Quero trazer à memória o que me pode dar esperança.

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- Larga essas suas roupas lá na área de serviço que depois eu separo.

Às vezes, Irene assustava.

Era tarde da noite de uma quinta-feira, duma semana exaustiva de provas. Karina mal havia chegado à sala, com uma toalha a amarrar os cabelos molhados. Em mãos, tinha as roupas que vinha usando nos últimos dias. Irene se encontrava sentada no sofá maior, assento do meio e com os pés para cima, como sempre, e era acompanhada por Seulgi à sua direita. A Kang, com um dos braços apoiados no encosto do sofá, estava com os olhos grudados no notebook que a Bae tinha em seu colo.

Irene não havia tirado a atenção dali em nenhum segundo. Como adivinhara que Karina tinha resolvido trazer toda a roupa que acumulava no banheiro?

Sexto sentido, talvez.

- Joga tudo dentro do cesto? – Mas Karina fingiu que um arrepio macabro não havia subido por sua nuca e simplesmente perguntou ao seguir direto para a cozinha. Encarou as duas mães, no caminho. Seulgi foi a única que a encarou por um instante. Estavam ambas com a maior cara de quem estava se matando de rir, antes de Karina aparecer.

Infelizmente, a nem tão pequena Bae não tinha poderes sobrenaturais para adivinhar qual era o motivo da graça.

- Uhum. Se não couber tudo dentro, não larga em cima da tampa de qualquer jeito. Deixa bonitinho, sem fazer maloca.

Quando ouviu esse último aviso de Irene, Karina já estava na cozinha, a caminho da área de serviço, então respondeu apenas com um murmúrio positivo e acendeu a luz da lavação, ao entrar.

- Ah, tu tá aí, é?

A primeira coisa que Karina notou ali dentro foi Jujuba, bem na dela, enchendo o buchinho no potinho de ração – Karina agradeceu Irene ou Seulgi por terem o enchido por ela -, como a gatinha bem merecia.

E como bem devia fazer, Karina embolou, sim, embolou as vestimentas sujas e socou tudo dentro do cesto de roupas, como se estivesse sovando massa de pão. Com aquela compactação, seus pijamas e roupas usadas couberam ali fácil, fácil. A tampa fechou rente, rente, sem sambar para os lados sobre a montanha de roupas.

Sem roupa jogada em cima do cesto, como Irene havia pedido. Check. Tudo organizado para quando a mãe resolvesse lavar roupas. Normalmente aos sábados. Ainda era quinta. Mas o que a nem tão pequena Bae viera ali fazer, estava feito. Karina podia deixar a área de serviço e voltar para a sala.

Só afagou entre as orelhinhas de Jujuba, antes de sair. E recebeu um miado irritado em resposta.

- Ai, tá bom, cê não gosta que mexam contigo quando cê tá comendo, eu sei. Posso nem expressar meu amor, poxa, assim eu fico triste...

E não era mentira, não. Foi com o canto dos lábios caídos que Karina deixou Jujuba a sós com a refeição dela, e a luz da lavação ligada. Jujuba era uma gata, não um morcego.

E quando Karina chegou à sala? Irene e Seulgi ainda estavam cascando o bico para a tela do computador. Seulgi com aquela risadinha esquisita, que não era a rouca ou a muda, era aquela que parecia mais com um cachorrinho sendo chutado. Irene, com uma das risadas de tiazona doida de sempre. No caso, aquela que ia subindo de tom e ficando mais irritante, quando Irene tirava sarro de algo? Essa mesma.

E como história mal contada mata fofoqueira...

- Do que que vocês tão rindo? – Karina cancelou os planos de se entocar em seu próprio quarto e se jogou ao lado de Irene, no sofá, ao perguntar.

- Da cara da tua mãe. Que é isso, tu era ulzzang? E esses corações na cabeça, pesou a mão no Snow, não acha, não? Quantos filtros tu botou aqui? – Como Seulgi respondeu sem dizer muita coisa, Karina chegou mais perto de Irene, que ainda cobria a boca e ria, para poder enxergar a tela do computador.

Eis que os filhos são herança do Senhor!Where stories live. Discover now