• Capítulo 31: Amar e ser amada •

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09.08
[Um ano atrás]

Anotações do caderno de Elisa que vive em cima de sua escrivaninha

Às vezes é melhor manter seu pequeno crush apenas para si mesma por um tempo, ou quem sabe até para sempre. Escrever isso não é muito corajoso da minha parte, eu sei, meu pai sabe, minha mãe também. Bem, eles saberiam, caso eu lhes contasse sobre a existência dessas pequenas coisas tristes existentes em mim e que circulam entre meus pensamentos diariamente. É patético não se dedicar a um sentimento e nem se entregar para que ele se torne mútuo? É uma pergunta genuína, realmente não tenho uma resposta concreta.

Eu só sei que guardar a pureza de uma paixão apenas para si me parece algo belo de se fazer. Trancá-la em um armário de vidro, jamais abri-lo, apenas observar. Ninguém precisa saber. A outra parte viverá sua vida sem ter noção alguma de que existe alguém que a cada dia que passa nutre algo por ela que vai além de admiração, mas que também não é amor.

A beleza em sentir o início de algo brotando lá no cantinho do meu coração é a minha parte favorita do ato de se apaixonar. E guardar essa sensação a sete chaves é algo que aprendi a fazer com o tempo. Não há rejeição, não há olhares estranhos, não há falsa esperança, e o mais importante, não há dor em ser trocada por um garoto. Simplesmente porque não tem como eu ser trocada se elas nunca foram minhas.

Eu não posso nem consigo evitar que esses sentimentos floresçam em mim, porque eles aparecem de repente em uma manhã de quarta-feira enquanto eu descasco uma maçã, escuto Billie Eilish e reparo na garota ruiva que está do outro lado da sala de aula e que não tem olhos para nada além do livro em sua mão.

E embora eu pense assim, por favor não ache que eu sou desacreditada sobre o amor. Muito pelo contrário. Em toda minha vida, não teve um momento sequer em que eu não acreditei nele. Como poderia? Eu o vejo todo dia quando observo a forma como os olhos da minha mãe brilham quando meu pai volta do trabalho. Quando percebo o modo como ele a segura em seus braços e sorri como se só naquele instante tivesse chegado realmente em sua casa.

Quando mesmo após horas trabalhando, ele cansado insiste em fazer café para ela, porque sabe que ela ama o café que ele faz, e então acaba preparando boa parte do jantar. Quando vejo minha mãe escrevendo recados românticos no guardanapo que sempre coloca junto à marmita do almoço que prepara para ele todos os dias bem cedinho. Quando os vejo compartilhando garrafas de vinho em cima do telhado de nossa casa como se ainda fossem jovens apaixonados de 25 anos, porque no fundo ainda são.

É como se eles não temessem nada, é como se andassem pela vida com seus corações abertos nas palmas de suas mãos, independente de estar chovendo ou de ter uma estrela queimando lá fora. Minha casa é um lar cheio de amor. Não existe um mundo no qual uma versão minha poderia não ser feita dele.

E então você me pergunta, e eu me pergunto também, como pode alguém assim falar que prefere manter seus sentimentos distantes dos outros enquanto olha o tempo passar até que eles morram?

Não sei. Talvez eu esteja esperando por algo. Talvez eu esteja aguardando o momento em que meus olhos irão se encontrar com os de alguém e desejarei jamais partir por um caminho que me leve para longe deles. Talvez eu esteja desesperadamente ansiando por ser amada da mesma maneira que minha mãe ama meu pai e meu pai ama minha mãe. Talvez eu esteja aguardando alguém que me faça escrever textos e mais textos sobre como o som de sua risada estremece cada osso do meu corpo e como seu toque desalinha meu raciocínio.

Talvez eu esteja aguardando uma pessoa que segure minhas mãos mesmo em dias bastante quentes, que compre flores secas para mim no inverno porque não aguentou esperar pela primavera e que não tenha tantos medos quanto eu. Talvez eu esteja aguardando alguém que beije os nós dos meus dedos, desenhe estrelas invisíveis na minha pele e faça carinho no meu cabelo.

Talvez eu esteja aguardando alguém que me deixará curiosa o suficiente para me perguntar quais outros tipos de expressões ela pode fazer. Alguém que irá rir das minhas piadas bobas e me fazer ligações de madrugada apenas porque quer ouvir minha voz. Talvez eu esteja esperando alguém que faça eu amar tanto e me sentir tão amada ao ponto de querer sentar num canto e chorar, e chorar, e chorar. Ao ponto de me fazer agradecer aos deuses o fato de nós existirmos no mesmo lugar e linha do tempo. 

Temo que talvez eu passe a minha vida toda sentindo e nunca vivenciando, na espera por algo que não irá chegar. É só que eu não consigo me conter. Algo dentro de mim quer mais e sussurra em meu ouvido sobre o possível dia em que irei amar tanto que será como se eu estivesse bebendo a luz do próprio sol.

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