COINCIDÊNCIAS DO DESTINO

CAPÍTULO_11

A empresa de Marco era de médio porte e já estava consolidada no mercado de construção civil. Alan parou um instante na frente da fachada do prédio e admirou a elegância daquela construção. No jardim, no centro de um canteiro, havia um grande V formado por duas placas de concreto que pareciam flutuar sobre a grama. Visto de longe, aquilo lembrava as asas de um pássaro pronto para alçar voo. Idealizado pelo pai de Marco, esse símbolo com a primeira letra do nome Ventura transmitia a ideia de solidez e leveza, elementos indispensáveis nos projetos desenvolvidos por aquela empresa. Para Marco, essa escultura em pleno voo representava também a ideia de liberdade.

Em outras ocasiões, Alan esteve ali na companhia do namorado, mas essa era a primeira vez que ele chegava sozinho. Atravessando o jardim, ele trocou um rápido cumprimento com alguns funcionários que já estavam indo embora e, dentro do prédio, falou com uma sócia de Marco, que lhe fez um pedido em forma de brincadeira:

Um ensaio da camgirl Aurora
— Olá, Alan! Tudo bem? Faça um favor para mim! Vê se você leva Marco para casa! O homem se esquece da hora de parar de trabalhar!

— Boa noite, dona Eva. Vou ver o que é que eu posso fazer! — disse ele sorrindo.

Mas, na verdade, Marco sempre estabeleceu o limite entre seu trabalho e sua vida pessoal. Contrariando o perfil do seu pai, que fundou a administrou o negócio sozinho, Marco admitiu sócios, com os quais dividiu o comando da empresa. No seu ideal de vida, o patrimônio era muito importante, porque ele nunca abriria mão do conforto que sempre teve, mas ele não estava disposto a viver somente para trabalhar, sem ter tempo para si mesmo.

Enquanto se dirigia à sala de Marco, Alan pensava como deveria ser a vida de alguém que, desde pequeno, foi preparado pelo pai para assumir uma empresa. Ele sentia orgulho da postura profissional do namorado e se admirava de que Marco não visse problemas em estar se preparando para casar com um homem que, ao contrário dele, ainda não possuía nenhum patrimônio. Vivendo juntos há mais de um ano, Alan já se sentia à vontade para desfrutar um pouco daquele padrão de vida, e ficava satisfeito por saber que Marco estava fazendo tudo para que ele adquirisse sua independência financeira. Para Alan, era muito bom estar com alguém que se empenhava em ajudá-lo a crescer.

Nas primeiras vezes em que viu Marco, ele até imaginou que se tratasse de um daqueles homens que acreditavam que o dinheiro poderia comprar tudo, inclusive as pessoas. Mas logo reconheceu que estava enganado e se sentiu envergonhado por ter pensado aquilo. Em uma de suas conversas, de forma muito tranquila, Marco comentou sobre essas questões.

— Já houve alguns caras que se aproximaram de mim por interesse e eu até caí na conversa de um deles. Você sabe como é esse mundo, não é? Mas aprendi a lidar com isso. Depois dessa experiência, quando algum cara olhava para mim como se eu fosse um cash, eu pagava um drinque para ele, só para alimentar um pouco as suas ilusões. Depois eu o mandava continuar na caçada, já que eu não caí na armadilha.

Observando como Marco lidava com diferentes situações e problemas, Alan ia aprendendo a ser também uma pessoa mais confiante em si mesmo. Às vezes, ele até brincava de imitar o jeito meio indiferente e autoritário que o namorado usava para falar com as pessoas.

— Alan! Eu sou assim? — perguntava Marco com falso espanto.

Passava das dezoito horas e a secretária já havia ido embora. Antes de entrar, Alan bateu levemente na porta. Sentado atrás de sua mesa, Marco levantou os olhos da tela do notebook e sorriu para ele.

— Entra aí, Alan.

— Adoro ver você sentado nessa cadeira trabalhando. Você fica lindo aí!

Marco havia tirado o paletó, que estava cuidadosamente estendido no encosto da cadeira. Seu tórax musculoso se destacava dentro da camisa branca abotoada até o pescoço, de onde descia a gravata lilás. Por baixo da mesa, dava para ver seus sapatos grandes e lustrosos. Marco era um profissional que zelava muito pela própria imagem.