Entregue suas preocupações ao Senhor, e ele o susterá.

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Era com muitos gritos e palmas que Giselle Uchinaga Kang era ovacionada, às sete e meia da manhã de uma quinta-feira. Por toda uma sala de terceiro ano do Ensino Médio, cheia de criança de terno completo, num calor de início de maio. Mas era aplaudida mais enfaticamente por um grupo de três garotas, de quem vinham os gritos, inclusive: Karina Bae, Winter Kim e Vivian Ning. Uma forma de apoio à Giselle, coitada, a azarada, que havia acabado de sobreviver com sucesso a uma apresentação de quase dez minutos sozinha, num púlpito improvisado – o dos professores - em que, na frente, havia sido colada com fita adesiva a logotipo da ONU, estampada num papel sulfite.

Precário, mas o nervoso da Kang era tanto que parecia se tratar de uma conferência solene de verdade.

E ainda que a salva de palmas dos colegas, sem piadinhas e risinhos estúpidos, indicasse que Giselle havia feito um bom trabalho representando o seu grupo, a Kang ainda sentia o mesmo grau de nervoso que enfrentou durante toda a apresentação. Talvez por isso a tal da professora de Geografia houvesse tido que pedir para a aluna parar de sorrir e acenar com a cabeça repetidamente, como se fosse um robô, para que Giselle saísse logo ali da frente, os alunos parassem de fazer tanto barulho e o próximo representante de grupo pudesse fazer a sua apresentação.

Era vez da gloriosa República de Vanuatu, como a professora havia acabado de anunciar.

Karina Bae não fazia ideia de onde tal república se encontrava no mapa-múndi, até porque não ligava. Quer dizer, foi mal aí, pessoal de Vanuatu, era só que Karina, no momento, estava mais interessada em recepcionar a prima, que voltava de sua missão diplomática em direção ao fundo da sala, com um sorriso tão nervoso quanto parecia orgulhoso. Karina esticou os braços para frente, até Giselle estar próxima o suficiente para ganhar um meio abraço e uns tapinhas congratulatórios nas costas.

- Eu falei bem? Fora a apresentação, a parte que abriram pras perguntas, eu respondi direitinho? – Giselle perguntou e não apenas a prima assentiu como resposta. Winter e Ningning também o fizeram, da mesma forma.

- Relaxa, mona, cê arrasou. – Vivian só foi a mais enfática, ao dar uns tapinhas de confirmação no braço de Giselle, que aquiesceu ao soprar lentamente o ar dos pulmões. Parecia lutadora de boxe sendo reconfortada pela treinadora, entre os rounds.

- Coreia do Sul! – A professora de Geografia anunciou, atraindo a atenção do quarteto na mesma hora. A mulher ocupava uma das primeiras carteiras de aluno à frente da sala. Repousava consigo, à mesa, um laptop e maços de relatórios climáticos dos países que já haviam se apresentado. – Vou precisar do pen drive de vocês de novo. Eu não salvei a apresentação no meu computador.

- Eu já mandei pra senhora pelo e-mail. – Karina ergueu a mão direita, ao se pronunciar e, admirada, Giselle ergueu as sobrancelhas para a prima precavida.

- Já mandou? – A professora perguntou e Karina assentiu apenas uma vez, mas firme. – Vou dar uma olhadinha aqui e já te confirmo.

Daquela vez, as quatro balançaram a cabeça positivamente, antes de voltar à atenção para o círculo bagunçado que formavam aos fundos da sala. Nota: nenhuma das quatro já havia voltado a se sentar.

- Mas, nossa... – Giselle, inclusive, ainda vestia a cara da derrota. Tanto que empurrou os lados do blazer que vestia para trás ao que, numa pose exausta, apoiou as mãos na cintura. Agora, parecia que a Kang havia acabado de correr uma maratona. – Ela fazer um aluno só dar conta de tudo foi muita maldade.

- Mas você mandou bem, relaxa. – Karina deu mais uns tapinhas de incentivo no ombro da prima, antes de gesticular para todas se sentarem. Estavam Karina e Winter, à direita da Bae, ocupando os últimos assentos da sala. Giselle e Ningning, nos assentos logo à frente, também da esquerda para direita, respectivamente.

Eis que os filhos são herança do Senhor!Where stories live. Discover now