiando, me apressei em ajudá-la a se sentar, abanando seu rosto. — SOCORROOO! — Gritei tentando chamar atenção de alguém lá fora. —Moça, por favor não desmaia... —Supliquei. — Eu vou ali chamar ajuda, já volto.

Corri para fora do banheiro e olhei para os lados, todos continuavam tranquilos, o que significava que ninguém tinha escutado meu grito por ajuda.

— Tem uma moça passando mal no banheiro. — Falei alto e todos me olharam assustados. — Zayn? Ela tá chamando por um tal de Zayn! — Um cara levantou rápido da mesa e eu não demorei a reconhecê-lo como o gatinho misterioso da cafeteria, ele correu para o banheiro feminino. — Audrey, vem! — Chamei minha irmã que já caminhava em minha direção.

Ter uma pessoa com conhecimentos na área da medicina na família às vezes é muito útil.

Voltei para o banheiro, o tal Zayn estava abaixado segurando o celular contra a orelha enquanto abanava o rosto da menina falando diversas vezes que tudo iria ficar bem e que era para ela focar na respiração e em usar corretamente uma bombinha de ar que ele havia lhe entregado. Minha irmã se aproximou explicando ser estudante de medicina e começou a fazer alguma coisa que eu não entendia, mas ela estava ajudando.

— Essa merda não funciona! — Zayn exclamou alterado afastando o celular do rosto, diferente daquele cara indiferente ao mundo que eu vejo todo dia no café, agora ele parecia atordoado.

— Posso ajudar? — Perguntei e ele me olhou concordando.

— Ambulância. — Falou simples e eu peguei meu celular, saindo na porta do banheiro para ligar.

— Saiam da frente. — Reclamei vendo várias pessoas paradas na porta e ao longo do corredor. — A menina tá passando mal, não é um show de circo não. — Declarei enquanto o telefone chamava o número da emergência. — Circulando galera. — Fiz um sinal com a mão para que eles diminuíssem a aglomeração na porta.

Alguns reclamaram sobre minha "falta de educação" enquanto se afastavam, virei de costas para eles imitando as falas sem emitir som enquanto fazia careta. Falta de educação era a forma como eles estavam agindo.

Em poucos minutos tinha uma ambulância estacionando em frente ao restaurante e dois moços levaram a menina, que agora estava quase desacordada. Antes de sair pela porta, Zayn olhou para onde eu e minha irmã estávamos paradas, era um olhar diferente, então ele concordou com a cabeça seguindo os socorristas até o carro.

Inclinei um pouco a cabeça para o lado, esse cara é estranho, mas eu esperava que a menina ficasse bem.

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Continua...

Amor, Bolinhos E CaféNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ