Para que vocês prosperem em tudo o que fizerem.

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Uma oportunidade de ouro caiu do céu na quinta-feira da semana seguinte. Vinte e três de abril. O que levou Karina Bae a se perguntar se aquele era um dia instituído por Deus para trazer alegria aos gays. É que, como Karina havia sido lembrada logo cedo por uma Seulgi sendo extremamente disposta a distribuir abraços – com o claro objetivo de importunar Irene, obviamente, que estava quase para trancar a cônjuge na área de serviço junto com Jujuba, para que também não enchesse o saco dos outros na hora do café da manhã -, era aniversário de casamento das mães. E a professora de Geografia presenteara Karina com uma oportunidade de trabalho em grupo, fazendo o dia da nem tão pequena Bae logo às sete da manhã!

Não que Karina tivesse intenções escusas por trás disso, Deus o livre! É que, como gay, Karina se sentia contemplada, também. Com um motivo para ser feliz. Não comemorava aniversário de relacionamento com ninguém, mas seria uma baita oportunidade para avançar no sentido de fazer a amizade que tanto queria. E era importante, fazer amizades. Tanto quanto são aniversários de casamento. Ou pelo menos era, se levada em conta a idade que Karina tinha. Karina não conseguia imaginar motivos felizes para ter que se casar aos dezoito.

Exceto por heterossexuais que juravam fazer aquilo por pura e espontânea vontade. Mas Karina também não entendia direito como heterossexuais funcionavam. Por falta de um convívio mais íntimo com aquela gente. O mais próximo disso eram seus avós, pela parte da Kang, e Jennie Kim. Porque Tiffany era uma avó meio exótica, e Joyce, a hetero mais "do vale" que Karina conhecia. Ah, e Ningning tinha jeito de ser hétero, também. Do tipo que se diz aberta a experiências, mas só que só tinha pego macho, até então. O típico estereótipo da artista, de humanas, cheia de boas vibrações.

Mas Karina não estava ali para impor ou invalidar a sexualidade de ninguém. Ainda mais quando aquele argumento poderia sair pela culatra e lhe atingir, bem certeiro. Ainda mais quando um momento tão feliz quanto aquele ocorria diante de seus olhos. Quem fica feliz com proposta de trabalho, numa quinta, às sete da manhã? Karina Bae. Se não ficou claro, era contendo um sorriso que Karina observava Vivian Ning e Winter Kim a levantarem de seus lugares para vir sentar com ela e Giselle, aos fundos, para discutir o tema que havia acabado de ser proposto pela professora.

- E então, como a gente vai fazer isso? – Vivian Ning perguntou. Foi a mais rápida em arrastar uma carteira para perto de Karina e Giselle. Winter Kim ainda fazia o mesmo com um pouquinho mais de dificuldade. E não, não era uma carteira pesada, de madeira. Era plástico, Winter só vinha se mostrando ser meio franguinho.

- Vamos começar escolhendo o país? A professora disse que vai sortear, pra quem não resolver isso em três minutos, e a cretina tá cronometrando... – Giselle advertiu em um sussurro ao lançar um olhar discreto para a mulher à mesa do professor. Encarava o próprio aparelho celular, com um cronometro certamente ligado, para o desespero geral da classe. – Antes que ela sorteie pra gente, sei lá... Tonga.

- E isso existe? – Vivian perguntou e Giselle confirmou com a cabeça. – Pensei que isso era só modelo de roupa de praia.

- Isso é tanga. – Karina corrigiu, para o divertimento de Giselle, que nem disfarço risada, e compreensão da Ning, que balançou a cabeça, boquiaberta.

- Tonga fica na Oceania. Pacífico Sul. Mais ou menos entre Fiji e as Ilhas Cook. – Winter já estava sentada e, sem entender, ficou a entreolhar as outras três, que a encaravam como se tivessem ouvido um grande absurdo. – Que? Eu gosto dessas coisas. Política internacional e ficar decorando coisa em mapa. Eu só não lembro a capital, mas termina com algo tipo olofa, alofa... ou –

- Tem doido pra tudo, realmente, mas, lembra, a gente tem três minutos, e eu não quero falar como representante da política ambiental de Olofa. – Vivian Ning interrompeu, para o descontentamento de Winter, que pareceu ofendida e entristecida ao mesmo tempo. Era engraçadinho. E fofinho. Karina teve que suprimir o riso para se pôr a pensar. De alguma forma, girar um lápis entre os dedos parecia ajudar no raciocínio.

Eis que os filhos são herança do Senhor!Where stories live. Discover now