Capítulo 6

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Ao chegar em casa, subi até meu quarto, tirei a camisa que usava e coloquei uma branca de algodão sem detalhes. Passei na minha adega, peguei um garrafa do meu vinho favorito e fui me sentar no telhado.

Olhei para o céu observando as estrelas, comecei a pensar em algo que jamais havia pensado antes. O que eu seria se meus pais não tivessem morrido? A única certeza que tenho é que não estaria na posição que estou hoje, mas também não me arrependo de nada. Eu me tornei a morte.

Abri a garrafa de vinho e bebi uns dois grandes goles do gargalo mesmo.

Senti que alguém está se aproximando, não precisei olhar para saber que era Jennie, seu doce perfume importado a entregava. 

— Por que não voltou para a balada? – Perguntei sem me virar, ela estava atrás de mim.

— Nunca irei soltar a sua mão, seja qual for as circunstâncias, estamos nisso juntas Roseanne. Eu e você.

— Se um dia eu for presa, jamais irei te levar junto, eu me odiaria se isso acontecesse.

— Se um dia você for presa, no outro dia eu te tiro de lá.

Ela sentou ao meu lado, pegou a garrafa de vinho e tomou um gole.

— O que aconteceu na balada? – Ela perguntou curiosa.

— Encontrei a policial lá.

Jennie ficou em silêncio, olhei para ela, que havia se deitado no telhado e parecia mais interessada em olhar para ao céu.

— Não espere uma resposta minha sobre isso. Eu já te falei que não gosto dessa ideia de você ficar se arriscando com essa policial.

— Você tem razão, mas eu não consigo controlar, é mais forte que eu.

— Me parece que está interessada amorosamente nessa mulher.

Olhei rapidamente para Jennie. 

— Não fale asneiras, jamais!

Jennie ficou em silêncio e eu aproveitei para mergulhar em pensamentos. Lisa é bonita e charmosa, mas amorosamente? Claro que não.

— Quem foi a última pessoa que você pegou Rosie?

— Eu não sei.

Realmente não sabia, nunca namorei ninguém sério, apenas pego algumas pessoas quando sinto necessidade.

— Faz tanto tempo assim?

— Alguns meses, eu acho.

Peguei a garrafa ao meu lado e tomei mais um gole do líquido tinto.

Essa garota vem me tirando de órbita desde quando Jennie me mostrou sua foto, quando fico assim, não consigo mandar nos meus próprios pensamentos e vai findar sobrando para alguém.

— Te ofereço 10 dólares por seus pensamentos. – Jennie cortou o silêncio.

— Quero matar algum homem.

Ouvi o riso nasal de Jennie.

— Pude imaginar, antes que você falasse. Que tal o senhor Minatozaki?

Se Jennie sabe que alguma mulher foi abusada, ela tem prazer em me dizer.

— Sinto que está ansiosa por isso.

— Bom, já deveria ter acabado com ele antes mesmo de me contar. Ele abusou da própria filha, eu sei o que ela sentiu.

Fechei meus olhos e contei até três. Odeio ter que lembrar disso, essa ferida da Jennie jamais será cicatrizada, o pai dela feriu sua alma quando ela era apenas uma criança.

— Você é forte. – Falei enquanto olhava para as estrelas.

— Você quem me ensinou a ser.

Me deitei no telhado e puxei Jennie para meus braços, ela deitou no meu peito, eu senti uma gota de água molhar minha camisa, sabia que ela estava chorando. Ela quase nunca chora.

— Você é o pesadelo de muitos que te chamam de anjo da morte. Mas para mim é meu anjo da guarda.

— Você também é o meu, somos o pilar uma da outra, para sempre assim.

Dei um beijo no cabelo dela e continuei olhando as estrelas. O universo é grande demais, somos menores que um grão de areia no meio de tanta coisa, tantas pessoas se acham poderosas, quando na verdade não são nada.

Não entendo o propósito de alguém que nasce com capacidade de pensar, e usa esse potencial para fazer da vida das próprias pessoas que o amam um inferno.

Jamais vou entender o que passa na cabeça de um homem que tira a honra da própria filha, que ver prazer sexual em uma criança que ele ajudou a colocar no mundo, que ele viu crescer. Talvez eu realmente prefira não entender e apenas fazer o meu propósito no mundo, o impossibilitar de machucar outras pessoas.

Amanhã farei minha última visita a casa dos Minatozaki's chegou o momento daquele homem conhecer meu rosto.

— Rosé? – A voz dela estava baixa. — Preciso te contar uma coisa, desde ontem estou tentando criar coragem.

Jennie sentou, passou a mão secando as lágrimas.

— Que foi? – Fiquei logo preocupada, imaginando que alguém pode ter mexido com Jennie por aí.

— Estive distante nos últimos dias por que estive internada.

Me sentei rapidamente.

— Por que? O que aconteceu? Por que não me ligou? Alguém te machucou? Quem foi?

Nem lembro quando Jennie esteve doente, ela é uma pedra e odeia hospitais, só pode alguém ter machucado ela, e se isso tiver acontecido, eu não vou entender legal.

— Estive me sentindo muito mal, vomitando muito, sentindo muitas dores. – Cada palavra dela era um acerto direto no meu coração, eu estava sendo bombardeada. — Fui diagnosticada com câncer em estado avançado, Chaeng.

Balancei minha cabeça seguidas vezes em negativo, aquilo não pode ser verdade, Jennie sempre foi brincalhona, é óbvio que é brincadeira.

As lágrimas desceram involuntariamente pelo meu rosto, senti os dedos de Jennie no meu queixo, virando meu rosto para ela.

— Posso morrer a qualquer momento, sinto dores diariamente. Quando isso acontecer, me prometa que você não vai desistir de você?

— Você não vai morrer...

Minha voz saiu arrastada, eu não conseguia controlar as lágrimas, não chorava desde que consegui vencer a depressão. Jennie é minha cura, ela não pode me abandonar, não posso ser deixada para trás novamente.

Jennie encostou a testa na minha, nossas lágrimas desciam em sincronia.

— Te amo meu bebê, te amo demais, não desista, faça o que me prometeu, investigue os Madson's e vá embora, tenha uma nova vida, você ainda pode deixar essa vida de lado Roseanne.

— Não posso seguir sem você Jennie... Você é meu alicerce.

— Você é forte, tem um enorme coração, precisa abandonar essa vida de merda e ser feliz Roseanne.

Ela largou meu rosto, voltou a deitar no telhado e usar o braço como apoio para a cabeça.

— Vamos conseguir encontrar uma cura para sua doença, eu tenho dinheiro Jennie, você vai ficar boa.

— Meu corpo dificilmente reagiria ao tratamento, eu só quero viver meus últimos dias feliz, e espero contar com você para isso.

Me deitei por cima dela, escondi meu rosto na curva do seu pescoço e lhe enchi de beijos.

— Eu te amo branquela idiota. – Disse ela.

Deus não vai me deixar sozinha novamente, tenho certeza que vou conseguir convencer Jennie a fazer o tratamento e ela vai ficar bem.

Ela tem que ficar bem.

(.) (.)

The angel of Death Where stories live. Discover now