... também Eu o confessarei diante do meu Pai.

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- A folgada da tua mãe não pôde vir hoje por que, mesmo?

Já era noite de quarta-feira, e Karina Bae adentrava um carro estacionado em via pública tranquila quando Yeri Kim fez a pergunta. A Kim também adentrava o mesmo veículo, só que pelo lado do motorista, oposto ao de Karina. Yeri se sentou no banco da frente e jogou a mochila com a sua troca de roupas para trás, já Karina deixou no colo a sua bolsa, que também usava para a escola. Karina, porém, não mais trajava os uniformes, assim como Yeri também não usava roupas que costumava usar no trabalho. Ambas trajavam vestes propícias à realização de atividades físicas. Pilates, mais especificamente.

- A mãe tinha audiência. Mas essa hora ela já deve ter chegado em casa. – Karina respondeu ao passar o cinto de segurança pelo corpo e Yeri resmungou em compreensão ao fazer o mesmo. Era ainda mais importante usar cinto de segurança, ao andar de carro com a Tia Yeri. Ela era meio agressiva, e não apenas ao volante. – Se ela não veio depois, foi por preguiça, mesmo.

- E eu não conheço a desgraça? – Yeri perguntou ao girar a chave na ignição. Até o jeito que Yeri dava partida no veículo era meio bruto. O carro tremeu mais do que cadeira de massagem. – É por isso que ela avisa de última hora. Ela sabe que, se avisar antes, eu vou ficar mandando mensagem até ela parar de frescura no cu e vir. A bicha é preguiçosa. Teimosa. Tudo é desculpa pra não ir.

- Não é só a senhora, não. A mãe também fica tirando sarro dela, quando por algum motivo ela não vai. Aí, na força do ódio, ela vai um mês direto, sem faltar. – Karina expôs a mãe mesmo, como sempre fazia, e se pôs a olhar a janela assim que a tia ligou o rádio e começou a manobrar carro para fora da vaga. Espero que vocês tenham entendido que o primeiro "mãe" se referiu à Seulgi, não à Irene, a preguiçosa.

- E o que tu queria ontem me interrogando sobre dar aula? Tá pensando em virar professora, é? Já não recomendo o maternal. Fiz o estágio pra nunca mais. Não limpava cocô nem das minhas irmãs, quem dirá continuar limpando do filho dos outros. – Mas, apesar de tanta brutalidade contida em um frasco tão pequeno, Yeri era uma motorista cuidadosa, a sua maneira. Olhou pelo retrovisor esquerdo até ter uma oportunidade de deixar o canto da rua. – Tirando o teu. Às vezes sobrava pra mim, limpar teu rabo. Mas aí eu já tinha limpado merda do filho dos outros, mesmo, o que é um peido pra que já tá cagado? E comigo tu era boazinha. Mesmo quando soltava uns puns quando eu tinha acabado de passar talco. Tua virilha ficava toda assada, se não cuidasse, por causa da fralda.

Tava aí uma informação que Karina não precisava saber. Que Yeri já tinha limpado a bunda dela e afins. Por isso, Karina fez careta e suspirou baixinho ao encarar o vidro, à direita. Mas naquele lance da pele irritadiça, Karina acreditava. Acontecia o mesmo com ela por conta de absorventes. Tirando a parte de pôr talco. Karina sempre pensava em apelar para alternativas, mas todo bendito mês acabava por comprar os mesmos absorventes.

E por que Karina estava se expondo tanto quando aquela não fora a pergunta de Yeri?

- Não sou eu, não. É uma amiga. Eu ofereci de falar contigo, as perguntas são dela. – Karina explicou. As respostas de Roseanne já haviam sido coletadas e repassadas para Winter, assim como as da Tia Kim. Karina só precisava falar com a mãe, mas Irene lhe estava disponível quase que o tempo todo.

- Quem, a amiga, da sua sala? – Foi uma pergunta rápida, aquela feita por Yeri. Tão rápido quanto a viradinha de cabeça da Kim o foi, para ver Karina assentir.

- É. Mas licenciatura é só uma das opções dela. Ela ainda tá meio indecisa do que fazer. – Karina olhava o movimento das ruas; muita gente e pouco carro, mas percebeu Yeri balançar a cabeça lentamente em consentimento, pela visão periférica.

Eis que os filhos são herança do Senhor!Where stories live. Discover now