Olhei pela vidraça de um dos quartos da casa do vento, a noite já tinha caído e a festa, iniciado. O grande pátio descoberto estava enfeitado e repleto de convidados, que em suas presenças ilustres, eram Grão Senhores. Eu me afastei do vidro, admirando meu reflexo quase inexistente no brilho do material transparente. Eu me sentia mais como uma vitrine, exibindo todas aquelas jóias e coisas brilhantes.
Andando pelo corredor, eu joguei pra trás meus fios lisos e brilhosos, ajeitando minha coroa, com três estrelas em diamantes, uma última vez. Do alto da escada de acesso ao pátio eu já podia sentir os olhares em mim, e eu não podia me importar menos. Todos naquele lugar eram previsíveis, com seus elogios e sorrisos de admiração, como se seus olhares realmente fossem surpresos com a minha aparência ou simples presença.
Mas não me levem à mal, sempre amei festas como essa. Porém, esta noite, eu apenas não estava muito... paciente. Talvez, até mesmo incomodada. É claro, ainda tinha o fator Morrigan e todo seu silêncio nos últimos dias. Eu me sentia mal, era verdade. Parecia que eu era uma intrusa, a única pessoa a não ter que subir aqui nesta noite. Está só em sua cabeça, eu repetia sem parar, sem nunca conseguir me desvincular da sensação.
Levantei o canto dos lábios para meu pai, que sorriu de volta, com algum tipo de brilho no olhar. Suas vestes brancas e prateadas, combinavam perfeitamente com a de minha mãe, assim como o mar de trajes claros do lugar. Eu não sei como ou porquê, mas tinha virado tradição usar roupas claras, completamente brancas, ou que remetessem as estrelas cintilantes que caíam. É claro, haviam exceções, como as roupas pretas de meus tios.
Em passos leves e lentos, cheguei até meus pais, que tinham como companhia Thesan, com seu parceiro e general alado, e sua filha, Meywen. Todos eles usavam um tom terroso leve, um marrom alaranjado quem me remetia ao pôr do sol. E Meymey, como de praste, não usava um vestido; não por sua cultura, mas sim, apenas porque não gostava. Ela usava um conjunto de colete e calça de alfaiataria fina, que se ajustava perfeitamente ao seu corpo alto e magro. Além do tecido ser lindo, tendo fios dourados em sua costura, fazendo a roupa mudar de cor dependendo do ângulo que se era visto. Ela sempre era tão elegante, mesmo estando simples.
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Pisquei um dos olhos para ela após cumprimentar seus pais. Ela levantou uma das sobrancelhas, evitando sorrir. Eu sempre achava divertida a forma como nos tornamos personagens nesses eventos; sempre sérios, educados e centrados. Pro inferno. Pendi levemente a cabeça e entortei o nariz por um segundo, me perguntando onde estavam seus óculos.
- Me encontre perto da sacada. Traga Noeli, se conseguir encontrá-la. - A jovem sussurrou para mim, de forma sutil, ao seguir seus pais pra longe.
- Você era desse tamanho. - Escutei meu pai sussurrar e me virei para ver seu gesto com as mãos, indicando uma proporção irreal para um bebê. Eu ri soprado e genuinamente.
