BELISÁRIO

[23] Teias de linho

Sim, eu estou viva! Desculpem o sumiço.

Boa leitura!

🛹📚

[23] Teias de linho

Seria fácil depositar a culpa de sua tremedeira e o frio na barriga no choque térmico que Seokjin sentiu ao sair de dentro da estação de trem, abraçando o próprio corpo e amaldiçoando-se por ter esquecido o cachecol no escritório. 

Após averiguar as horas em seu relógio de pulso, suspirou profundamente, apressando o passo pelas ruas quase desertas por conta das baixas temperaturas. Estava atrasado. Apesar de não ter recebido nenhuma mensagem por conta disso, o advogado sabia que Taehyung deveria estar fazendo um buraco no chão de tanto andar de um lado para o outro.

Subiu rapidamente a rua na qual possuía tantas lembranças, certa vez carinhosamente intitulada por ele como Memory Lane, cercado de prédios de tijolos vermelhos e lojas com mercadoria simples. E por fim estava pronto para fazer uma nova história ali.

Bateu na porta da residência Kim, dispensando a campainha por ter certeza que Taehyung estava no andar debaixo, aguardando-o inquieto para enfim executarem o plano arquitetado há alguns dias.

Sim, Seokjin não se encabulou ao admitir que aquele encontro de uma fatídica quarta-feira foi imaginado e fantasiado do início ao fim — majoritariamente pela mente fértil de Tete, claro. Aquela cabecinha se provava ótima em idealizar perversões, motivo pelo qual o advogado foi obrigado a visitar um Sex Shop no último fim de semana, apesar de ter a impressão de que aquilo foi muito mais para atiçar a curiosidade dele do que um repentino constrangimento do acinzentado.

E deu muito certo. Há dias que Seokjin flagrava-se imaginando os itens que comprou para o namorado, tão ansioso quanto o garoto para ver os fetiches de Taehyung se realizarem por fim. Ele amava como ambos iam descobrindo seus gostos e preferências juntos, de pouco em pouco, mesmo que já tivessem tido outras oportunidades para fazerem tal. Isto significava que confiavam um no outro, muito mais do que qualquer outro parceiro ou namorada que já tivessem tido.

A porta se abriu alguns segundos depois, revelando Taehyung com cabelos quase secos, o corpo esguio coberto pelo roupão escuro que em raras oportunidades o viu usando, cobrindo até um pouco acima dos joelhos cheios de cicatrizes. O rosto do mais novo corou ao sentir a gaze intensa de Seokjin sob seu corpo, já curioso em vê-lo sem aquela peça de roupa.

— V-Você não está com frio? — gaguejou, sentindo-se um tolo por não saber como reagir com toda aquela situação armada. Tete riu baixinho, sempre satisfeito em arrancar reações quase juvenis de Jin.

Com olhos cintilantes ardendo em júbilo, agarrou o pulso de Seokjin para puxá-lo para dentro, ignorando o quão bambas as suas pernas estavam. Ao fechar a porta sem muito cuidado, Tete se aproximou sem cerimônias, fazendo Seokjin recuar com o ato inesperado e chocar as costas contra a madeira.

Seokjin assistiu atônito quando Tae segurou sua gravata preta logo abaixo do nó e grudou o corpo já febril contra o seu, o cheiro adocicado provindo dos fios recém lavados, intoxicando-o por completo. Faltavam palavras para descrever a predominância do namorado no recinto, tirando-lhe quaisquer palavras que pudesse raciocinar quando o nariz alheio deslizou por sua face, passeando pelo local como um velho amigo.

— Não — sussurrou ao encontrar os lábios macios do hyung contra os seus, em seguida lambendo o inferior com leveza.

Taehyung estava com fogo, como bem avisou que estaria na data dos fatos. Ele fantasiou tanto com aquele momento, que não era surpresa alguma encontrar em seus olhos uma índole predatória recém-adquirida, repletos de uma luxúria que com a proximidade entre ambos, fazia a respiração do advogado tornar-se desregulada. Os olhares de Tete sempre foram intensos e, depois de meses convivendo com seu lado mais felino, concluiu que nunca seria capaz de se acostumar com o friozinho na barriga.