CAPÍTULO_7

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Desde muito pequeno, Alan precisou aprender a brigar, para poder se defender das ofensas e das provocações de que era vítima. Na escola, na rua onde morava e até na casa da tia, ele sofria agressões e injustiças. Sem ter quem lhe defendesse, o único jeito de enfrentar as pessoas que o maltratavam era gritar palavrões e partir para a briga. Com os olhos arregalados e as narinas dilatadas, o pequeno Alan dava tapas, chutes e socos em quem o provocava. Mas, além de bater, ele também apanhava muito, o que lhe deixava com ferimentos no corpo.

Quando sabia que o sobrinho havia brigado com alguém, sem nem ouvir dele quais foram os motivos, sua tia Marta lhe dava tapas, puxava sua orelha e repetia seu discurso de que ele não tinha jeito mesmo e que ela ainda iria arrancar a língua dele, para ele deixar de falar palavras feias.

Um ensaio da camgirl Aurora
O marido da tia aproveitava para dizer que era preciso ter pulso firme para lidar com aquele garoto, para que ele não se tornasse um marginal quando crescesse. Incentivada, a mulher dava mais alguns tapas em Alan e o deixava de castigo. Mas ele sempre teve um gênio forte, e prendia o choro. Para colocar a raiva para fora, ele ficava pelos cantos, xingando baixinho os outros garotos e a própria tia.

À medida que foi crescendo, Alan percebeu que precisava se controlar melhor, para evitar se meter em confusões. Mas, sempre havia situações em que ele não via outra saída, a não ser partir para cima de quem se atrevia a insultá-lo. E era isso o que estava acontecendo agora.

***

Havia mais de dois anos que ele morava naquela casa e sempre evitou dar conversa aos vizinhos. Mas a dona daquela casa que ele havia alugado não lhe dava sossego e estava sempre procurando saber sobre sua vida. Às vezes, Alan pensava até que ela estivesse interessada nele, e se perguntava se o marido não dava mais no couro.

Mas agora, além da mulher, o próprio marido estava com perturbação para o lado dele, principalmente depois que Marco começou a andar ali. Alan já pensava até que aquele homem estava com inveja dele. Às vezes, ele chegava a imaginar que o vizinho também estava interessado nele. “Só me faltava essa!”, pensava ele.

Mesmo incomodado, Alan tentava ignorar aquelas pessoas, mas a coisa havia chegado a um ponto que ele não podia mais aguentar. Aquele vizinho não tinha o direito de falar daquela forma sobre ele e Marco.

***

Em pé, à porta da casa da vizinha, depois de ouvir aquelas ofensas, Alan perdeu o controle e aplicou um soco no queixo do vizinho, fazendo com que ele mordesse com força os próprios lábios. No mesmo instante, o homem disparou um soco contra Alan, que ainda conseguiu desviar o rosto, mas foi atingido de raspão perto da orelha.

A mulher começou a gritar para que o marido não desse importância àquele rapaz e entrasse logo, mas essa gritaria só fez atrair a curiosidade dos moradores da rua, que correram para assistir àquele espetáculo. Em segundos, os dois homens estavam no chão trocando socos, sob o olhar animado da vizinhança. Como se lutasse sozinho contra o mundo todo, Alan usava toda sua energia para bater e xingar aquele homem:

— Filho da puta! Vagabundo! Pilantra!

Com a voz espremida, o homem devolvia:

— Viado! Mama rola! Putinho de rua!

Um soco atingiu o canto da boca de Alan e o sangue começou a correr. Transtornado, ele deu um soco na barriga do homem e usou um joelho para aplicar um golpe no meio das pernas dele, atingindo seus ovos.

Para pôr fim àquilo, dois homens seguraram Alan por trás, enquanto outro ajudou o vizinho a se levantar e ficou segurando-o. Alan dava chutes no ar e o homem ainda tentava avançar contra ele. A mulher arrastou o marido para dentro de casa e, antes de bater a porta, como se fosse uma vingança, gritou para Alan:

 COINCIDÊNCIAS DO DESTINOWhere stories live. Discover now