Capítulo 44

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Carlos deu duas leves batidas na porta entreaberta do quarto e entrou, encontrando Lorena conversando com Raul, que a fitava como se quisesse absorver cada palavra sua.

— Oi, Loira! — Disse ele ao entrar. — Andressa te deu o meu recado?

Mas por mais alta e clara que tenha soado sua voz, Carlos não foi escutado por Lorena, que estava demasiadamente absorta no olhar de Raul, enquanto lhe contava sobre Kevin e sua dedicação na escola.

E é claro que, diante daquilo, o coração ainda levemente apaixonado de Carlos descompassou. Ele terminou de entrar no quarto, mas só foi notado quando já estava próximo da cama. Foi quando Lorena se virou e o viu.

— Oi, Carlos.

— Oi, Lori! — O homem respondeu, sempre simpático, apesar de estar um pouco chateado.

— Nem vi a hora que você entrou.

Carlos apenas ergueu as sobrancelhas e tirou uma pequena lanterninha do bolso do jaleco. Então, aproximando-se da cama, fez um rápido exame em Raul, testando os seus reflexos sob o olhar aliviado e feliz de Lorena, que não soltou a mão do jovem rapaz desde que havia chegado.

— Pode mexer os dedos do pé para mim, Raul? — Carlos perguntou.

Demorou alguns instantes para que o jovem rapaz fosse capaz de realizar um simples movimento nos pés, mas conseguiu,

— Muito bem, rapaz. Muito bem — Carlos disse com os pensamentos distantes e, em seguida, caminhou na direção da porta, dizendo: — Vou deixar vocês a sós.

Lorena, que, de tão feliz, não havia notado o olhar chateado do amigo, não disse nada quando Carlos saiu do quarto, apenas mergulhou novamente nos olhos castanhos de Raul e ficou ali, absorta em seus pensamentos otimistas.

Estava a vida sorrindo novamente?

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Carlos, que, além de cirurgião, era o diretor daquele hospital, estava em sua sala, resolvendo algumas questões burocráticas, quando viu Lorena entrar. Então desviou sua atenção dos papéis sobre a mesa e perguntou:

— Já está indo?

— Estou. Eu deixei os meninos em casa... Me chame de louca! Mas...

Riram juntos e, então, Lorena completou:

— Eu precisava vir ver o Raul e... Você sabe, todos os dias eu tenho que fazer acrobacias para dar conta de todas as áreas da minha vida.

— Você faz milagre, Lori.

— É, mas...

A loira passou uma mão pelos cabelos e suspirou, dizendo:

— Eu sinto que estou me matando com essa rotina, sabe?

— Imagino...

— A Bia dorme de tarde e aí, quando chega à noite, ela fica acordada. E eu acabo não dormindo também, né? Daí, no dia seguinte, eu vou cedo para a clínica e é paciente atrás de paciente...

Lorena suspirou outra vez.

— Estou pensando seriamente em assumir só a parte administrativa da clínica e... Sei lá. Curtir a minha filha, sabe? Além do mais, agora que o Raul acordou, ele vai precisar de assistência e... Como vou ajudá-lo se eu trabalho das 8 às 18?

— Ele é um rapaz de sorte — disse Carlos, admirado.

— Por falar em sorte, você acha que ele está se recuperando bem?

O Malabarista - ConcluídaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora