• Prólogo •

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10.02

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Há exatamente uma semana meus pais viajaram à trabalho para a Austrália no intuito de finalmente concluírem suas pesquisas, ambos são biólogos e atuam em um instituto local. Dizer que estou acostumada com as viagens rotineiras deles, seja para a cidade ao lado ou outro continente, seria uma bela mentira de minha parte. Mas também não é como se eu odiasse isso, apenas é chato ter que passar os últimos dias das férias limitada ao meu bairro e arredores.

Ano passado fomos visitar alguns amigos na capital e foi incrível, meus olhos brilham só de lembrar de cada lugar que conheci. Eu até iria sozinha se pudesse, mas minha mãe diz que dirigir pelas estradas extensas que nos levam até aquela cidade é muito perigoso para uma adolescente de dezessete anos. Meu pai diz que não há problema se eu for acompanhada, mas ele não ousa discutir muito sobre isso com ela. Então eu apenas concordo em ficar em segurança e quietinha em casa.

Para compensar o tédio diário que me assola, eu tento variar minhas atividades cotidianas. Intercalo entre maratonar séries, ler, pintar quadros, experimentar receitas novas, passear com Ninfadora e nadar, tudo isso tem me salvado. Sei que não são coisas super diversas e extraordinárias, mas estou tentando não ficar apenas encarando o teto ouvindo Imagine Dragons e reclamando sobre o tempo perdido que deveria estar usando para ser produtiva.

Os lugares que mais gosto de visitar são algumas livrarias e papelarias que ficam no centro da cidade, mas minha preguiça esse mês me fez ir lá somente uma vez. Há também o mar e o píer, morar quase literalmente em frente à praia é muito vantajoso para mim nesse ponto. Ela não é movimentada, muito menos no inverno. Então sempre apareço por lá, nem que seja para sentir a areia e a maresia me abraçando.

Ultimamente só tenho visto a Dakota e Nancy, minha irmã quatro anos mais nova e minha tia que aparece dia sim e dia não, respectivamente. Minha última lembrança de ter tido contato com alguém fora elas é a de três semanas atrás, quando fui ao centro de preservação, onde meus pais são voluntários. Às vezes os ajudo com os animais recém-chegados. O centro resgata animais feridos, abandonados e que sofrem maus-tratos. Os domésticos ficam para adoção, a Ninfa veio de lá, há 5 anos.

Além disso, tenho somente dois amigos que coincidentemente estão viajando também. Maya e John, que são namorados, o que me faz segurar vela o dia todo, todos os dias. Como se não bastasse, ainda costumam viajar para lugares que nem sinal de celular possuem. E esse é o caso atual.

Felizmente, os cuidados da tia Nancy basicamente se resumem a perguntar se eu e Dakota desejamos que ela compre algo no mercado ou se queremos que durma conosco. Nossas respostas são sempre negativas em relação ao "dormir", todos nossos parentes conhecem sua fama de fumar quase uma caixa de cigarro antes de deitar.

Não é como se por estarmos sós, fôssemos atear fogo na casa ou dar uma festa gigantesca. O único perigo que podemos enfrentar é caso a Ninfadora se meta em alguma aventura com outros gatos ou se alguma panela decidir explodir na minha frente. Nada a temer.

Por último e menos importante, falarei sobre minha vida colegial. Inicialmente eu diria que entre os populares e os esquecidos, estou em uma linha tênue entre os dois. A hierarquia escolar era algo fantasioso até eu entrar no ensino médio. High School Musical e as centenas de filmes adolescentes me prometeram tantas coisas para no final eu ser enganada. Até hoje espero que alguém inicie uma apresentação de canto e dança em cima de alguma mesa do refeitório.

De acordo com John, o último ano é o melhor, mas não perguntei os motivos para ele acreditar nisso. Não consigo chegar a uma opinião concreta sobre, mas ao menos, acho que vai dar tudo certo para mim. No meu mundo não há alguém que me irrite ou me provoque, ninguém tira sarro da minha aparência e ninguém me mima, porque ninguém se importa e eu não ligo.

Tudo está ótimo como está. A vantagem de não pertencer a um grupo é essa. A desvantagem é que me torna invisível, e isso até seria bom, se meu tio Hernando, marido de Nancy, não fosse o diretor da escola. Ele sempre tenta me encaixar em algo, semestre passado o alvo foi o time das líderes de torcida, e no anterior o de handebol. Talvez esse ano o escolhido seja o clube de futebol ou vôlei. Hernando é conhecido por ser intrometido e um amante eterno de esportes, ele nunca deixa os clubes em paz.

Eu já participei de dois torneios de natação na cidade, e venci um deles. Mas como só participo de competições amadoras, ele não leva em consideração. Faz tantos esforços para me tornar "notável", enquanto outra parte da família me pressiona em relação a namoricos e afins. 

"Você passa muito tempo estudando e nadando, vá aproveitar a adolescência e beijar algumas bocas, Samantha!" é o que tia Esme fala sempre que nos encontramos. Ela é a beijoqueira.

Acho que eles estranham o fato de eu ser quieta demais e não aparecer chateada por causa de garotos, nem ter sido vista de forma suspeita com algum. Eu nunca namorei, e se beijei três vezes foi muito. Confesso que já tive algumas paixonites bobas quando era mais nova, mas nenhuma durou mais de um mês. 

Daqui a duas semanas as aulas voltam e todas essas cobranças retornam com elas. A única certeza que tenho é que permanecerei sendo invisível e sem par romântico.

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