Prólogo

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REVISADO.


Eu corria rapidamente sentindo os galhos quebrarem em meus ombros e rosto, mas nada que de fato fosse novo nas minhas caças. A brisa fria batia contra meus dentes cerrados e meus olhos conseguiam observar todo e qualquer movimento ao meu redor. Meu olfato já estava aguçado a procura de uma presa fácil  me saciasse. Momentaneamente no caso, já que eu nunca estaria completamente satisfeito.

Avistei um cervo entre os arbustos da floresta comendo algo que não identifiquei, me abaixei e esperei o momento propício para atacar, semelhante a um leão aguardando para abocanhar sua presa. Ele estava distraído, disperso, mal sabia ele que a poucos metros estaria a causa do fim de sua vida insignificante.

Fiz um barulho entre as árvores e arbustos para que ele ficasse em alerta e seu sangue corresse mais rápido pelas suas veias. Se havia algo que deixava o gosto do sangue um tanto mais saboroso, era o medo e a adrenalina.

Quando saiu de seu pequeno transe em busca do provocador dos barulhos, voltou a comer, saltei dentre a mata e cravei meus dentes na curvatura de seu pescoço, já liberando o veneno para que acelerasse sua morte e ele não tentasse sair do aperto da minha boca. Diferente do que muitos pensam,  nós não possuímos caninos superiores maiores ou pontiagudos, nunca precisamos dessas baboseiras para causar um bom estrago. Senti o gosto amargo do sangue do animal em minha língua, já ficando mais aliviado em poder apreciar o sabor de ferrugem refrescante no meu paladar.

De fato sangue de animal não era capaz de me satisfazer por completo, conseguia me sentir cheio, mas nunca saciado. O único sangue que saciaria a sede da minha alma --se é que eu tenho uma-- é o sangue humano. Sentir o gosto delicioso dos glóbulos vermelhos ao redor da minha boca, sugar até que a última gota não esteja mais presente no corpo da vítima era a única maneira de me saciar por completo.

Já fazem mais de noventa e quatro anos que não mordo um humano. Longos anos tendo que caçar animais para suprir a necessidade incontrolável de morder alguém. No começo da minha "vida" como um vampiro não ligava para os humanos, para mim eram uma raça imunda que merecia morrer. Nos primeiros meses da minha transformação sentia um desejo por sangue humano indescritível ,todas as noites fazia no mínimo 7 vítimas e para não levantar suspeitas fazia isso de cidade em cidade, eu sou uma verdadeira máquina de matar.

Minha transformação aconteceu em 1926, a noventa e cinco anos atrás. Houve um massacre na minha escola onde um homem louco chegou lá e matou todos os alunos do instituto e após isso tirou sua própria vida. Eu estava sangrando e morrendo lentamente quando minha vista turva identificou meu único amigo em cima mim pedindo perdão várias vezes, não estava entendendo nada nem sabia como ele havia conseguido escapar ileso da onda de matança que aquele homem havia causado, mas então senti uma dor aguda no meu pescoço e percebi que meu melhor amigo havia me mordido, sim meu melhor amigo era um vampiro.

Por um momento me senti morrer e se for para ser honesto, preferia ter morrido. Sinto falta de quando não precisava tirar nenhuma vida para sobreviver, de quando comidas e bebidas comuns me saciavam, de quando dormia, de quando sentia medo, de quando sentia alegria ou de quando conseguia sentir qualquer coisa que seja. Hoje coloco a mão onde um dia meu coração já bateu e não ouço nada além de um grande vazio, que representa bem oque sou, um ser sem alma e sem coração.

Mas após essa sensação de que estava sem vida, senti todos os meus órgãos queimando, e queimava como se estivessem pondo fogo dentro de mim. Eu gritava, me debatia, acho que nunca senti tanta dor em toda minha vida, e então eu desmaiei. Quando despertei estava na cama do meu amigo, mas me sentia estranho porquê não sentia necessidade de respirar, parecia que o sentido do tato havia sido desligado do meu sistema nervoso, não sentia nem necessidade de piscar! Resumindo, não conseguia sentir mais nada. Meu melhor amigo me explicou tudo oque aconteceu. Ele disse que não poderia me ver partir já que eu havia me tornado seu único amigo. Sua família --que hoje é minha família-- me acolheu como se de fato fosse um deles.

Blood Type [L.S] EM REVISÃOWhere stories live. Discover now