E amarás o teu próximo como a ti mesmo.

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Mais meia dúzia de carros passaram pela Epitácio Pessoa e nenhum acionou a buzina. Winter Kim ainda esperou e esperou. Com os joelhos no assento do sofá, observou o quintal através janela da sala. Uns trinta segundos. Foi o suficiente para constatar que o dia estava meio feio, meio nublado, mas sem sinal de chuva.

Tempo suficiente para Winter Kim desistir e voltar a se sentar mais uma vez.

- Quem vem hoje, é a mocinha do cabelo tingido?

Winter tirou de vez os olhos da janela e voltou a atenção para a sala. A avó sentava no sofá maior, do lado oposto. Pintava uns panos de prato enquanto se distraía com um desses entretenimentos de sábado do Sistema Brasileiro de Televisão. Aquele canal que ninguém com menos de sessenta anos de idade assiste.

- Não, não é a Ningning. É a Karina. Aquela que as mães deram carona pra gente.

Mais meia dúzia de carros passaram pela rua. Winter olhou para trás.

- Ah, tá. Aquela menininha comprida. – Winter ouviu a vó dizer, mas foi só isso. Sem buzinas, de novo. – Falando em cabelo tingido, a senhorita tem que dar um jeito o seu, viu? Olha só como tá, todo desbotado.

- É que eu vou deixar crescer. – Winter pegou o celular do assento ao lado, no sofá, e verificou as horas. Duas e dez. Karina tinha dito que viria às duas.

- Vai deixar crescer, é? Mas tá tão bonitinho assim, curtinho... – Sem prestar muita atenção na reação da avó, Winter apenas assentiu. – Tá, mas e essa franja, caindo no olho, vai deixar assim? Tá parecendo aqueles cachorrinhos de dondoca. Pelo menos a franja você tem que aparar.

Winter não estava parecendo cachorro de madame. Pegou o celular do sofá outra vez, mas, desta, para checar o reflexo de seu rosto na tela desligada. Sua franja estava meio grande, sim, mas não era tanto quanto sua avó havia dito. Exagerada. A franja só estava meio fora de lugar, então Winter ajeitou. Passou os dedos entre os fios, deu uma balançadinha e buzina.

Winter tacou o celular no sofá e saiu correndo.

Seu caos só não foi maior do que o mini poodle fazia ao latir para o portão. Latia tão forte que suas patinhas quase saltavam do chão.

- Calma, neném. Mamãe vai abrir o portão.

Winter pegou o seu filho no colo. Era pequeno o suficiente para Winter conseguir segurá-lo com uma mão e destrancar o portão com a outra. Karina já estava ali, do outro lado quando Winter o abriu. A Kim cumprimentou a Bae de volta, com um igual sorriso. O doguinho, com um latido.

- E aí, beleza? – Winter ficou confusa quando Karina lhe cumprimentou com um sorriso tenso e o punho estendido em sua direção. Haviam regredido aos cumprimentos de brother? Giselle e Ningning não estavam ali. E os beijinhos na sua bochecha?

A Kim demorou um segundo para entender. E outro para ver o sedan estacionado em frente à sua casa.

- Tudo bem, e você? – Winter completou o cumprimento ao fechar o punho e trocar um soquinho com a Bae, finalmente. Depois acenou para o carro. Viu mais Seulgi, à janela do carona. Para conseguir enxergar Irene, Winter teve que se curvar um pouquinho para frente. Ato esse que chamou a atenção de Karina para o que acontecia atrás de si. Para o carro que continuava ali. - Suas mães vão querer entrar?

- Ah, não, não vão, não. Elas tão indo dar uma volta no shopping. Fica pra próxima. – Karina acenou para o próprio carro e como, depois disso, Irene não deu nem sinal de ter pisado no acelerador, Karina foi mais enfática. Gesticulou com os dois braços para que as mães se mandassem logo. Que nem um flanelinha. Só que mais desesperada.

Eis que os filhos são herança do Senhor!Where stories live. Discover now