• Capítulo 30: Céu, sol e mato •

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01.06

Elisa

Na paisagem, a composição de árvores enormes, com troncos escuros grosseiros e folhas verdes me lançou de volta para minha infância. O fundo azul do céu limpo após a fina chuva da manhã, completava o horizonte que víamos através do vidro frontal do trailer. Minha mãe estava pedindo para Julian diminuir o volume da música que ele insistiu em colocar para ouvirmos. Samantha estava sentada ao meu lado no sofá, com a cabeça encostada em meu ombro esquerdo e sua mão direita sob minha coxa. Hoje ela cheirava à jasmim.

Não acreditei que estivesse realmente acontecendo até vê-la se despedir de Claire e sair do carro com uma mochila superlotada nas costas. Ela chegou sorridente em minha casa. Quando teria imaginado, que em um domingo fresco do sexto mês do ano, eu estaria viajando com minha família e minha namorada em um trailer aleatório? Sam conseguiu convencer seus pais após eles falarem pessoalmente conosco. Provavelmente só queriam conferir com quem ela passaria esses dois dias acampando. Mas confesso que quase não consegui ocultar meu nervosismo enquanto observava os dois falando. Por sorte, eles parecem se dar bem com Marisa.

Ela passou vários dias pesquisando os melhores valores da diária de aluguel do veículo até encontrar o atual. Ele não é super espaçoso e nem extremamente moderno, mas é o suficiente para nós quatro. Vovó não veio conosco, tanto porque ela não gosta de se enfiar no meio do "lar de insetos e mato", como ela mesmo chama, quanto por precisar evitar viagens longas, uma recomendação médica.

Graças às horas extras em que trabalhamos no restaurante e no mercado, recebemos três dias de folga. Ou seja, estamos livres até terça-feira. Nunca fiquei tão radiante por ter trabalhado freneticamente. Minha mãe achou que era uma ótima oportunidade para sairmos da cidade e voltarmos a acampar como fazíamos quando meu pai estava entre nós. A última vez que fizemos isso foi no início do ano passado. Antes mesmo de eu sugerir a possibilidade de convidar a Sam, ela já havia me pedido o número da Claire e telefonado para a mesma.

Queríamos aproveitar enquanto nenhuma notícia sobre o futuro caísse sob nossas cabeças. As avaliações escolares foram concluídas nessa sexta-feira, restando as próximas semanas que serão preenchidas com recuperações de atividades e trabalhos, e a entrega das notas semestrais. Felizmente, nós duas não possuímos conteúdos atrasados, nenhuma recuperação a ser feita. Então, nos demos ao luxo de faltar no colégio para podermos fazer essa viagem, que nos leva diretamente até o coração de uma das principais reservas naturais do país.

Eu não tinha percebido que Samantha havia cochilado apoiada em mim, até abaixar meu rosto e encarar seu semblante sereno. Admirei seus cílios pequenos e as sobrancelhas relaxadas, toquei seu cabelo, observando e sentindo as mechas cor de rosa retocadas. Imaginei que fosse descansar por boa parte de nosso percurso. Ela se esforçou bastante essa semana, estudamos juntas por chamada de vídeo durante todas as noites - mas sabia que provavelmente ela estava estudando à tarde também -. E em várias, acabamos dormindo com os celulares ainda ligados. Eu despertei naturalmente mais cedo que ela todas as vezes. Sempre ao abrir os olhos, a primeira coisa que via era sua face levemente amassada pela posição em que dormiu, ou o seu cabelo assanhado espalhado pela cama.

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