𝐀 𝐂𝐨𝐮𝐫𝐭 𝐨𝐟 𝐖𝐢𝐥𝐝𝐞𝐬𝐭 𝐃𝐫𝐞𝐚𝐦𝐬 | Eris Vanserra

+ Ilyria +

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Seus pés descalços afundavam na lama fria da floresta ao redor do acampamento. Eles estavam vindo atrás dela novamente, mas dessa vez, estavam vindo para matá-la. Os machos daquele lugar a odiavam, com um sentimento tão profundo e sem fundamento que, Velarie jamais compreenderia. Eles já tinham a encurralado uma vez, fazendo miséria com a jovem de apenas dezessete anos. Cortaram seus cabelos de forma desgrenhada e fizeram rasgos profundos em suas asas. Era uma represália, todos sabiam, apesar de ser uma atitude burra torturar a filha do próprio Grão Senhor.

Velarie não sabia ao certo o destino de cada um que estava envolvido na atrocidade daquela noite, entretanto, sabia que seu pai e seus tios fizeram algo a respeito durante os dias em que ela permaneceu desacordada pela dor. Mas, veja, lá estavam eles, a perseguindo novamente. Vivos, muito vivos.

Tudo porque uma minoria ainda acreditava que fêmeas não foram feitas pra lutar. "Destruiu meu lar, minha esposa me abandonou para ter lições sob o ringue" - Eram uma das coisas que diziam. Pois, é muito difícil fazer comida, limpar a casa e lavar suas próprias cuecas, eles precisam de fêmeas pra isso. E agora, ela estava pagando, pela segunda vez, por concordar e trabalhar diretamente para que a independência das fêmeas em Ilyria fosse uma realidade.

Velarie pisou em um galho solto na lama, a fazendo escorregar. Exatamente como ocorreu na primeira vez. Eles se aproximaram, segurando cada membro dela com firmeza. Ela se negou em pedir ajuda mentalmente. Tinha aprendido a lidar com situações como essas, era forte, ela poderia apenas... Mas eram muitos. E entravam cada vez mais na mata enquanto ela se debatia.

Velarie finalmente se rendeu, ela pediria ajuda. Não poderia deixar que chegasse tão longe, como da outra vez, quando a largaram sangrando pra morrer. Porém, ela estava nervosa, não conseguia acessar seus poderes, muito menos os canais de comunicação com seus pais ou irmãos. Então, ela aceitou seu destino, orgulhosa de seus feitos e crenças, de todas as fêmeas que ela treinou e ajudou, mesmo sendo tão jovem.

- Voltarei para pegá-los. - Ela disse sorrindo. Os dentes transbordando sangue pelos socos que levou na boca.

Um grande machado vermelho, seu próprio machado, se ergueu no ar, e ela olhou o objeto descer com força e rapidez em direção ao meio de sua testa.

- Velarie? - Ela ouviu a voz calma de seu pai, mas não quis abrir os olhos. Dedos penteavam seus fios lisos e negros com carinho. - Velarie, querida, abra os olhos. - Ele sussurrou. Com os olhos mais fechados ainda, ela apertou o lençol entre os dedos e negou com a cabeça. Rhysand riu levemente, passando a palma de sua mão nas costas da filha. - Vou te levar à um lugar hoje.

A jovem finalmente abriu os olhos, tão curiosa que seu pai teve que rir mais um pouco. Ela sorriu preguiçosamente e se contorceu na cama, abrindo os braços ao se espreguiçar. - Onde? - Ela perguntou com rouquidão, a boca seca. Seu corpo ainda tremia levemente pelo pesadelo, mas ela já tinha aprendido a lidar com isso, há muito tempo.

- Vai descobrir depois do café, que tal? - Era um convite pra levantar, e foi o que fez.

Enquanto tomava banho, Velarie brincou com as chamas em seus dedos, que não se apagavam mesmo debaixo d'água, causando bolhas de fervura na superfície. Esse foi um dos poderes mais difíceis de conter quando mais nova. Na verdade, foi o motivo de ter sido mandada para o acampamento tão cedo, aos quatorze. Quer dizer, sua prima, Alina, morou em uma cabana com os pais por três anos, até o Rito. O mesmo foi para seu irmão, Nyx, e seu primo, Zion. Só que seu temperamento era diferente quando mais nova, ela tinha míni explosões de mau humor aqui e alí, quebrava coisas, amaldiçoava pessoas; principalmente sua professora de astronomia avançada.