Capítulo 35

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Antonella

Depois de alguns anos parei de tentar lembrar-me do dia em que meu pai foi morto.

Sempre disse para todos que não me lembrava, mas isso é totalmente verdade. Lembrava de algumas coisas, que preferi esquecer, mas as perguntas e insinuações do Mikhail estão me fazendo reviver tudo.

Minha lá cabeça está a mil, tento fechar os olhos para esquecer, esquecer tudo o que vi e ouvi atantos anos atrás.

— Você está bem? — Mikhail tenta segurar meu ombro mas me afasto. Sempre evitei as lembranças, mas por culpa dele tudo está passando pela minha mente de novo.

Meu pai nunca falou sobre minha mãe, e não consigo me lembrar dela. Não sei se está viva ou morta, ou qualquer outra coisa sobre ela.
Ele era minha única família e eu sabia o que ele fazia, sabia da máfia.
No dia da sua morte, papai ouviu carros do lado de fora da nossa casa e me mandou correr para o quarto e ficar lá até que ele ordenasse. E eu obedeci. Antes de deixar a sala, o vi tirar sua arma da gaveta onde sempre guardava e mesmo nova, eu senti que nunca esqueceria aquele dia.

No quarto, eu só ouvia barulhos de homens gritando, insultando meu pai e chamando-o de traidor. Depois ouvi um tiro, então, na inocência, corri para ver se meu pai estava bem. Do corredor, consegui ver ele gritando de dor com a perna sangrando.
Mesmo estando de costas, consegui ver que o homem que estava no centro e gritava com meu pai, era jovem, alto, forte. Ele continuo gritando, mesmo vendo meu pai gritar de dor.

Eu olhava tudo sem saber o que fazer, na verdade eu sabia que não havia nada para fazer. Até que ele levou a arma e mirou na cabeça do meu pai, não pensou duas vezes e atirou.

— AHH — não consegui segurar o grito e saí correndo, na minha cabeça, eles fariam o mesmo comigo.

O homem que veio atrás de mim não é o mesmo que matou meu pai. Ele disse que estava tudo bem e que não me machucaria. Mas eles já tinham machucado ao tirar de mim a única família que tinha.

Depois disso não lembro de muito, só que horas depois fui levada para o orfanato onde cresci.

— Você está bem? Não precisa chorar — a voz de Mikhail me tira do meu devaneio.

Merda. Limpo as lágrimas do meu rosto. Por isso eu sempre preferi esquecer tudo isso. Não posso mudar nada do que aconteceu, por quê me atormentar tanto.

— Você não precisa me contar nada Mikhail, eu sei muito bem como meu pai foi morto! — ele arregala os olhos.

Mikhail fica em silêncio por algum tempo. Não sei qual era seu plano, mas com certeza minhas palavras não faziam parte do seu roteiro.

— Mas sabe quem o matou? — suspiro e nego com a cabeça.

— Não faz diferença alguma. Ele está morto e nada vai mudar isso. Não sou como você ou como o Lorenzo, eu não preciso me vingar. Não me interessa quem matou meu pai.

— Nem se eu disser que você conhece a pessoa que tirou a vida do seu pai?

Seu joguinho me deixa nervosa. Saber quem fez isso não mudará nada para mim, mas seu tom me assusta, tenho medo das suas próximas palavras.

Me levanto.

— Se você quiser me falar quem fez isso, mesmo que não mude nada, pode fazê-lo, se quiser me matar, também pode, mas para de fazer a merda desse jogo comigo, eu já passei e estou passando por muita coisa para ter que aturar sua rivalidade com Lorenzo, ou seus estranhos planos de vingança. Você está doente cara, como pode me fazer vestir a roupa da sua esposa morta e usar o perfume dela — suspiro — Nem o Lorenzo é tão louco assim.

Me viro e saio andando voltando para o quarto que estou sendo mantida em cárcere, e mesmo que isso possa o deixar irritado, estou cansada de tudo isso, como se não bastasse me sequestrar e maltratar por uma vingança estúpida, agora ele está metendo meu pai na história.

— LORENZO MATOU SEU PAI — ele grita quando ainda estou subindo o primeiro degrau das escadas que levam para o quarto.

Não consigo me mover.
Suas palavras se repetem sem parar na minha cabeça.
Lorenzo matou seu pai. Lorenzo matou seu pai. Lorenzo matou seu pai. Lorenzo matou seu pai. Lorenzo matou seu pai. Lorenzo matou seu pai.

Consigo sentir as batidas do meu coração se acelerarem, na verdade, meu peito dói. E o ar parece sumir.

— Me..mentira — minha voz está trêmula e meus olhos não conseguem segurar as lágrimas.

Finalmente me viro. Ele precisa dizer olhando nos meus olhos que isso é mentira.

— Eu sinto muito Antonella, mas Lorenzo matou Piero Valentini, seu pai.

A cada palavra que sai da sua boca, ouço-o mais e mais distante, até que não ouço mais nada e tudo fica escuro.

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