Treine uma criança no caminho que deve seguir.

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Karina passou uma semana inteira em reflexão. Sério, sem brincadeira, uma semana inteira. Era manhã de domingo na residência daquela tradicionalíssima família brasileira e Karina havia acabado de acordar. Mais de onze da manhã. E tanto tinha acabado de acordar que seguiu cegamente até a cozinha. Era de onde vinham os únicos sons e cheiros do apartamento. Uma música baixa, além das vozes de Irene e Seulgi; o resto do barulho tinha a ver com o almoço que já estava sendo preparado.

Foi essa a cena que Karina viu, assim que chegou à cozinha. Sentou-se na banqueta mais próxima e foi cumprimentada com mais de um "bom dia". Do outro lado da bancada, Irene cortava uns bagulhos e Seulgi colocava outros trecos para ferver. Desculpa não ter sido muito específico. Karina não conseguiu assimilar quase nada. Coçou os olhos.

- Fome.

Foi a única coisa coerente que Karina conseguiu articular até seus olhos se acostumarem à luz que adentrava por suas órbitas, sem maiores incômodos. Aí Karina conseguiu ver Seulgi a roubar uma tira do bacon que Irene estava cortando. A Bae mais velha ficou sem entender muita coisa, até a Kang entregar o pedaço de carne para a filha.

- Já disse que não é pra ficar comendo esses trecos crus que pode fazer mal. – A bronca de Irene foi para Seulgi. Karina rasgou o pedaço de bacon nos dentes como se não estivesse envolvida na história.

- É defumado, um pedacinho só não tem nada. Ela gosta. – Seulgi deu de ombros e Karina, mais uma bocada no pedaço de carne salgadinha. Irene negou com a cabeça, mas não discutiu. – Se quiser comer mais, pega coisa do armário. Só não enche o bucho que logo sai o almoço.

- Quero, não. Esse treco é duro, até eu terminar de comer vai ser três horas da tarde. – Um exagero, já que o pedaço de bacon que Karina tinha em mãos era mínimo. Mas era verdade que parecia que iria ficar até o dia seguinte para terminar de mastigar o que já tinha na boca.

- É por isso que a gente frita ou cozinha, antes de comer. – Irene disse o óbvio ao largar a faca sobre a bancada, com uma expressão de sofrimento que não parecia ser por causa do esforço repetitivo. – Mas, meu Deus, por que tá tão quente assim? A gente tá indo pra última semana de maio.

- É o aquecimento global. – Seulgi pegou uma tesoura e um pacote de macarrão que Karina não tinha visto ali em cima até então. Ainda estava começando a acordar. Ficou mais alerta, depois de Seulgi ter apontado a tesoura para ela. – Na nossa época, já era pra estar nevando.

Karina já estava desperta o suficiente para entender e achar graça das besteiras matinais de Seulgi. E rir também do jeito que Irene fingia não escutar esse tipo de coisa.

- Mas, sério, cês não tão com calor, não? – Irene indagou e, após Seulgi ver silenciosamente questionando sobre a quantidade de um punhado do macarrão para ela, confirmou com a cabeça. Tinha coisa que era mais seguro perguntar para Irene. – Eu tô quase trazendo um ventilador pra cá.

- Eu tô de boa. – Seulgi respondeu ao retirar do pacote o tanto de macarrão indicado e Karina apenas concordou com a cabeça para a Kang. Assim, sendo bem honesta, Karina estava começando a ficar com sede. Bacon era salgado demais. Mas concordou com a mãe. Até porque entendeu o que Seulgi estava tentando fazer, depois da Kang ter olhado discretamente para ela.

- E eu que sou a friorenta. – Inconformada, Irene coçou a cabeça, antes de começar a limpar a bancada de cascas e coisas que certamente não iriam parar no macarrão ou no molho.

- Deve ser menopausa, isso aí. – Seulgi disse o que Karina já estava esperando que a mãe fosse dizer. Irene também fez o que Karina achou que fosse fazer. Fechou a cara, recolheu o que tinha que recolher e, calada, foi atrás da lixeira. Aí Seulgi pressionou os lábios juntos para não sorrir e Karina não aguentou. Soltou o riso soprado pelo nariz.

Eis que os filhos são herança do Senhor!Where stories live. Discover now