Alegremo-nos e exultemos neste dia.

1.6K 138 449
                                    


- Olha, só não compre nada ilegal que agora tu pode ser presa e, que eu saiba, tua mãe não é advogada de porta de cadeira, então não seja pega. E tu, Gigi Dois, fica de olho na tua prima.

Era noite de sábado, enfim. Onze de abril. Karina Bae estreava a maioridade legal, naquela data, e as convidadas para o seu aniversário chegavam uma a uma, a presença de todas já anunciada à portaria. Karina e Giselle recepcionavam à porta do apartamento, então. Joyce Park, que entregara à aniversariante um envelope com o presente pecuniário, após os típicos cumprimentos de felicitações. Nem Giselle escapou dos abraços, aliás, ainda que o aniversário desta última estivesse longe para dedéu. Estavam acostumadas, porém. Tia Joyce gostava de esmagar o povo.

- Cadê as desnaturadas das tuas mães? – Joyce seguiu falante ao deixar os sapatos à porta e a bolsa pela mesa de jantar, no caminho. Eram assim, todas as tias. Irene reclamava que aquele apartamento pouco parecia ser realmente propriedade privada. A menos se que incluísse as amigas de escola como donas do lar, também. Aí seria mais justo.

- Na cozinha. Batendo papo. – Karina respondeu, como anfitriã, mas foram ela e Giselle que seguiram o caminho liderado pela Park, até o cômodo ao lado. E, como Karina havia dito, uma das mães da Bae realmente estava ali. Em pé, atrás da bancada, mas não desacompanhada.

- Ah, lá, chegou a Moana. – A primeira a implicar, ou melhor, a cumprimentar a recém-chegada fora Yeri Kim. Estava ao lado de Irene, beliscando biscoitos de polvilho de um pote que havia sido colocado ao centro da bancada.

- Essa gay não tem casa, não? Toda vez que eu venho ela tá aqui. – Joyce, como sempre, nunca ligava para as críticas de Yeri ao seu novo estilo de vida natural. De acordo com a própria Park, a Kim invejava a paz espiritual que Joyce alcançara ao longo dos anos, com a enorme bagagem de vida que tinha. Mas Yeri também não fez questão de responder ao ataque. Só negou com a cabeça, e Joyce deu ao gesto a mesma atenção, ao que se aproximou de Irene e colocou um dos braços ao redor dos ombros da Bae. – E aí? Como tá se sentindo com o seu Tamagotchi fazendo dezoitão?

- Velha. – E se Irene respondeu sem emoção alguma, Karina e Giselle se entreolharam, meio sem saber se deveriam ficar ofendidas ou não. Não faziam ideia do que diabos significava "Tamagotchi" e por que Yeri vira tanta graça naquilo.

- Zero novidades por aqui, então. E cadê a outra Gigi? – Joyce roubou um biscoito para si ao voltar para a frente da bancada. Em vez de ficar ouvindo besteiras ou ver a mãe a perder a paciência, Karina gesticulou com a cabeça para que Giselle a seguisse para o quarto. E foi só as mais novas saíram da cozinha para Karina ir guardar o pequeno presente monetário que a mãe da Bae passou por ali também, logo em seguida, mas fazendo o caminho inverso. Mãe, a Seulgi, no caso. E claro que Joyce foi a primeira a notar da amiga. – Ah, apareceu a cura hétero! Tava onde, a antissocial?

- Tava no banho. – Seulgi cumprimentou a Park com uns tapinhas nas costas, mas passou direto por onde as outras três estavam e foi em direção à geladeira. Yeri, Seulgi já tinha visto, naquele dia. De Irene, às vezes Seulgi precisava de férias. Mas só às vezes. Durante certas semanas do mês. Nada havia mudado em relação às tensões pré-menstruais da esposa. Continuavam sendo tensas.

- Ai, é. Hoje é sábado. Dia de passar um sabonete no corpo. – E algumas coisas não perdiam graça. Pelo menos para Seulgi. Ela riu da piadinha de Joyce, mesmo sendo o alvo. – Yeri, em vez de ficar me julgando, devia seguir o seu exemplo, Seulguinha.

- Que exemplo que a Seulgi dá pra alguém? – Yeri indagou, ao fazer uma careta de estranhamento para a Park.

- Sei lá, salvar o planeta, cuidar que a idade tá chegando pra curtir uma vibe mais natural e saudável... – Foi com a maior alegria do mundo que Joyce enumerou a sua lista. Só se interrompeu quando Seulgi veio se sentar à sua direita, de frente para as outras duas, e lhe passou uma das latas de cerveja que tinha em mãos. – Muito obrigada. Deus te abençoe.

Eis que os filhos são herança do Senhor!Where stories live. Discover now