+ Outonal +

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🌘🔥


Estávamos próximos do verão, mas aquela Corte ainda possuía ventos frios vindo do norte. Eu tremi enquanto admirava as folhas vermelhas e amarelas das árvores, me perguntando se elas eram assim, imutáveis, durante as estações do ano.

- Estamos perto da fronteira com a Invernal. Se for naquela direção, estará mais próxima do que procura. - Meu pai disse, indicando com os dedos para meu lado direito. Eu sabia disso, mas achava adorável a forma que ele continuava a me ensinar as coisas mesmo depois de crescida.

Continuamos andando e conversando sobre a semana, sua mão segurava a minha com delicadeza. Meu pai tinha me levado até a Corte Outonal para que eu explorasse uma parte do território. Quando mais nova, eu passava parte do dia estudando e lendo livros sobre animais, plantas e astrologia. Tive acesso a livros que as outras crianças da minha idade não tinham, pois, A Casa, adorava me mimar com eles, os fazendo aparecer em minha frente assim que eu pisava no lugar. Eu gostava de estudar sobre aquelas coisas, e descobrir animais e plantas específicas que só existiam em algumas Cortes.

- Vou estar em uma reunião com o Grão Senhor da Outonal. Tente não se perder ou arrumar briga, certo? - Ele disse parando ao fim da floresta, no início de uma estrada de terra, apertando um dos meus ombros. Eu sorri maldosa e ele estreitou os olhos, não conseguindo esconder o divertimento. - Vá, antes que eu mude de ideia e te leve pra ouvir sobre política e acordos.

Eu prontamente me virei saindo. Não que eu odiasse política, eu gostava e sabia até demais. Mas, a parte chata não era pra mim. Iria existir falsidade e troca de farpas naquela reunião, e por mais que eu gostasse de uma boa briga passivo agressiva, simplesmente não tinha acordado para isso.

Conforme eu caminhava para o leste, a temperatura aumentava. Alí fazia divisa com a Corte Estival, eu logo notei. Então, parei sobre a sombra de uma grande macieira. Eu estava suando e o couro não parecia ajudar. O tecido grosso e que imitava escamas em algumas partes, era preto, e possuía um dos ombros e braços em carmim, indicando, além de meu serviço ao exército ilyriano, minha presença na comunidade Valquíria, que usava o couro completamente vermelho. A roupa estava me abafando, mas eu percebi não ser apenas isso, eu estava ansiosa. Algo sobre aquele lugar estava estranho, acelerava minha respiração e ritmo cardíaco. Um pequeno incômodo no alto de meu abdômen surgiu.

Então eu ouvi, justamente o que eu estava procurando. O som do canto de um pássaro adentrou os meus ouvidos, lindamente. O animal parecia seguir um ritmo, imitando outro passarinho de sua espécie... Não, era um assobio.

Eu me encostei mais ao tronco da árvore e ouvi atentamente, enquanto a pessoa se aproximava. Bati contra meu sifão prateado no peito, o único em todo o exército ilyriano. Meus dedos escorregaram para a lateral de minha cintura, se fechando ao redor do cabo de minha adaga. Eu estava sendo dramática, provavelmente. Aquele era um território ao qual eu desconhecia e o assobio poderia pertencer a qualquer morador local. Mas esse incômodo... Estava me deixando em alerta.

O pássaro continuou cantando, imitando cada assobio que a pessoa produzia. Parecia magia, eu estava encantada. Nunca tinha presenciado tal coisa, esse animal não existia em outros lugares em que estive.

Os passos cessaram ao meu lado. Então, olhei para o macho alto e ruivo que me olhava com estranheza. Seus olhos percorreram minhas roupas e armas. A mão pálida segurou firmemente uma faca afivelada ao lado da coxa. Nos encaramos por quase um minuto inteiro. Seu rosto tinha traços delicados e uma pequena cicatriz na maçã do rosto. Sardas enfeitavam seu nariz reto e bochechas. Os cabelos, de um vermelho carmim intenso e fios rebeldes, moldavam sua cabeça e pescoço, dando um ar de loucura ao mesmo. Uma capa verde estava pendurada em seus ombros, presa por um broche dourado com o símbolo outonal: um círculo de folhas secas que se transformavam em chamas. Atravessado em suas costas, estava um instrumento de madeira claro, que parecia uma meia pera em seu formato.

𝐀 𝐂𝐨𝐮𝐫𝐭 𝐨𝐟 𝐖𝐢𝐥𝐝𝐞𝐬𝐭 𝐃𝐫𝐞𝐚𝐦𝐬 | Eris Vanserra Onde as histórias ganham vida. Descobre agora