Bônus I: Os filhos dos filhos são uma coroa para os idosos.

718 61 142
                                    


- Foi, a foto?

Seulgi aquiesceu sorridente em resposta à pergunta da sogra, Tiffany Bae Hwang, mas toda a atenção e bobice da Kang, naquele momento, se concentrava na imagem que era exibida na tela do celular que tinha em mãos. Não havia muita coisa no enquadramento da foto, assim como também não havia naquele apartamento inteiro, no bairro do Embaré. Na fotografia, era Tiffany quem estava em destaque, no centro da sala. De pano de fundo, havia apenas uma janela que exibiria uma paisagem noturna, se não fosse pela persiana recém-instalada. Tiffany era o único ser humano enquadrado cujos olhos desapareciam em um sorriso, como pose; isso porque havia um projeto de gente de quase dois aninhos de idade, nos braços da Hwang, e que a observava como se a qualquer momento pudesse lhe acertar com um soco na cara.

Cara de brava. Karina havia saído na foto com a maior cara de brava.

- Ficou bonitinha, olha só. – Seulgi, com o mesmo sorriso de trouxa, se aproximou de Tiffany para lhe mostrar a tela do celular. Ainda com o bebê no colo, Tiffany apenas desviou o olhar para a tela do aparelho. O riso da Hwang foi imediato. Isso até Tiffany erguer a neta – a bichinha era pesadinha, viu? –, como forma de forçá-la a lhe olhar de volta.

- Por quê tu me encarou daquele jeito?! – Sim, Tiffany afrontou uma criança quarenta e seis anos mais nova do que ela. E tudo o que neném fez, de volta, foi encará-la em silêncio. Karina já não parecia pistola, pelo menos, mas era com cara de paisagem que encarava a nova avó. – Sua sorte é que você é muito fofa, não consigo nem ficar ofendida.

Rindo da pseudodiscussão familiar, Seulgi caminhou até próximo do sofá – este não era recém-nada; trazido do antigo apartamento, Seulgi queria trocar logo aquele sofá -, para entregar o telefone para sua respectiva dona. Irene Bae. Que, como de costume, ocupava o assento do meio. Irene que, quando pegou o celular e viu o resultado da fotografia, não teve uma reação muito diferente da mãe. Só foi um riso que escapou com mais baba. Irene e aquela mania dela de rir alto e depois sugar toda a saliva de volta para o fundo da boca.

- Ficou boa, não ficou? – Seulgi perguntou, com as mãos na cintura. Irene ficou sem saber se a exaustão a impediu de discordar ou se de fato houve motivo para sentir orgulho daquela obra de arte, mas confirmou com a cabeça, no final.

- Eu vou mandar pra senhora. – Irene avisou para Tiffany, que assentiu de volta para a filha, antes de ajeitar a neta nos braços. Ainda não era exatamente com a cara da felicidade que Karina lhe observava.

- Olha a cara da desconfiada pra mim, como quem diz: "vocês me largam aqui com essa doida e só ficam olhando"? – Tiffany ainda tentou apelar para umas cosquinhas no buchinho avantajado do neném. Adiantou de nada. A menina mal piscou. Karina.jpeg. – Por que eu te vi toda faladeira com elas no carro e comigo cê nem responde? Tu quer a Rene e a Seulgi, né? Eu sei que tu quer. Mas é bom tu acostumar com o cheirinho da vovó, pois é com essa doida que tu vai ter que conviver daqui pra frente. Essa e o resto do hospício que provavelmente vai querer vir te ver essa semana. É. É, sim. Não adianta ficar se fazendo de difícil.

E, não, Karina mal e mal havia mexido os olhos, imagina a boca. Tiffany estava apenas a ter o maior monólogo, mesmo.

- Ela é assim, mesmo, enquanto ainda tá estranhando. Fez igualzinho com a gente, das primeiras vezes. – Seulgi foi quem começou. - Ela não faz escândalo de choro, mas fica encarando com essa cara de "te conheço?", mudinha, só observando o que tá acontecendo. – E foi só Seulgi voltar a se aproximar de Tiffany que Karina enfim mexeu a cabeça, à procura da Kang. Tiffany fez bico. A rejeição... a rejeição, quando ela vem de criança, é capaz de abalar qualquer autoestima. Até de uma leonina.

Eis que os filhos são herança do Senhor!Where stories live. Discover now