O outro lado

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Estávamos a caminho da casa de Lewis que ficava em Beverly Hills. Ele pegou a Sunset Boulevard e seguiu pela Loma Vista, as casas naquela região eram de valores acima de dez milhões de dólares.
Eu sabia que Lewis estava em outro patamar de riqueza, mas presenciar isso era um pouco surreal. Eu vim de um lugar simples onde dinheiro era contado e riqueza era poder comer pizza todo fim de semana. Por mais que eu estivesse a oito anos vivendo ao redor da alta sociedade dos EUA, eu ainda achava surreal a vida dos "A List".
- Estamos chegando? - questionei.
- Sim. - ele respondeu colocando a mão no meu joelho e direcionando um sorriso para mim.
- Você tem essa residência a muito tempo? - puxei assunto.
- Fazem uns oito ou nove anos que possuo residência em LA, gosto muito de vir para cá quando estou de folga no meio da temporada...mas essa casa adquiri a menos de quatro anos. - ele diz enquanto para em frente a um portão que cerca de fora a fora a frente da residência.
- Você tem residência em LA, Mônaco, Londres e mais algum lugar? - eu pergunto.
- Em Las Vegas, no interior da França e em Hampton onde fico quando estou em NY. - ele diz com naturalidade.
Confirmo com a cabeça mentalizando as poucas propriedades que tenho, é... ainda vivemos em mundos um pouco diferente.
- Estou tentando me livrar de um pouco dessas propriedades, muita coisa adquiri no impulso do desejo material, hoje vejo que isso não ajuda a preencher o vazio. - ele completa.
Talvez nós dois estivéssemos em momentos diferentes em nossas vidas e por isso certas coisas para ele faz sentido e para mim não. Eu sou apenas 6 anos mais nova que ele, mas esse tempo já foi suficiente para que ele estivesse encerrando essa vida de estrelato e eu apenas começando.
Eu estou começando a me destacar no minha carreira agora, o dinheiro está fluindo com mais tranquilidade e podendo me proporcionar certos luxos agora, então não quero simplesmente pensar que uma vida simples satisfaz mais que uma vida luxuosa, eu quero proporcionar um luxo para mim e para minha família que a gente nunca teve noção.
Preferi ficar em silêncio e deixar ele pensar que eu compreendia a vontade dele em ser mais simples, mas era engraçado pensar que uma pessoa que praticava o esporte mais caro do mundo poderia está falando sobre uma vida minimalista.
Quando ele estacionou seu Mercedes EQC em sua garagem saímos e ele tirou nossas bagagens.
- Bem vinda a minha casa. - ele disse abrindo as portas da casa.
Me surpreendi com o interior, era uma casa simples para o padrão que eu esperava, claro que tinha toda tecnologia possível que uma casa de luxo possuía, e claro que todos os móveis eram modernos, mas a casa em si não era uma mansão imensa onde se dava para perder dentro, nada muito extravagante nem muito simples.

*no início do capítulo tem anexado um vídeo do YouTube que serviu como inspiração, aliás, todos os capítulos que é citado uma casa eu anexo um vídeo de inspiração.*

   - Era o que você esperava? - ele disse vendo que eu estava analisando tudo minuciosamente.
   - Talvez. - disse não querendo entregar minha surpresa.
   - Paguei nessa casa mais caro que meu apartamento em Mônaco, havia casas maiores com um preço melhor no mercado, mas eu queria um espaço onde eu não me sentisse tão sozinho, afinal eu moro sozinho e na maior parte das vezes que estou em casa é só eu e Roscoe. - ele disse enquanto entrávamos. - venha, vou te mostrar outra coisa que me encantou nessa casa. - ele completou estendendo a mão.
    Ele apertou um botão na parede quando chegamos ao conceito aberto da casa que era onde havia a cozinha, a sala e a mesa de jantar. A imensa porta que cobria toda a área se abriu revelando uma vista de tirar o fôlego da cidade de Los Angeles.
    - Realmente, essa vista deve ser cara. - eu brinquei indo até a área externa para olhar a vista mais de perto.
    - Admiro muito a vista dos lugares onde escolho morar, afinal nada é mais tranquilizante do que olhar para a vasta cidade sobre nós e saber que sua situação com certeza é melhor que muita gente por aí. - ele disse apontando para a visão.
   Talvez para ele fosse satisfatório saber que estava em outro patamar, mas eu ainda lutava todos os dias para chegar ao ponto de que o dinheiro não fosse mais uma vez questão.
    As pessoas acreditavam que ser uma celebridade iria garantir muita riqueza e as melhores coisas sempre. Mas a verdade era que o dinheiro vinha de modo gradativo, mas infelizmente o estilo de vida também exigia muito mais dinheiro do que você poderia produzir.
Lewis foi nos preparar um drink enquanto eu sentei no sofá na área externa contemplando a vista. Ele já estava vindo até mim quando seu telefone tocou e ele conferiu quem é.
- Preciso atender. - ele informou ao me entregar o drink e ir até o para peito para atender ao telefone. - Eai cara. - ele cumprimentou quem quer que esteja do outro lado da linha. - pois é, estou em LA, vou passar alguns dias aqui... não seja por isso, venha até aqui, você já tem meu endereço... beleza, te aguardo. - ele disse e finalizou a ligação vindo até mim. - era um amigo, ele virá aqui essa noite, se você não se importar. - ele disse a mim.
- Claro... - respondi imediatamente. - quer dizer claro que não me importo, a casa é sua. - eu esclareci, ele segurou minha mão e deu um beijo nela, depois me esboçou um sorriso.
Ele conhecia meus amigos, desde os mais próximos, até os mais distantes, eu estava feliz que eu iria conhecer algum amigo dele também.
———//———
   Miles e Daniel, amigos de Lewis chegaram por volta das seis da tarde, LA já estava com o sol se pondo e o início de uma noite aparecia. Eu e Lewis preparamos juntos algumas coisas para servimos a seus amigos.
    Miles era esgrimista, ele era um homem alto com cara de bravo, mas assim que olhou Lewis abriu um sorrisão e mostrou o verdadeiro ursão que é.
    Daniel é um produtor musical, Lewis havia me dito que conheceu ele por amigos em comum, mas que desde que se tornaram amigos eles vem planejando grandes projetos juntos.
    Os dois foram muito simpáticos comigo e eu não sendo nem um pouco tímida procurava sempre está no meio das conversas entre eles. Jogamos Monopoly até tarde e pelo menos nisso eu era ótima, Lewis ficava tirando sarro deles quando eu os fazia perder dinheiro.
    - Definitivamente ela é uma ótima empreendedora. - Miles comentou e Lewis riu.
    - E você é um péssimo. - Ele disse ao amigo que direcionou um dedo do meio para ele.
   - Estou cansado de ser levado à falência. - Daniel disse enquanto levantava da mesa.
    - Eu prometo deixar você vencer na próxima. - eu provoquei fazendo Lewis e Miles rir, Lewis apertou meu joelho e deu um beijo em meu pescoço.
    - Essa é minha garota. - disse rindo ao se afastar. - mas não deixe esse marmanjo ganhar, ele precisa usar essa cabeça para algo.
    - E você grande empresário, não ganhou uma partida se quer para ela. - Daniel provocou Lewis.
     - Nós jogamos no mesmo time, deixo ela chutar a bunda de vocês e tenho o prazer de só assistir. - Lewis disse piscando para mim e eu revirei meus olhos para seu comentário.
- Ou seja, eu faço todo o trabalho duro. - eu falei.
Jogamos mais algumas vezes até que o vinho estava fazendo muito efeito em nós. As conversas já estavam sem pé nem cabeça e o jogo já havia sido esquecido.
Daniel acabou adormecendo no sofá da sala enquanto Miles pediu um motorista para levá-lo.
- Se eu dormir fora a patroa me mata. - ele justificou enquanto despedia de nós.
- Melhor não fazermos ela se estressar. - Lewis disse rindo e dando tapinhas no ombro do amigo.
   Era tarde então nós dois formos diretamente dormir.
———//———
    Lewis tinha o costume de acordar cedo todos os dias, apesar de eu não gostar muito eu o acompanhava. Dentro desses 15 dias que passamos juntos sempre íamos fazer caminhada pela manhã e logo depois iniciávamos os trabalhos.
     Pela manhã eu entro em contato com os administradores das minhas empresas que me mantém atualizada da produção e dos eventuais problemas. Depois entro em contato com o setor publicitário para tomar decisões sobre campanhas e visibilidade das marcas.
    Lewis enquanto isso cuida dos negócios dele relacionados ao trabalho e as empresas. O mais interessante esses dias tem sido a rotina que criamos ao fazer isso, realmente parecia que éramos um casal que morava junto, apesar de estarmos cada semana em um lugar diferente e com várias pessoas.
- Você volta para Londres quando? - perguntei a ele da mesa onde estava respondendo alguns e-mails e ele estava na cozinha fazendo um smooth.
- Daqui a alguns dia eu tenho que prestar meu depoimento sobre a corrida então vou aproveitar para ver minha família.
- Ah sim. - respondi pensativa.
- Por que a pergunta? - ele disse vindo até à mesa e me entregando um copo do smooth enquanto ele se sentava ao meu lado.
- Vou ao Brasil para resolver alguns assuntos, se você estivesse disponível poderia me acompanhar antes de voltar a trabalhar. - eu falei me virando para olhá-lo.
Ele sorriu e colocou uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha.
- Eu poderia, me diga a data que vou ver quando é o depoimento, caso não seja na mesma época posso te acompanhar. - respondeu antes de lamber o smooth que estava no canto dos meus lábios.
Pequenos gestos de afeto assim me provocavam um formigamento por todo o corpo. Lewis era muito carinhoso, desde que nos conciliamos depois de nos distanciar por uma semana, literalmente, ele tem sido mais atencioso que o normal.
Arrastei minha cadeira para trás e ele me pegou colocando em seu colo, enlacei meus braços ao redor do seu pescoço e beijei com intensidade. Ele colocou suas mãos na minha cintura e me pressionou para baixo contra seu membro que já estava empolgado com o contato, me mexi contra ele e estávamos nos distraindo com a intensidade do contato superficial quando meu telefone tocou nos assustando.
- Merda. - pulei no colo dele me assustando com o barulho.
Estiquei minha mão para trás procurando meu telefone e vi pela tela uma ligação da minha mãe.
- Oi, mãe. - atendi ainda no colo de Lewis. Ele beijava meu pescoço me distraindo do que estava sendo dito no telefone.
- Mel, seu avô não está bem. - minha mãe disse.
Levantei do colo de Lewis e comecei a andar de uma lado para outro inquieta.
- O que está acontecendo? - eu perguntei a ela.
- Ele teve um princípio de infarto e levei ele para o hospital aqui em NY, os médicos disseram que pode ter sido por causa de remédios que ele tomou, ele está em observação, mas a questão mais grave e o motivo pelo qual eu te liguei e que o médico analisou os exames e percebeu que o quase infarto diminuiu a pressão sanguínea e por ele já ter problemas cardíacos agravou o caso. - ela explicava e eu caminhava tentando dissipar o nervosismo que só crescia.
- O que podemos fazer? - perguntei.
- No momento aguardar melhora no quadro até que ele possa ir para casa. Ele não está seguindo a dieta, você mesmo viu na viagem, se ele continuar seguindo esse caminho não teremos muito mais tempo com ele. - ela informou.
- Vou pegar um voo para NY e lidar com ele quando chegar aí. Qual hospital vocês estão?
- Não há necessidade de você vir, soube sobre o aniversário de Lewis, fiquei com ele enquanto lidamos com isso. - ela disse.
- Não posso ficar aqui sabendo que ele não está instável no hospital, me mande o local, estarei aí até amanhã de manhã. - eu disse e desliguei não deixando margem para ela protestar.
Eu conheço minha mãe, sabia que se não fosse grave ela não teria me ligado, meus avôs já passaram mal antes e eu nem ao menos soube, se minha mãe avisou é porque ela pressentia algo.
- O que houve? - Lewis perguntou olhando com preocupação para mim do mesmo lugar onde estava sentado antes.
- Meu avô passou mal e está no hospital, tenho que ir para NY. - eu disse recolhendo minhas coisas sobre a mesa.
- Ele estava bem até outro dia quando nos despedimos no aeroporto. - ele disse vindo atrás de mim.
- Pois é, pelo visto algum medicamento que ele tomou causou um princípio de infarto e agora ele está internado. - expliquei.
- Eu vou com você. - ele disse.
- Não, você fica. - eu disse. - seu aniversário é amanhã.
- Quero te acompanhar e me certificar que ele está bem, ele é uma boa pessoa. - ele falou enquanto me trocava de roupa.
- Melhor não Lewis, você não está sendo visto a alguns dias, sua aparição já geraria muita atenção e comigo o burburinho seria maior ainda. - eu disse. - fiquei e ajude o pessoal na organização da festa aqui amanhã.
- Não há necessidade de festa, ainda mais nessa situação. - ele disse.
- Já está tudo organizado, aproveite, esse é meu presente para você. - disse e dei a ele um beijo casto nos lábios.
- Tudo bem. - ele disse me abraçando. - vou providenciar o jatinho para te levar até NY hoje ainda.
———//———
- Ei, como ele está? - perguntei a minha irmã assim que cheguei e encontrei com ela e minha mãe no hospital.
- Ele está em observação, acabou de acordar. - minha irmã respondeu me abraçando para cumprimentar.
- Houve melhora no quadro?
- Quanto ao coração não tem muito o que fazer, o que já está comprometido se mantém, mas eles estão preocupados quanto a possibilidade de agravar.
- Que merda. - falei e fui até minha mãe que estava conversando com a enfermeira em um canto. - Oi.
- Oi minha filha. - ela me abraçou, agradeceu a enfermeira e se virou para voltar a falar comigo. - eles disseram que vão liberar seu avô ainda hoje, não acharam apropriado deixá-lo no hospital correndo risco de pegar algo mais grave.
- Se eles o estão liberando é uma boa notícia, não? - questionei.
- Em partes. - ela respondeu. - ele precisa de cuidados quanto a alimentação, e você sabe como é seu avô.
- Eu posso ver ele? - perguntei.
- Sim, vão liberar as visitas agora. - ela me disse indicando o corredor onde é a recepção que direciona aos quartos.
Fui até lá e pedi para ir ao quarto dele, fui conduzida até o quarto e quando entrei vi meu avô deitado na cama olhando para a vista da janela.
- Nem começou o ano e o senhor já tá nessa? - provoquei ele sendo humorada para aliviar a tensão que eu estava sentido mas não queria que ele percebesse.
- Quase morri, mas passo bem. - ele disse forçando uma sorriso.
- Credo vô, você está velho demais para fazer essa piada.
- Velha é sua mãe, eu sou maduro. - ele disse bem humorado e eu ri indo até ele para dar-lo um abraço.
- Você nos deu um baita susto. - disse ainda abraçada a ele.
- Só para vocês ficarem espertas. - ele ainda disse humorado mas dessa vez eu estava seria.
- O senhor não está seguindo sua dieta, você sabe que vai morrer se comer o que quer. - eu o adverti.
- Se for para viver comendo o que não quero, prefiro morrer feliz. - ele disse como uma criança pirracenta.
- Vai morrer logo agora que estou rica e posso bancar vocês tudo. - provei trazendo o humor novamente sabendo que essa conversa tinha que ser conduzida com leveza.
- Onde está aquele rapaz? - ele tentou mudar de assunto e por agora o melhor seria ir na onda dele.
- Rapaz. - disse rindo. - Lewis tem quase 40.
- E ele é um rapaz já que eu tenho o dobro da idade dele. - ele falou e eu ri.
- Ele queria vir aqui ver o senhor, mas amanhã é aniversário dele e preparei uma festa para ele lá em LA.
- E por que você não está lá para festa que você organizou?
- Porque eu tinha que ver o senhor.
- Ah por favor, não é como se eu fosse morrer. - ele disse em tom de brincadeira, mas quando as palavras caíram o silêncio foi ensurdecedor, pois sabíamos que aquilo poderia ser uma realidade.
O médico bateu na porta nos tirando do transe.
- Hora de ir para casa. - ele disse ao meu avô.
- Prazer Melissa Cruz. - disse estendendo a mão para cumprimenta-lo.
- O prazer é meu. - ele respondeu apertando minha mão.
- Será que eu poderia ter uma conversa com o senhor? - perguntei e ele confirmou a cabeça, indiquei o caminho para fora e ele seguiu.
- Já vão falar mal de mim né. - meu avô disse.
- Você dá pano para manga. - eu provoquei enquanto saia. - então doutor o que pode ter provocado o infarto? - perguntei ao médico já do lado de fora do quarto.
- Ele fez uso de dosagem elevada do remédio, além disso fiquei sabendo que vocês chegaram de uma longa viagem a poucos dias, isso explica a fadiga. O corpo dele já não se encontra saudável o suficiente para longas viagens e a falta de uma alimentação regrada prejudica a diabetes. - ele explicou.
- Há risco de outro infarto? - eu questionei.
- Sim e não, iminente não, mas se ele não cuidar da alimentação e descansar pode ter outro em menos de seis meses. - ele explicou.
- O infarto afetou muito o coração?
- Não houve o infarto em si, ele só teve o princípio de um, mas foi o suficiente para desgastar o coração e reduzir ainda mais a capacidade que já estava em 40%. - o médico explicou.
- A alimentação é a única forma de prevenção?
- A alimentação, o descanso e aplicação dos remédios e da insulina nas dosagens corretas. - ele esclareceu e fez uma leve pausa. - mas acredito que há uma outra coisa que você deveria saber.
Algo no fundo já me dizia que não seria apenas isso.
- O que eu não estou sabendo doutor? - perguntei preocupada.
- Quando ele estava em observação pedi uma série de exames para analisar o quadro completo e pela ressonância que obtive foi possível constatar um desgaste cerebral, característico de um AVC, o desgaste não é recente, o que leva a crer que não ocorreu após o incidente atual.
Respirei fundo e olhei para o teto, todos da família sabíamos que meu avô tinha memória falha, mas achávamos comum por ser algo normal entre nós.
- Não sabemos ao certo se esse derrame afetou significativamente sua memória, por isso é necessário que ele mantenha um acompanhamento. - o médico completou.
- Tudo bem. Obrigada doutor pela atenção. - me despedi e voltei ao quarto para ver meu avô.
As coisas já estavam complicadas em lidar sabendo do problema no coração e da diabetes, agora ainda tinha um derrame cerebral. Pensando nisso uma coisa me veio à mente.
- Doutor. - chamei o médico que já estava caminhando para longe. - é possível que esse problema com a dosagem tenha sido por erro dele com a memória? - perguntei ao me aproximar novamente do médico.
- Ele se medica sozinho? - o médico perguntou e eu respondi afirmativamente. - Então sim, há sim a possibilidade de ele ter esquecido a quantidade exata da dosagem e consumiu remédio de modo excessivo.
Passei a mãos pelo cabelo igual fazia todas as vezes em que ficava nervosa.
- O ideal nesse momento é falar com ele sobre o problema e ajudá-lo com tarefas importantes como tomar os remédios, é recomendável que ele passe a anotar as coisas importantes, assim pode recorrer a algum lugar quando esquecê-las. - o médico informou.
- Vou conversar com ele e nós vamos resolver isso, obrigada novamente.
Voltei ao quarto e lá estava meu avô sentado reunindo suas coisas para ir embora, eu amava muito ele. Não tive um pai, então ele era a figura paterna que eu tinha. Sempre foi uma pessoa presente na minha vida, até mesmo quando eu estava longe. Viver sem a presença dele não era algo que eu conseguia imaginar.
- É velho, fazendo doideira né. - provoquei tentando deixar de lado a dor no coração que estava sentindo para pode conversar tranquilamente. - o que deu no senhor para tomar dose errada de remédio?
- A gente vai ficando velho e a mente já não é mais a mesma minha filha. - ele falou sério.
- Eu sei vô. - disse sentando ao seu lado e segurando sua mão. - eu estou aqui sempre que precisar, minha mãe também vai ajudar o senhor, até minha vó, que vocês dois quebram tanto o pau, vai está aqui para te ajudar a passar por isso. - falei e sorri em meio às lágrimas que se formavam em meus olhos.
Ele sorriu também e pela primeira vez vi lágrimas de formando nos olhos daquele velho turrão.
- A memória é tudo na nossa vida minha filha. - ele disse apertando minha mão. - uma pessoa sem memória é uma pessoa que não lembra do motivo de viver, e eu quero lembrar de todos os motivos que eu tenho para viver.
Nesse momento uma parte do meu coração se quebrou ao ouvir a dor em sua voz, se eu pudesse eu faria de tudo para que a saúde da minha família fosse eterna.
- Eu vou ajudá-lo a lembrar de todos os motivos sempre. - disse e dei um beijo em sua bochecha.
———//———
Quando chegamos a casa de NY sentamos em família para discutir o que fazer com essa situação do meu avô. Decidimos contratar uma enfermeira que iria administrar os remédios do meu avô e cuidar da alimentação dele.
- A questão não é não ter comida em casa, a questão é que qualquer coisa ele come muito. - minha mãe disse quando minha avó alegou que deveríamos deixar de comprar comidas que meu avô não poderia comer.
- Mãe tem um ponto. - eu disse entrando na discursão.
- Mas ter é uma tentação para ele. - minha avó insistiu.
- Se for assim então não pode ter nada aqui. - minha irmã contribuiu para a discursão.
- Ela tem um ponto. - eu disse me referindo a minha irmã.
- Que seja, façam o que vocês quiserem. - minha avó perdeu a paciência.
- Com a enfermeira aqui ele vai comer apenas o que for dado a ele, não vai ter contato com a cozinha. - disse.
- Parece até que você não conhece o seu avô. - minha avó disse.
- E o que você acha que devemos fazer então? - falei frustrada. - se deixar ele como o que quer, a hora que quer, o quanto que quer. Se não tiver em casa ele compra e faz. Não adianta evitar, se ele quiser viver mais vai ter que seguir o que a enfermeira passar. Ele não é uma criança, ele é um adulto que sabe das consequências e faz as escolhas para a própria vida. - falei encerrando a conversa.
Todas ficaram em silêncio refletindo o que eu disse, a verdade era que para meu avô continuar vivendo só dependia dele e nós não podíamos fazer nada sobre isso.
- Que seja. - minha mãe disse. - a única forma de ajudarmos é com a presença, vamos aproveitar cada momento com ele enquanto podemos. - ela completou e nós concordamos.
Fui ver o meu avô no andar de cima e ele já estava dormindo, desci para pegar algo para comer na cozinha quando a campainha tocou, fui atender a porta e me surpreendi ao ver Timothee.
- Ei? - cumprimentei confusa olhando para ele com um buquê nas mãos.
- Oi. - ele disse surpreso em me ver.
- O que você está fazendo aqui? - disse e ele pareceu um pouco desconfortável até que Milena desceu a escada correndo. - Ah entendi. - completei saindo da frente e deixando os dois.
- Foi bom te rever. - ele falou alto para eu ouvir de onde eu estava e eu dei-lhe um joinha como resposta.
- O que você está fazendo aqui? - Milena disse a ele com uma voz irritada que fez a minha fofoqueira interna querer ficar por perto para ouvir.
- Você não me avisou que havia chegado. - ele respondeu.
- E eu deveria? - ela disse com frieza e um silêncio se seguiu. - você parecia muito bem em Paris.
Eu não sei o que estava rolando ali, mas a tensão poderia ser sentida de onde eu a alguns metros de distância.
- Não é bem o que você imagina. - ele tentou acalma-lá, mas eu como mulher sabia que essa frase fazia exatamente o oposto.
- Sinceramente eu não quero saber. - minha irmã disse com a voz cansada. - talvez seja o karma. - ela completou rindo sem humor.
- Não seja assim Milena, eu posso explicar. - ele disse.
- Eu só não quero ouvir, pelo menos não agora. - ela completou.
- Tudo bem, quando quiser conversar a gente se fala. - ele disse e quando vi que iriam se despedi corri para cozinha.
    Peguei uma maçã para comer enquanto Milena entrava para cozinha, sentei ao balcão e fiquei encarando ela esperando dizer algo sobre o que acabou de acontecer.
    - Não vai me contar nada? - perguntei curiosa.
    - Ah... deixa isso para lá. - ela respondeu sentando ao meu lado com um copo de água na mão.
    - Vocês estão ficando desde o Halloween?
   - Nós nos vimos algumas vezes.
   - E o que ele fez para deixá-la furiosa?
   - Durante nossas férias ele disse que iria ficar apenas em NY com a família, mas saíram fotos dele com a Anya em Paris.
   - E vocês combinaram alguma exclusividade?
   - Pelo menos é o que eu achava. - ela respondeu suspirando.
   Eu já sabia onde isso estava indo, ela gostava dele, ele estava se divertindo com ela, ela queria algo mais, e ele apesar de gostar dela não iria se comprometer com um relacionamento exclusivo.
    Isso me lembrava bem meu relacionamento, então qualquer conselho que eu desse seria hipocrisia da minha parte.
     Respirei fundo e nós duas ficamos em silêncio olhando para o nada.
    - Que merda nem posso abrir um cerveja para ter essa conversa. - falei frustrada.
     - Nem um vinhozinho? - ela perguntou esperançosa.
   - Nem um vinhozinho. - disse triste. - Estou na dieta para a próxima personagem, preciso perder pelo menos 6 quilos.
    - Meu Deus, você vai ficar um palito.
    - Diga adeus ao meu peito e bunda, pela primeira vez acho que vou ficar reta. - comentei.
    - Bem vinda ao clube. - ela comentou. - quando as gravações começam?
    - Acredito que em março.
    - Nossa! Pouquíssimo tempo para perder muito peso.
    - Sim.
   - Mas por que você precisa está tão magra?
   - A personagem sobre um naufrágio. - expliquei.
    - Ah faz sentido. - ela comentou. - esse é o filme em que você entrou como produtora?
   - Sim, na verdade o projeto é meu, é a história da mulher que conheci no Hawai em 2016 lembra?
   - Ah sim, ansiosa para ver.
   Meu telefone começou a tocar e peguei para ver que era uma ligação de Lewis, me levantei e fui até a varanda atender.
    - Ei.
    - Ainda está no hospital? - ele perguntou.
   - Não, chegamos em casa um tempo atrás, ele está em repouso.
    - O problema é grave? - ele disse preocupado.
    - Mais ou menos, ele teve um princípio de infarto, mas agora está bem, a questão é que reduziu a atividade cardíaca e descobrimos que ele teve um derrame. - eu expliquei.
    - Nossa! A algo em que posso ajudar?
   - Não, estou aqui com ele presente, é o máximo que posso fazer. Desculpe não pode está aí para amanhã. - eu disse e ele suspirou.
    - Não peça desculpa por isso, eu gostaria que você estivesse aqui sim, mas você precisa está em outro lugar agora.
    - Tudo bem, amanhã eu te ligo.
   - Ok tchau.
  Desliguei e voltei a cozinha.
   - Achei que você fosse para LA amanhã. - ela disse.
    - E eu vou, mas quero fazer uma surpresa para ele, vou chegar lá na hora do parabéns. - eu disse empolgada com a ideia que planejei quando decidi voltar para Los Angeles após ver que meu avô estava bem.
  

Apenas um encontroWhere stories live. Discover now