CAPÍTULO_8

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A sexta-feira foi de muito trabalho para Marco. Pela manhã, ele se dedicou a analisar projetos, rever contratos e tomar decisões importantes para a empresa, o que exigia muita concentração. Mesmo assim, sua mente também se ocupava em procurar a melhor forma de resolver o problema enfrentado por Alan. Marco se sentia culpado pela briga em que o namorado havia se envolvido com o vizinho e, também, por ele estar sendo apontado como um puto na rua onde morava. Aquele problema era dos dois, por isso eles deveriam resolvê-lo juntos.

Mas, na verdade, Marco não considerava um problema o fato de que o namorado teria que sair daquela casa. Para ele, seria um alívio tirá-lo dali. Ele nunca falou sobre isso, mas ficava triste ao ver a precariedade em que Alan vivia naquele lugar. Às vezes, ele queria ajudar, mas não sabia como fazer isso sem que o outro se sentisse inferiorizado.

Um ensaio da camgirl Aurora
O engenheiro era um homem prático e sabia que, num relacionamento, era necessário ser cauteloso com assuntos que envolvessem dinheiro. Ele conhecia muitas histórias de jovens rapazes que viviam em busca de um homem mais maduro e estabilizado para lhes dar uma boa vida. Mas ele já sabia que Alan não era desse tipo. Conversando com um amigo que se assumia como um sugar daddy, Marco reconhecia que esse tipo de relacionamento até poderia ser bom para alguns homens, mas esse não era o seu caso. E nem era o caso de Alan.

O garoto não lhe pedia nada e nem lhe falava sobre suas dificuldades, limitando-se a aceitar os presentes que ele lhe dava e outras coisas que ele fazia disfarçadamente, como exagerar nas compras que levava quando ia dormir na sua casa, dizendo que eram coisas para os dois.

Alan percebia o sentido daqueles cuidados, e agradecia sincero:

- Você não tem jeito mesmo! Obrigado, Marco!

***

Namorar Alan era uma experiência muito diferente na história de Marco. Ao longo de sua vida, ele já havia se relacionado com diferentes parceiros e acumulado várias experiências. Mas namorados, ele só teve três, e não ficou com nenhum deles por muito tempo. Ele se considerava uma pessoa muito independente para manter um relacionamento fixo com alguém que quisesse prendê-lo.

Marco se lembrava de um namorado que passou a querer agir o tempo todo da mesma forma como agia na cama. Esse rapaz acreditou que, pelo fato de Marco ser passivo e gostar de ser tratado com brutalidade durante a transa, ele poderia tratá-lo de forma autoritária e desrespeitosa em todas as situações e em qualquer lugar.

Marco ainda estava com vinte e sete anos, mas já sabia que aquilo que fazia na sua intimidade era só uma parte de sua vida. Fora da cama, ele jamais daria a outro homem o direito de controlá-lo e tratá-lo como se não tivesse vontade própria. Depois de uma transa em que Marco levou muitas cacetadas no cu, alguns tapas na bunda e no rosto, e terminou levando uma quente mijada na cara, surgiu uma discussão entre os dois e ele deixou claro que sua vida não era só aquilo e que ele não se submetia a ninguém. O rapaz, querendo humilhá-lo, perguntou com deboche:

- Qual foi? A senhora está nervosinha?

Diante disso, Marco se exaltou e mandou que o outro calasse a boca, mas o rapaz se irritou e levantou a mão para ele. Para sua surpresa, Marco pegou o braço dele no ar, prendeu com força, e lhe mostrou que aquela era uma conversa de homens. Depois daquilo, os dois não se viram mais e Marco se tornou mais criterioso em relação aos homens com os quais se envolvia.

***

Agora, com mais de quarenta anos, ele se via apaixonado por Alan. Às vezes, Marco tentava olhar friamente para aquela história, para ver se não estava agindo como um adolescente, que mergulha de cabeça numa paixão sem pensar nos problemas que ela poderá trazer para sua vida. Por mais que gostasse de Alan, ele tinha receio de estar sendo precipitado ao se envolver tanto com uma pessoa tão diferente dele. Porém, quanto mais pensava sobre isso e convivia com o rapaz, mais ele se sentia seguro para levar aquela história adiante. Neste e em tantos outros relacionamentos, era preciso correr algum risco. Por Alan, valeria se arriscar.

 COINCIDÊNCIAS DO DESTINOOnde histórias criam vida. Descubra agora