Procurando o sentido

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    Tentei voltar a dormir, mas era quase ridículo a ideia agora, levantei e fiquei andando de um lado a outro, até que eu cansei e sentei próximo à janela e fiquei olhando a vista do hotel, enquanto pensava em como lidar com isso.
     Era para ser simples, não me envolvo emocionalmente com nenhum homem, mas eu sempre acabo confundindo os limites. Não acho que Lewis queira complicar as coisas também, então a melhor solução é parar por aqui.
Uma hora depois ele me ligou dizendo que já estava na porta do hotel, telefonei para portaria liberando o acesso dele e poucos minutos depois ele bateu em minha porta.
- Você não devia ter ido embora daquele jeito. - ele disse entrando no quarto.
- Eu precisava ir embora, se não poderia ser mais difícil lidar com os boatos. - eu expliquei fechando a porta.
- Você nem ao menos conversou comigo, só saiu desmentindo as coisas na mídia e foi embora. - ele falou nervoso.
- Olha, você mandou sua equipe para o meu quarto com a intenção de prevenir o transtornou, não queria dar problemas, então lidei com isso. - eu expliquei sentando na cama.
- Eu não mandei minha equipe, eu simplesmente fui para o paddock me preparar para a corrida e quando eu termino a corrida e ligo para te contar, você não está lá e já enviou um comunicado para mídia negando qualquer envolvimento comigo. - ele falou gesticulando o que demonstrava o seu nervosismo.
- E onde está o problema? Eu ir embora sem avisa-lo ou eu emitir o comunicado? Porque assim, eu estou procurando o sentido em toda essa discussão. - falei levantando da cama.
- Tudo isso, você não precisava ir embora, e quanto ao comunicado deveria ser algo conversado entre nós, não entre equipe de gerenciamento de crises. - ele falou nervoso.
- Eu apenas fiz o que eu achava certo, evitei um problema antes que ele se tornasse um. - disse brava.
- É isso que nós somos? Um problema? - ele perguntou indignado.
- Não existe nós. - falei ríspida.
- Essa merda não funciona para mim. - ele disse com um sorriso de escárnio. - há um nós a partir do momento em que fudemos naquele hotel em Paris.
- Sim, eu entendo essa conexão, mas não é nada que a mídia precise saber, não quero que as pessoas interpretem que há algo a mais onde não há. - disse sentando na cama novamente.
- Ok, se é assim, tudo bem, ao menos você lidou com isso de forma discreta. - ele disse frustrado e foi saindo do quarto. - quem colocou esse limite foi você, saiba disso. - ele disse.
- O que você quer dizer com isso? Há algo além de encontros sem sentidos? - perguntei no fundo esperançosa.
- Bem... não sei, mas com certeza perdemos a chance de descobrir agora que você já decidiu que não há. - ele falou ainda bravo.
- Espera Lewis. - merda, minha cabeça falava para eu deixar ele ir e isso terminar aqui agora, antes que eu me machuque, mas meu corpo e meu coração queriam que ele voltasse e dormisse naquela cama comigo pelo resto da noite. - você quer ficar? A gente pode lidar com isso depois quando já estivermos descansados.
- Não. - ele disse o que me surpreendeu, mas ele não demorou muito para terminar. - pegue suas coisas, vamos para minha casa. - e assim, sem muitas explicações a gente estava novamente nessa coisa inexplicável.
Saímos do hotel juntos e entramos dentro do seu Porsche Taycan, ele dirigiu por um tempo em silêncio, não lembro quando chegamos, porque peguei no sono no caminho.
———//———
Acordei em uma cama imensa em um quarto desconhecido, não me lembro de chegar até lá, só lembro de adormecer no carro dele. Levantei e sai andando procurando por ele.
A casa era imensa e mesclava modernidade e tecnologia com um pouco de clássico. Fui andando seguindo o cheiro da comida e acabei chegando a uma cozinha grande e moderna.
- Bom dia. - disse timidamente da porta.
- Bom dia, sente aqui, vou preparar umas torradas para você. - ele disse indicando uma cadeira na bancada da cozinha.
Eu estava vestindo uma camisa que deveria ser dele visto que não tinha trago nenhuma roupa, mas já que não me lembro de trocar ou de chegar em casa acredito que ele tenha trocado minha roupa quando me colocou na cama.
- Obrigada pela blusa, eu realmente odeio dormir de saia. - disse puxando assunto.
- Você disse isso quando te coloquei na cama, quer dizer você sussurrou isso e foi tentando tirar a saia enquanto estava de olhos fechados. - ele disse rindo.
Fiquei um pouco envergonhada, o que era um sentimento estranho para mim, poucas coisas me faziam ficar desconcertada, mas hoje eu não sabia como lidar ao redor de Lewis.
Levantei da cadeira e andei ao redor avaliando a casa dele.
- Casa bonita. - comentei falando um pouco mais alto para ele ouvir a distância em que estava. - esperava que tivesse algo como uma prateleira de troféus ou uma parede cheia de reportagens sobre você. - comentei voltando a cozinha.
- Quando eu estou em casa não gosto de falar ou pensar no trabalho. Então prefiro um ambiente o mais neutro e calmo, para que eu possa descansar, por isso eu não trago nada para casa. - ele explicou.
- Faz sentido. - comentei e o silêncio voltou a reinar. - desculpe por ter dormido ontem antes de chegarmos.
- Você não tem que se desculpar por isso, imagino que você estava igualmente cansada assim como eu, então apenas tomei um banho e me juntei a você. - ele disse sentando à mesa com os pratos do nosso café da manhã.
Ficamos em silêncio e comemos a comida que ele preparou, enquanto isso pensei em o que iria acontecer agora.
- Tenho que ir embora hoje, vou olhar algumas passagens e daqui a pouco eu devo sair ok. - eu informei para ver o que ele iria querer.
- Você precisa trabalhar ou está apenas fugindo de mim? - ele disse e logo completou. - fique, agora que tenho um tempo para relaxar nessas duas semanas sem corrida.
Relutei, pois não sabia se era melhor ficar ou ir embora agora, mas claro que ouvi meu coração e escolhi ficar.
- Tá bem, eu vou ligar para minha equipe falando que não estou indo embora. - disse me levantando para sair e fazer a ligação.
    Quando estava saindo em direção a sala para fazer a ligação mais reservadamente ouvi um barulho vindo em minha direção e quando olhei para o lado me deparei com um buldogue.
    - Ei amigo. - abaixei para fazer carinho na cabeça dele que aceitou de bom grado.
   - Esse é o Roscoe. - Lewis disse vindo até nós.
  O cachorro se acomodou perto do meu pé querendo carinho então sentei no chão e fiquei dando atenção ao bichinho.
    - Ele é bem folgado, se você for olhar a vontade dele vai ficar o resto do dia fazendo carinho em sua barriga. - ele me avisou.
    - Ele parece gostar de mim. - disse rindo. - não é garotão, você não gosta quando eu faço assim. - disse passando a mão na barriga do animalzinho.
     - Ei Roscoe, não roube minha garota. - Lewis disse, e por mais que tenha sido na esportiva o "minha garota" me deu um frio na barriga.
     Levantei e fui fazer a ligação, era o melhor que eu poderia fazer para me distrair daquela sensação estranha.
———//———
     A próxima semana passou rápido, eu e Lewis estivemos trancados em sua casa apenas curtindo um ao outro, acordávamos cedo e íamos fazer uma caminhada pelas redondezas ou um exercício em casa mesmo, depois eu trabalhava um pouco e nas tardes sempre assistíamos um filme e ficávamos conversando ou jogando algo.
   De certa forma nos aproximamos, conversávamos muito sobre a vida profissional e pessoal, ele estava se sentindo mais a vontade ao passo que estava contando coisas pessoais com mais facilidade, mas da mesma forma como eu não tive coragem de contar sobre minhas experiências passadas em relacionamento, ele não comentou nada sobre a ex.
    Não discutimos nada como o que aconteceu em Catar ou o que diríamos a mídia caso perguntassem sobre a gente, e muito menos perguntamos um ao outro sobre o status do relacionamento, mas naquele momento eu só queria aproveitar o momento sem pesar o clima com coisas assim.
    Depois de cinco dias passando apenas eu, ele e o Roscoe, eu comecei a me afeiçoar a eles. Tínhamos até criado uma mini rotina.
     Eu teria que ir embora logo, apesar de está resolvendo meus trabalhos por reuniões online, eu ainda tinha coisas para resolver pessoalmente.
Estávamos na cozinha preparando um almoço, ele havia insistido em cozinhar sozinho a refeição e eu deixei.
- Sabe, eu poderia me apaixonar por um cara que cozinha para mim. - disse sem pensar e logo me arrependi quando vi o espanto no olhar dele. - quer dizer me conquista logo pela barriga. - completei tentando dar uma descontraída.
- Sua comida também é magnífica. - ele disse enquanto mexia a panela no fogão.
- Tenho que saber sobre, afinal estou organizando uma rede de restaurantes, seria como um veterinário que não entende de animais. - falei brincando. - posso ajudar colocando a mesa?
- Por favor. - ele aceitou a ajuda.
Estava colocando a mesa quando o campainha da casa tocou me surpreendendo, pois além da equipe de limpeza que apareceu durante a semana, ninguém mais havia vindo aqui.
- Você pode mexer aqui para mim? Vou ver quem é. - ele pediu e eu fui até o fogão para substitui-lo.
Ele olhou o painel que mostrava a câmera de vigilância e saiu para atender a porta. Alguns segundos depois ouvi vozes de crianças, não imaginei quem poderia ser, mas olhei para minha roupa que consistia em um camiseta do Lewis, desliguei o fogo e fui correndo me trocar.
Durante a semana Lewis resolveu o problema com minha roupas pedindo uma loja para entregar algumas peças do meu tamanho aqui, mas eu ainda assim optava por usar suas camisas.
Como Lewis estava casual achei que seria estranho eu aparecer para quem quer que seja com roupas mais chique, então optei por um top e uma bermuda, prendi meu cabelo em um coque e era o melhor que eu podia fazer no tempo que tinha.

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