[2] Câmeras e Bananas

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🛹



[2] Câmeras e Bananas. 


O vento da primavera era quente e acolhedor. Ele fazia as mechas dos cabelos de morenos de Taehyung, naquele fim de tarde presos pelo boné branco, ricochetearem com leveza para os lados e para trás. Com os joelhos ligeiramente flexionados, equilibrava-se em cima da prancha, esta por vez deslizava em alta velocidade pelo asfalto.

O suor escapava por entre seus fios, deslizando pela testa até se perderem na entrada da gola de sua blusa. Era um dia raro de extremo calor para aquela época do ano. As ruas de Seoul estavam floridas, as cerejeiras soltavam suas pétalas rosas, que dançavam com o vento, colorindo o fim da tarde. Taehyung achou aquela cena particularmente bonita. Com certeza, era a sua estação do ano preferida.

Em seus fones de ouvido, ouvia uma playlist de heavy metal. Músicas com batidas frenéticas o auxiliavam a manter a velocidade no skate.

Deu uma olhada furtiva para trás e não avistou Jimin. Sorriu triunfante. Iria ganhar a aposta e ficaria com o controle do Playstation do amigo.

Executou mais algumas remadas com ânimo, no intuito de acelerar a velocidade e chegar logo em casa. Inclinou um pouco o corpo para a esquerda, fazendo uma curva um tanto arriscada e adentrando sua rua. Detestava aquele trecho em específico, pois tratava-se de uma subida, não muito inclinada, mas suficiente para fazer seus pulmões arderem, não importava como estava o condicionamento físico dele.

Só não esperou ver Jimin uma quadra a sua frente, sentado na escada de uma floricultura. Ele acenava em sua direção enquanto ria, de um jeitinho inusitadamente fofo e maligno ao mesmo tempo.

A possibilidade de perder aquela competição desestabilizou Tae.

Com a atenção vidrada no amigo, não viu um pequeno buraco no chão, onde sua roda adentrou e travou. O corpo de Tae foi arremessado para frente. O garoto só teve tempo de exclamar um breve "YAAA!", e inclinar os braços na diagonal para proteger seu rostinho lindo. Em especial, precisava preservar os seus dentes. Se aparecesse banguela mais uma vez em casa, sua mãe com certeza o mataria.

Rolou no chão. Mas que droga. Odiava tomar esse tipo de tombo em específico: aquele no qual o corpo continua a deslizar pelo asfalto por alguns poucos metros.

Pôde ouvir de longe Minnie chamando seu nome. A humilhação de ser o perdedor depois de esnobar o amigo mais velho por longas horas, somado a queda do skate mais idiota que já teve, faziam-no desejar que o asfalto abrisse e o engolisse. Taehyung era um péssimo perdedor.

– Tete, você 'tá bem? – questionou o amigo, enquanto patinava em sua direção.

Minnie nunca gostou de skate. Dizia não ter a capacidade de ficar girando a prancha por aí. Sempre foi adepto aos seus patins roxos – na opinião de Tae, extremamente cafonas – e era muito habilidoso, independente da modalidade, fosse a quad, aquela em que as rodinhas imitavam as de um carro, ou então inLine.

Fez uma careta. Conseguiu evitar uma fratura, mas seu braço esquerdo não teve tanta sorte, estava bem ralado da região do pulso até o cotovelo. Ardia como o inferno. Mesmo assim, estava acostumado com aquele tipo de dor, afinal, tentava fazer tantas manobras na prancha que era impossível não cair. Sua cara feia era mais porque perdeu e ainda por cima, caiu na frente do competidor.

Tá. Tá. Talvez devesse parar de se remoer por aquela besteira.

– Eu 'tô bem – resmungou enquanto tentava tirar pedaços de pedra e sujeira do machucado. Ardia como o inferno.

BELISÁRIO Where stories live. Discover now