Capítulo 47

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20 DIAS DEPOIS

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20 DIAS DEPOIS

Ouvi duas batidas na porta do banheiro e, logo em seguida, a voz de Lorena soou do lado de fora:

— Está tudo bem aí, Raul?

Terminei de afivelar o cinto da calça, notando que, mesmo assim, o jeans ficava um pouco frouxo, e abri a porta com certa dificuldade. Minhas mãos ainda vacilavam.

— Estou sim — respondi por fim ao ver Lorena.

Ela me olhou por alguns segundos e, logo em seguida, se aproximou de mim, ajeitando a gola da minha camisa que eu nem havia percebido que estava desarrumada.

— Acho que emagreci além da conta — brinquei percebendo que a camisa havia ficado relativamente grande.

Lorena sorriu largo e, com uma mão no meu ombro, disse com seu jeito engraçado:

— Esse problema, a comida da Gilda resolve.

Ri baixo. Lorena, sempre me fazendo rir.

— Realmente, eu sinto falta da comida dela... E dela também, é claro.

— Ela vai gostar de saber disso.

Rimos juntos e, então, o silêncio se instalou de repente. Algumas coisas pareciam não terem mudado.

— Bom, então vamos! — Lorena disse de repente, se afastando de mim e apanhando a bolsa que estava sobre a cama.

— Pode deixar que eu levo a bolsa — falei, pois sabia que ali estavam algumas coisas minhas. Nada mais justo do que eu carregar.

Mas Lorena girou sobre seus calcanhares, me fazendo rir antes de qualquer palavra, e disse:

— Não, senhor. Você ainda está de repouso.

— Mas ela não está pesada.

— Raul... — Ela disse meu nome com um tom de advertência e eu me entreguei, risonho:

— Está bem. Você venceu.

Ela me jogou uma piscadela divertida e, então, saímos do quarto.

No caminho, até o estacionamento, uma série de pessoas vieram me cumprimentar. Muitas pessoas, eu sequer conhecia, mas, mesmo assim, aceitei os cumprimentos. Afinal, de certa forma, eu sabia que havia voltado à vida através de um milagre.

— Alguém está famoso, hein! — Lorena exclamou assim que entramos no carro.

Acho que senti falta até do aroma que sempre abraçava seu carro. Aquele aromatizante que Lorena usava, combinado com o frio do ar-condicionado, foi minha pedra de tropeço na noite em que ela levou Kevin e eu para casa, pois sentia vergonha do contraste entre a polidez do veículo e a sujeira do meu corpo. Mas, agora, aquele cheiro me acolheu. Eu me sentia em casa.

— Acho que nunca cumprimentei tanta gente na minha vida — falei colocando o cinto de segurança.

— Todos estavam torcendo pela sua melhora. E te ver assim, bem, é...

O Malabarista - ConcluídaWhere stories live. Discover now