CAPÍTULO_6

584 47 10
                                    

A chuva que começou à noite ainda caía pela manhã. Marco abriu os olhos, sem saber que lugar era aquele. Ao puxar o lençol para se proteger do frio, ele tomou consciência de que havia uma perna em cima das suas e uma mão sobre sua cintura. Ao tentar se mover, ele sentiu o corpo junto às suas costas e, finalmente, sua mente despertou.

Aquela era a casa de Alan e ele estava na cama em que os dois haviam transado antes de dormir. Com cuidado para não acordá-lo, ele se acomodou melhor, puxou o lençol sobre os dois e ficou de olhos fechados, sentindo-se muito bem por estar naquela cama com Alan, num domingo chuvoso. Mais tarde, quando ele se levantou, o outro se moveu um pouco, encolheu-se e continuou dormindo.

Um ensaio da camgirl Aurora
Após um rápido banho, Marco pegou emprestadas a bermuda e a camiseta de Alan. Ao se olhar no espelho, ele se admirou ao ver como a roupa do rapaz ficou bem em seu corpo. Era uma vantagem ter um namorado que possuía um físico parecido com o dele.

Alan continuava dormindo todo encolhido. Seus cabelos lisos caíam sobre a testa, e isso lhe dava a aparência de um garoto indefeso. Olhando para aquela imagem, Marco se perguntava como ele se sentia por ter vivido todos aqueles anos sem conhecer sua própria origem. Por mais que Alan dissesse que não se importava com isso, Marco sabia que, no fundo, ele ainda tinha o desejo de conhecer o pai.

Sempre que pensava nisso, Marco tinha vontade de fazer alguma coisa para encontrar esse homem, mas não sabia sequer por onde começar. Nas vezes em que tentou conversar sobre esse assunto, ele percebeu que aquela história era um trauma na vida de Alan, e compreendeu que o rapaz preferia não falar sobre o pai que o abandonou antes mesmo do seu nascimento.

Ao refletir sobre esse caso, Marco levantava algumas hipóteses. Talvez a mãe dele não revelasse o nome do pai da criança por ele ser um homem casado. Ou, talvez, porque ele era um criminoso, um traficante, um assassino. Talvez ela tivesse sido violentada e ficou com medo e vergonha de contar para a família. Talvez esse homem já estivesse morto.

Mas tudo isso eram suposições e seria quase impossível saber a verdade. Pelo que Alan havia lhe contado, a mãe dele estava com dezenove anos quando ele nasceu e morava com a irmã mais velha, que, mesmo contra à sua vontade, criou aquele garoto sem pai e órfão de mãe. Marco ficava intrigado com essa história e imaginava como seria ficar frente a frente com esse homem desconhecido. Olhando para Alan, ele se perguntava por que o pai não quis aquele filho. Marco já estava quase conformado com a ideia de que, talvez, nunca conhecesse o sogro. Aliás, ele se perguntava se o pai de Alan o aceitaria como genro.

Mas, além da curiosidade, havia também o medo. Talvez fosse melhor que ele e Alan nunca conhecessem a verdade. O rapaz agora estava com ele, que o ajudaria a superar o passado e juntos poderiam escrever uma nova história. Eles eram namorados, amantes e amigos, e já estavam se tornando uma família. Com suas diferenças, eles se completavam e iam construindo uma história muito interessante.

Deixando o garoto dormindo, Marco saiu de carro e foi providenciar algo para o almoço. Ele estava com muita fome e se lembrou de que havia gastado muita energia com a foda da noite. Alan sempre pegava pesado e ele não negava fogo. Dando dois tapinhas no volante, ele falou sozinho:

— Que namorado gostoso do caralho! Puta que pariu!

De volta à casa de Alan, enquanto descia do carro com as sacolas, Marco era observado pelo marido da vizinha, que estava curioso com a presença daquele homem que dirigia um carrão de fazer inveja. Enquanto ele procurava no bolso a chave da casa, que havia levado para não precisar acordar o namorado, o vizinho tentou puxar conversa:

— Bom dia, doutor. Tudo bem com o Alan?

Com sua natural indiferença por algumas pessoas, Marco respondeu:

 COINCIDÊNCIAS DO DESTINOWhere stories live. Discover now