CAPÍTULO_4

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Os colegas de trabalho estranharam quando viram Alan descer do ônibus na frente da construção e um dos pedreiros comentou:

— Alan, veio de busão hoje? Não me diga que alguém roubou sua bike!

Um ensaio da camgirl Aurora
Para não ter que revelar que o engenheiro iria pegá-lo ali no fim da tarde, ele respondeu:

— Você é doido? Eu não dou mole para ninguém me roubar! Deixei a bike em casa porque ela está precisando de uns consertos.

Juntando-se aos outros homens, o rapaz deu início a mais um dia de muito trabalho. E Marco não saía de sua mente.

***

Na hora do almoço, todos se sentaram no chão, cada um com uma marmita na mão. Enquanto comia, Alan pensava na briga da noite anterior. Agora que estava calmo, ele reconhecia que agiu como um garoto mimado, coisa que ele nunca foi. Mas ele já sabia que precisava controlar mais seus impulsos, para não deixar que seu jeito esquentado estragasse aquele relacionamento que ainda estava no começo.

Alan sempre apanhou muito da vida, por isso se acostumou a atacar antes de precisar se defender. Ao se lembrar de que faltou pouco para ele e Marco saírem no murro, ele se sentia péssimo, porque uma briga daquele tipo entre os dois colocaria tudo a perder. Além disso, ele próprio estaria se arriscando a ficar todo arrebentado, porque o engenheiro era um homem forte e não iria apanhar sem revidar. Nesse sentido, Alan se sentia até aliviado, já que não seria visto como um covarde que ameaça bater em alguém mais fraco do que ele.

Na verdade, ele agiu daquela forma para extravasar a tensão e o ciúme acumulados durante a ausência do outro. Na sua mente, o engenheiro deveria conhecer muitos caras interessantes, muitos homens do mesmo nível que o dele com os quais ele poderia ficar. Por isso não iria se importar com um simples pedreiro.

Ao longo de sua vida, Alan lutou contra o sentimento de inferioridade. Ele se esforçava para não demonstrar seu constrangimento diante do padrão de vida de Marco, mas tinha medo de ser rejeitado por não fazer parte do mesmo mundo em que ele vivia.

Marco cresceu com pai e mãe, teve boas oportunidades e conquistou uma vida muito boa. Já ele, ao contrário, cresceu por conta própria, sempre lutou sozinho e vivia de forma simples, trabalhando como servente de pedreiro. Mas era preciso ser justo com Marco. Apesar daquela imagem de homem arrogante, ele agora o tratava de igual para igual e não se aproveitava de sua posição para tentar controlá-lo. Alan se perguntava o que foi que aquele homem tão poderoso viu nele, um rapaz pobre e, talvez, sem futuro.

***

No fim da tarde, quando Marco chegou à obra, os dois trocaram um rápido sorriso, como se fossem dois garotos que namoram escondidos. O rapaz ficou imaginando o que os colegas diriam se soubessem sobre aquele relacionamento. Para aqueles homens, até seria natural que Alan estivesse dando um trato no engenheiro, mas eles não iam entender como era possível aquele namoro.

Marco verificou o andamento da obra, falou com o mestre e ficou por ali, observando o trabalho. Para surpresa geral, ele quase não destratou ninguém, só questionou algumas coisas do projeto com o mestre de obras e reclamou de um pedreiro que quebrou acidentalmente alguns blocos. “Atenção, rapaz! A norma aqui é desperdício zero!”, gritou ele para o pedreiro, que engoliu a raiva e continuou seu trabalho.

Quando terminou a jornada, Marco se sentou numa pilha de vigas de concreto e ficou esperando por Alan. O rapaz passou água no rosto, trocou de roupa e foi ao seu encontro.

— E aí? Vamos nessa?

— Senta aqui, Alan. Só um minuto.

Alan se sentou ao seu lado e ele lhe entregou o celular.

 COINCIDÊNCIAS DO DESTINOOnde histórias criam vida. Descubra agora