[7] Compromisso malquerido

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[7] Compromisso malquerido


A comida preferida de Taehyung era a japonesa. Por isso sempre foi uma tarefa impossível tornar-se vegetariano. A maneira com que o atum cru se desmanchava em sua língua era uma de suas sensações preferidas.

Estava acompanhado de Jimin, numa mesa redonda grande demais para apenas duas pessoas, em seu restaurante japonês preferido localizado nas redondezas de Myeon-dong. Era um tanto longe de sua casa, mas para se empanturrar de sashimi, sushi, guiozas e afins, Taehyung não se importava nem um pouco de pegar o transporte público na volta.

Sempre que iam naquele restaurante Tete se limitava a apenas beber água após o almoço. Sua intenção quando frequentava rodízios de comida japonesa era ir embora praticamente rolando, prestes a vomitar a grande quantia de peixe cru maravilhoso que ingeriu.

– 'Cê é um puta mal educado – Jimin reclamou no momento em que chegou, lançando a mochila no assento estofado. – Não dava para me esperar? Morto de fome.

– Eu cheguei no horário combinado – deu de ombros. Jimin era um enrolado, então já estava mais que acostumado com ficar plantado nos locais esperando-o. Pegou o suimono, dando uma golada barulhenta na sopa temperada. – 'Cê 'tá quarenta minutos atrasado. Não vou ficar esperando a princesa.

Dirigiu propriamente a atenção para Minnie e então franziu o cenho. Sua aparência estava diferente, o mais velho parecia... reluzente.  Os fios platinados foram aparados e hidratados, aparentemente por mãos profissionalizadas – algo raro, porque Jimin costumava cuidar ele mesmo do próprio cabelo, seu santuário. Além disso, usava roupas casuais, uma blusa com listras horizontais pretas e brancas que de alguma forma o deixavam mais jovial. Apesar do ar despojado, pôde notar que o amigo estava mais ajeitado do que o usual.

– Isso tudo é pra mim? – questionou enquanto bebericava a sopa, uma sobrancelha levantada sugestiva.

– Como assim?

– 'Tá todo arrumado. 'Tô sentindo o cheiro do seu perfume daqui.

Jimin deu uma risada sem graça, coçando a nuca. Tete percebeu seu estranho constrangimento com aquela observação, as bochechas fartas levemente avermelhadas. 

– Não seja idiota... – resmungou, sem coragem de olhar o amigo nos olhos. –  Eu 'tô normal.

– Normal? – repetiu a palavra com humor. – 'Tá até de brinquinho de argola, numa quarta-feira à noite. Que foi, hein? Finalmente aceitou que sou o amor da sua vida?

O apetrecho prateado que usava tinha o diâmetro de uma bola de ping-pong. Ficava um tanto feminino, mas aquele estilo combinava muito com Minnie. Tete sempre achou que o amigo tinha traços andrógenos. Apesar de claramente ser um garoto, sua feição era delicada e fina, tanto o é que quando caminhavam na rua, as pessoas de ambos os sexos viravam a cabeça em sua direção. O acastanhado denominava isso de "efeito Jimin".

Diante do olhar mortal que recebeu, Taehyung levantou as mãos em sinal de rendição. Não houve tempo para o loiro rebater, pois logo em seguida o garçom chegou para retirar seu pedido. Ele o acompanharia no esquema do rodízio e pediu um drink que continha sakê e wassabi, seu preferido. Assim que o atendente se afastou apressado, Taehyung o cutucou mais um pouco, um sorriso zombeteiro discreto na ponta de seus lábios:

– 'Tá tão cheiroso... quer que eu dê uma cheirada no cangote, safajimin?

– Vai tomar no cu, Tete. 'Tá todo saidinho pra quem me ignorou por quatro dias –  Jimin bufou, puxando os fios de cabelo para trás com os dedos repletos de anéis de prata. –  Qual foi, irmão? 'Tá me trocando pelos seus amiguinhos protetores dos animais? É isso mesmo?

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