Capítulo 22

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Raul estava sentado em uma banqueta na porta da clínica observando o movimento da rua. Parte dele não conseguia acreditar que, agora, estava do outro lado da realidade. Àquela hora, quase meio dia, dias antes, estaria nos semáforos, tentando conseguir alguns trocados com seus malabarismos. Mas não mais.

Ele via as pessoas passarem de um lado para o outro e algumas até o cumprimentavam. Finalmente, estava deixando de ser invisível. Os homens, sempre tão ocupados com suas vidas, agora, eram capazes de enxergar aquele rapaz alto, esbelto e de bom coração. De certa forma, era como se, antes, a sujeira de sua pele e o rasgado de suas roupas o ocultasse do olhar humano.

A invisibilidade sempre foi a sua maior inimiga.

— É Raul, né? — de repente, a voz de Ludmilla soou pela recepção vazia.

O jovem rapaz, que olhava para a rua com o olhar distante, virou-se e respondeu, simpático:

— Sim.

— A Lorena mandou te avisar que ela só vai finalizar com um paciente e, então, vai descer para vocês irem almoçar.

— Ah... — Raul murmurou sem jeito e completou: — Obrigado.

— Vocês são parentes? Porque tá podendo, hein? Almoçar com a chefe...

— Não... Nós não somos parentes.

Ludmilla ergueu as sobrancelhas, surpresa e confusa, e até pensou em dizer algo mais, mas não pôde, pois logo viu Lorena e Cecília se aproximando enquanto conversavam entre si.

— Estamos indo lá, Ludi — disse Lorena ao atravessar a recepção.

— Se a Valéria aparecer, diga que eu vou atrasar 10 minutos — avisou Cecília.

— Por que você vai atrasar? — questionou Lorena passando por Raul e acenando para ele, para que a seguisse.

— Tenho que passar no banco para resolver aquele problema no meu cartão.

— Continuam te cobrando?

Cecília assentiu e trocou um beijo na bochecha com a amiga, dizendo na sequência:

— Amanhã, eu juro que almoço com você.

Lorena riu ao ver Cecília correr até sua Range Rover estacionada mais à frente.

— Bom, então somos só nós. Vamos lá?

Raul e Lorena seguiram para o Pajero que estava entre dois outros carros.

— Eu não sei porque tem gente que gosta de estacionar tão grudado! — exclamou a loira abrindo a janela do motorista e colocando o cinto de segurança.

— Quer que eu desça para olhar para você? — perguntou Raul.

— Não, acho que aqui dá...

A loira alternou os olhares entre os retrovisores e a câmera de ré, fazendo uma verdadeira manobra para tirar o carro da vaga.

— Nossa, você fez um verdadeiro milagre — disse Raul, olhando para trás e vendo a vaga apertada.

— Todo dia é isso.

Com os olhos no trânsito, Lorena escutou o jovem rapaz rir abafado, então o olhou de relance e não conteve a curiosidade:

— Você sabe dirigir?

— Não.

— Tem vontade de aprender?

Raul fez uma careta, de maneira que Lorena percebeu e riu, perguntando:

— O que foi?

— Eu tenho um pouco de medo...

— Medo?

O Malabarista - ConcluídaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora