O primeiro e o único jantar

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  - O evento foi ontem e hoje você está por todo lugar, Vogue, Times, GQ, todos estão falando do seu vestido de ontem. - Breno, meu assistente pessoal, falava enquanto eu e Mitch estávamos no closet analisando as opções que eu iria vestir no jantar com Hamilton essa noite.
- Não sei Mit, esse Versace está bonito e o azul combina comigo, mas me dá um ar de menina e quero uma coisa mais mulherão. - falei para o meu stylist. - é noite em Nova York, vamos ao Beauty & Essex, acho que um look all black ou um off white ficaria melhor.
- O cara sabe de moda então ele deve está bem elegante. Acho que esse look que compramos depois de ver na NYFW ficaria ótimo. - Mitch diz mostrando o look.

 - Vai ser esse! Estou olhando aqui as opções de maquiagem e o cabelo, daqui a pouco eu me visto

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- Vai ser esse! Estou olhando aqui as opções de maquiagem e o cabelo, daqui a pouco eu me visto. O sapato eu quero branco e aberto, então dê uma olhada ali e escolha por mim. - disse indo em direção ao banheiro.
  - Mel, eu e sua avó estamos indo ao parque caminhar, quer que eu traga algo para vocês comerem? - minha mãe disse chegando na porta do quarto.
  - Eu tenho um encontro daqui a umas horas então não pretendo comer nada. Vocês querem algo garotos? - perguntei ao meus dois ajudantes e eles indicaram que não.
  - Você tem um encontro? Quem? Não fiquei sabendo de nada. - despertei a curiosidade da minha mãe que já foi logo entrando no quarto para saber mais.
  - Quem tem um encontro? - minha avó apareceu na porta ouvindo a conversa.
  - Melissa tem um encontro hoje e não nos disse nada. - minha mãe disse em tom de desaprovação.
  - Quem vê vocês falando assim nem acredita que eu seja uma mulher de 30 anos. - disse rindo. - Ontem no met gala conversei com um cara, ele é piloto da fórmula 1, ele me chamou para um jantar e cá estou eu me arrumando para ir.
  - Lewis Hamilton, conhece? - Breno entregou os detalhes que eu não constatei para as duas fofoqueiras.
- Não sei sobre essas coisas, então deixa eu ver uma foto. - minha mãe já foi indicando a mão para meu assistente bocudo que a entregou o celular dele mostrando uma foto retirado do Google imagens. - Oh, ele é gostosão, mas parece bem mais velho, não? - ela falou e minha avó veio logo conferir.
  - Melhor do que aquele cara de drogado que ela namorou. - minha avó comentou tomando o celular da mão da minha mãe.
  - Nem vamos entrar nesse assunto. - falei indo para o banheiro novamente.
  - Ah minha filha, divirta-se, mas cuidado com o coração, você sabe bem que essas celebridades não levam nada a sério. - minha mãe falou chegando na porta do banheiro.
  - Eu sou uma dessas celebridades mãe. - falei rindo. - eu também não levo nada a sério.
- Quem não te conhece que te compre. - ela falou saindo.
   Eu gostava de ter minha família por perto, durante meus 6 anos tentando me estabelecer em Hollywood e meus 4 anos de estudos no Rio de Janeiro estive muito sozinha, por mais que minha mãe estivesse sempre a um telefonema de distância, muitas vezes eu só queria ver ela pessoalmente e ter um abraço.
   Depois que eu passei por um vendaval na minha carreira e mudei radicalmente meu direcionamento na indústria cinematográfica, consegui um dinheiro para comprar essa casa em NY para minha irmã vir estudar e minha mãe decidiu acompanhar, minha avó não ficou para trás.
   Eu morava em Los Angeles em uma casa que dividia com duas amigas, para mim o mais importante era garantir um lugar para minha mãe, então minha casa em LA iria esperar por mais um tempo, mas boa parte do ano eu estava aqui em Nova York com elas.
   Depois de duas horas e meia me arrumando, eu estava pronta para meu encontro, ainda tinha mais uma hora e meia antes do horário que ele combinou pela mensagem que me mandou hoje cedo.
  - Gata você está demais. Vamos fazer umas fotos? - meu assistente entrou no meu quarto dando uma conferida na nossa produção final.
  Fizemos algumas fotos para encaminhar para meu assistente de mídias e decidi sair, afinal o restaurante era em Manhattan e eu levaria um bom tempo para chegar lá com o trânsito nesse horário.
  Não era minha primeira vez indo nesse restaurante, já tinha ido várias vezes na franquia de Los Angeles e algumas nesse de Nova York, gostava do ambiente agitado, mas ao mesmo tempo sofisticado, a faixada simples e o interior fantástico deixa um contraste intrigante e surpreendente.
  Falei o meu nome e me encaminharam até uma sala privativa, não me surpreendi, os encontros que já tive nunca gostavam da exposição e a intromissão de um jantar em espaço aberto, apesar de eu ser o tipo de pessoa que prefere a bagunça do que o silêncio.
   - Oi, parece que você chegou antes mesmo do horário. - eu disse ao entrar e me deparar com Hamilton já sentado à mesa.
  - Talvez eu esteja ansioso. - ele disse sorrindo e se levantando para arrastar uma cadeira para mim. - Mas fico feliz em saber que você é pontual.
  - Não conseguiria nenhum papel em Hollywood se não cumprisse horários. - falei tentando disfarçar meu nervosismo.
    O primeiro encontro era igual um teste para uma peça, você já pode ter feito milhares de testes antes, mas você sempre vai ficar nervoso com a possibilidade de não fazer o suficiente para ir bem naquele.
    Depois de fazer nossos pedidos me senti na obrigação de puxar um assunto para não manter um clima estranho.
   - Andei fazendo meu dever de casa e descobri que você é amigo de alguns atletas do meu país. - falei dando um gole no meu vinho.
  - Ah sim, eu conheço o Neymar a alguns anos e atualmente mantenho contato com o Medina. Você os conhece? - ele embarcou na minha conversa furada.
  - Querendo ou não todos nós que viemos de lá acabamos nos esbarrando em algum momento aqui fora, mas não diria que somos amigos. - respondi gerando uma ruga de questionamento nele. - Nada contra, apenas nada a favor. - respondi o que senti que ele estava se questionando e acabei arrancando um risada dele.
   - E tem algo a meu favor? - eu sabia que ele iria dizer isso, homens, sempre previsíveis.
   - Claro, eu adoro quem gosta de alfinetar uma alta sociedade elitista.
   - Bem, se é assim que você enxerga. - ele disse sorrindo.
  Olhei ao redor procurando outro tópico para conversa.
  - Gosto desse lugar, mas não tinha vindo as salas privativas, vim com minhas amigas para jantarmos na área comum, achei o ambiente bem agradável. - eu disse me referindo ao restaurante.
  - Eu adoro as opções vegana que eles oferecem no cardápio, então sempre que venho a Nova York com tempo de sobra eu gosto de vir aqui. - ele disse enquanto nossas entradas eram servidas. - obrigado. - ele disse dessa vez se dirigindo ao garçom que servia nossos pratos.
  - Ainda bem que viemos a um restaurante e não eu que preparei o jantar, perdi a parte das notícias que falavam sobre a sua vida vegana. - disse petiscando meu salmão.
  - Faz alguns anos que me tornei vegano, até mesmo meu cachorro é vegano. - ele disse sorrindo.
  - Já eu sou uma pessoa fascinada por carnes, fui criada fazendo churrascos todos os domingos com muita carne envolvida, e hoje sou proprietária de uma rede de fornecimento de carnes no Brasil. Acho incrível a iniciativa do estilo de vida vegano, porém ainda permaneço na porcentagem que não evoluiu para isso.
  - Se você me falasse apenas que não era vegana não me surpreenderia tanto quanto saber que você é fornecedora de carne para um país. - ele disse em um tom humorado mas eu não perdi o sarcasmo que emanava do pronunciamento.
  - Não somos uma empresa grande, tenho apenas uma fazenda no interior de Minas onde cuidamos de alguns gados.
  - Bom, cada um tem o estilo de vida que quer, não posso impor minha opção para você. - ele disse em um tom gélido.
  - Apesar de não optar em prol dos animais, pelo menos utilizo esse mercado em prol de trabalhos comunitários.  - tentei aliviar um pouco minha barra. - Espero não ter deixado essa conversa desconfortável.
  - Não, em hipótese alguma, conversar sobre opiniões diferentes não significa que um esteja certo e o outro errado, apenas que um tem uma escolha diferente que o outro. Minha família não é vegana e nem por isso eles são uns idiotas ao meu olhar. - ele disse rindo e eu me senti uma criança sendo consolada por uma professora depois de bater no coleguinha e ficar de castigo. - Fico feliz que acertei no restaurante e você pode escolher a sua opção mais confortável. - o cara era legal, o que me fazia sentir meio idiota, mas vida que segue, vamos mudar para um papo mais leve.
   - Como fazer nossas conversas não parecerem uma entrevista? Quer dizer eu posso perguntar como é a vida viajando constantemente, e você pode me responder como se estivesse em uma entrevista, mas não acho que isso pareça sexy. - disse e ele riu.
  - Da mesma forma que eu posso te perguntar como foi a preparação para o seu último filme e você pode me responder como se estivesse no Jimmy Kimmel. - dessa vez foi eu que ri da situação e estava sentindo que o clima estava melhor.
   Conversamos por mais algumas horas sobre coisas engraçadas da nossa vida de celebridade e trocamos ideias sobre pontos políticos que nós concordávamos ou descordávamos, ele não parecia ser arrogante ou convencido, mas sentia que ele esquivava sempre que perguntava sobre algo de sua vida pessoal ou amorosa, assim me exímia de falar qualquer coisa sobre a minha também, afinal, mantenha casual.
   Meu telefone tocou interrompendo nossas sobremesa.
  - Desculpe, eu preciso atender. - disse me levantando após ver que a ligação era da minha mãe. - oi mãe, algo errado?
  - Errado não está, mas certo também não me parece, sua avó está com uma respiração muito irregular, eu quero levá-la ao médico mas ela insiste que não precisa de ajuda, disse que se sente bem e que se for para morrer vai ser vontade de Deus. - minha mãe disse.
  - De novo esse papo de morrer, toda vez que ela está se sentindo mal ela fala isso. Estou indo embora, vou ligar para o Dr. Edward e pedir para ele consultá-la chego logo para conversar com ela. - falei encerrando a conversa.
  Eu teria que ir embora antes mesmo de ele me convidar para irmos para outro lugar, então meu planejamento não havia saído como eu gostaria, mas eu sei que minha avó é teimosa o suficiente para não deixar o médico analisa-lá e apenas eu dou volta naquela cabeça dura.
    - Sinto muito, tenho uma emergência familiar, tenho que ir agora. - disse retornando a mesa. - podemos fechar a conta?
  - Pode ir, eu cuido disso. - ele disse se referindo a pagar o jantar.
  - Eu insisto em pagar a minha parte.
- Bem, eu sou britânico e não posso aceitar que alguém pague um jantar que eu propus. - ele disse sorrindo.
- Bem eu sou mulher brasileira e posso muito bem pagar minha conta, então vamos nos abster de uma briga. - eu disse seria mas ele riu, acho que o cara viu que não conseguiria dar a volta em mim.
  A verdade é que não ligo que paguem minha conta, afinal mais dinheiro para mim e de barriga cheia ainda, mas não quero que ele ache que eu vim, comi e estou fugindo antes de pagar.
   - Vou sair primeiro e você pode sair logo depois para que não se crie um burburinho. - disse supondo que ele não gostaria de ser visto saindo junto já que pediu uma sala privativa.
   - Tudo bem.
   - Quando vir a Los Angeles me avise, você tem meu número, podemos marcar um jantar na minha casa e farei bons pratos veganos para você. - disse a ele após me despedir.
  - Claro, eu mantenho contato. - ele disse e na hora já sabia que aquele seria nosso único jantar, já ouvi muitos "mantenho contato" para entender o que aquilo significava, mas eu não iria me abalar com isso, peguei minha bolsa e fui para casa, tinha um problema maior do que um fora para lidar.

Apenas um encontroWhere stories live. Discover now