Capítulo 4

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Zayn Manfor

— Você me deu um susto bem grande. — Confessei enquanto dirigia de volta para casa, Hope já tinha sido estabilizada e ganhado alta.

— Eu sei... — Hope suspirou cansada se acomodando ainda mais no banco do carona. — Me desculpa, foi uma péssima ideia.

— Foi mesmo. — Concordei sem nem precisar pensar. — Eu te avisei que isso poderia acontecer.

— Avisou, eu sei que avisou! — Bufou encolhendo os ombros. — Você faz questão de me falar isso todo dia, mas eu não aguento ficar presa em casa o dia inteiro, todos os dias.

— Eu não te obrigo a ficar em casa.

— Isso eu sei, mas eu tenho só 18 anos, queria ir ao shopping, sair com minhas amigas, ir pra baladas, ir pra praia, sei lá. Ser uma adolescente normal. — Sua voz agora já estava embargada. — Não é justo, eu não posso ir nem na calçada sem me preocupar se vou voltar com vida pra dentro de casa.

— Não é justo, eu sei que não porra, mas temos que conviver com isso. — Falei sem desviar meus olhos da estrada, já estava quase chegando em casa. — Se eu pudesse trocaria de lugar com você só pra não te ver sofrer.

— Eu queria ter agradecido as meninas que me ajudaram. — Falou mudando de assunto, fiz careta com a rapidez que o rumo da conversa mudou, mas não me sentia confortável em conversar sobre isso também.

— Elas fizeram o que qualquer pessoa com senso faria. — Dei de ombros.

— Mas elas foram muito simpáticas, não é qualquer pessoa que faria aquilo. — Rebateu. — Você agradeceu elas né? — Questionou em tom baixo, me mantive em silêncio, o que a fez bufar irritada. — Não sei nem porquê te perguntei, você é a pessoa mais sem educação que eu conheço.

— Não exagera. — Falei simples e ela bufou novamente.

Hope não falou mais nada durante o trajeto. Sei o quanto é difícil para ela, eu também sinto toda essa situação, mas preciso cuidar dela e seria mais fácil se ela questionasse menos a maneira que eu lido com tudo.

[...]

Caminhei tranquilo até a cafeteria que eu ia sempre. Os bolinhos de gotas de chocolate de lá eram os preferidos de Hope e eu os comprava todo dia, um para mim e outro para ela, já que a mesma me obrigava a comermos as mesmas coisas.

Me sentei na mesma mesa, resolvi adiantar algumas coisas para um trabalho que eu estava fazendo, peguei meu celular e iniciei a pesquisa, aguardando alguém me atender.

— Bom dia. O que o senhor deseja? — Perguntou sorrindo a mesma garçonete dos outros dias, também a menina que ajudou Hope no restaurante ontem. Eu não costumava ficar reparando nas pessoas, mas ela já tinha me atendido tantas vezes e andava tanto de um lado para o outro nessa cafeteria que era impossível não reconhecê-la.

— Dois cafés com creme e dois bolinhos de gotas de chocolate pra levar. — Respondi sem desviar minha atenção do artigo que estava lendo.

— Certo. — Respondeu, podia ver pelo canto do olho que ela anotava tudo em seu celular. — Mais alguma coisa? — Neguei com um aceno. — Trago seu pedido em um minuto, com licença.

Deveria ser extremamente irritante para quem acompanhava nossos "diálogos", afinal eu não era de falar muito com desconhecidos e ela parecia um robô com frases programadas para se repetirem a cada atendimento.

— ISSO AQUI ESTÁ HORRÍVEL! — Um homem de terno gritou jogando um copo de café no chão, ele estava sentado na mesa ao lado da minha que era em um canto pouco movimentado, mas a "ceninha" havia chamado a atenção de todos.

— O que aconteceu senhor? — A garçonete morena perguntou se aproximando, a barista loirinha observava tudo com os olhos arregalados, elas estavam cuidando do lugar sozinhas pelo que percebi.

— Essa merda que vocês chamam de café... — Apontou para o líquido espalhado no chão. — Aquilo é café ou açúcar puro?

Revirei os olhos, quanto drama por um simples café. Era só não beber, ou pedir outro.

— Eu sinto muito. — Pediu em um suspiro trocando um olhar com a menina loira que parecia triste. — Podemos preparar outro, por conta da casa claro.

— Eu não quero outro. — Falou alto. —Além do péssimo atendimento, a comida é uma merda, vocês deveriam ter vergonha de abrir esse lugar e falar que servem café. — A menina engoliu em seco com os olhos avermelhados, todos pareciam sem reação, não entendia como um pouco de açúcar a mais tinha se tornado tudo aquilo. Concordo que não sou a melhor pessoa do mundo, mas me recuso a fazer esse tipo de cena.

— Eu não admito alguém entrar no meu estabelecimento e ofender minha funcionária. — Um dos caras que sempre estava ali entrou falando, ele estava com os braços cruzados e uma expressão séria. — Se o senhor tem alguma reclamação eu me disponibilizo a ouví-lo em local reservado, mas nossa conversa terá que ser com educação e não a base de gritos e ofensas, caso contrário peço que se retire, pois não vou ficar parado o vendo descontar seus problemas de forma grosseira nas minhas funcionárias.

O homem de terno o encarou sério antes de pegar uma pasta e sair em passos firmes, todos o encararam confusos enquanto se afastava. O cara que tinha falado se aproximou da menina passando as mãos pelos seus braços de forma carinhosa.

— Você tá bem? — Perguntou e ela olhou para onde a menina loira estava até dois segundos atrás.

— Segura as pontas por aqui um pouco? — Questionou fazendo um negócio estranho com o rosto, deve ser uma careta.

— Claro que sim. — Sorriu fraco. — Vai lá gatinha, salve o dia de novo.

— Valeu, Harry. Só vou entregar esse pedido. — Sorriu para ele mostrando uma embalagem de papel, ela se aproximou da minha mesa colocando a embalagem sobre a mesma. — Aqui o seu pedido senhor, sinto muito pela demora, mas tivemos um pequeno imprevisto. — Fez careta olhando para o café no chão.

Separei o dinheiro colocando sobre a mesa, balancei a cabeça me preparando para levantar.

— Olha... Desculpa incomodar ou parecer inconveniente, mas... — Não tinha notado que ela não tinha se afastado, arqueei a sobrancelha esperando que continuasse. — A menina do restaurante, ela tá bem? — Seu tom não parecia só curiosidade, era preocupação genuína.

— Sim, ela tá. — Respondi por fim e ela sorriu aliviada, respirei fundo olhando para o teto antes de voltar meu olhar para seus olhos castanhos e brilhantes. — Obrigado por ajudar. —  Agradeci, não por mim, porque eu não faria isso, mas por Hope que me mataria se soubesse que eu tive a chance de agradecer e não fiz.

— Não precisa agradecer, saber que ela tá bem já é o suficiente. — Sorriu dando um passo para trás. — Tenha um bom dia senhor, volte sempre. — E assim ela foi quase correndo para uma porta atrás do balcão, sendo seguida pelo outro dono do lugar, que tinha acabado de chegar.

Balancei a cabeça revirando os olhos, me condenando mentalmente por ter reparado no que ela fazia após me atender, saí da cafeteria enquanto procurava o contato da minha irmã.

— Agradeci uma das suas "salvadoras". — Falei quando Hope atendeu. — Espero que esteja feliz.

— O que? — Questionou, mas eu já estava encerrando a ligação.

____________
Continua...

Zayn é tão complicado, mas finalmente lemos um obrigado dito por ele...

O que vocês estão achando?

Espero que estejam gostando, eu tenho tanta coisa planejada pra essa história.

Escrever personagens "menos" fofos é difícil, eu estava acostumada com o Anthony que é uma caixinha de fofura, mas está sendo uma experiência muito boa.

Beijos e até o próximo.

Amor, Bolinhos E CaféWhere stories live. Discover now