Capítulo 58

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Lorena não teve a coragem necessária para conversar com o psiquiatra a sós, recorrendo a Raul, pois, ao seu lado, as dificuldades sempre pareciam mais fáceis de encarar. Então o casal de namorados adentrou o consultório do aclamado Dr. Gregório, um homem de semblante muito sério, mas que, apesar disso, trazia grande compaixão em seu tom de voz.

— Bem, — o psiquiatra cruzou as mãos sobre a mesa e escolheu cuidadosamente as palavras, pois não queria deixar dúvidas — ao que me parece, o Bernardo sofreu uma dissociação, ou seja, ele se desconectou da realidade por um momento, o que pode explicar o seu sumiço temporário e a sua falta de memória com relação a onde esteve nos últimos dias. Mas, quanto ao que desencadeou isso, eu ainda não tenho uma explicação muito clara. Ele apenas soube me dizer que estava se sentindo triste antes de tudo acontecer. Ele está passando por algum estresse, talvez, na escola ou em casa...?

Lorena, que mal conseguia piscar, olhou de relance para Raul, como se buscasse por forças, e, então, depois de um pequeno suspiro, respondeu com os olhos em suas próprias mãos:

— A culpa disso tudo é minha. Eu fiz isso com o meu filho.

Dr. Gregório não soube o que dizer.

— Se ele andava triste — Lorena continuou — e eu não percebi, a culpa é toda minha. Fui eu que o deixei assim. Se eu não tivesse sido tão irresponsável e imprudente, o meu filho seria feliz hoje. Mas eu expus ele a coisas que nenhuma criança deveria ser exposta.

Lorena cobriu o rosto com uma mão e tentou suprimir o choro, mas foi impossível conter a avalanche de sentimentos que a atingiu de repente.

— Como ele vai ficar agora? — a loira perguntou com a voz embargada, fitando o psiquiatra pela primeira vez.

— Quanto a isso, primeiramente, eu gostaria de dizer que nem tudo está perdido. Ele ainda é novo e tem tudo para conseguir seguir em frente. Mas, para isso, vai ser preciso tratar os traumas que ele tem, de modo que não ocorra mais um episódio como este. Dissociação é um mecanismo de defesa para situações de muito estresse, e, às vezes, ela pode até ser útil, mas é muito preocupante quando ela se torna frequente. Então o melhor a se fazer é evitar que isso volte a acontecer com ele.

— E o que eu devo fazer? — perguntou Lorena, que já estava melhor novamente.

— Olha, eu recomendo que você o leve a uma terapia. Não quero receitar antidepressivos nesse primeiro momento, porque o Bernardo ainda é muito novo para depender de remédios. Por isso, uma terapia é um bom começo. Então vamos iniciar com um tratamento mais sutil. Se caso não houver uma melhora, partiremos para algo mais severo. Mas eu acredito que isto já o ajudará muito! Ele me parece um garoto que guarda muita coisa para si e isso, na idade dele, é muito nocivo. A terapia vai ajudá-lo a colocar para fora aquilo que o está incomodando.

Gregório sorriu por baixo do bigode e completou:

— Ele é um garoto forte. Tenho certeza que vai conseguir superar isto.

Lorena apenas torcia para que aquele psiquiatra estivesse certo, pois, mais difícil do que perdoar os outros pelos seus defeitos, era perdoar a si mesma pelo que havia feito ao seu próprio filho.

Por que a vida tem que ser tão indelicada ao cobrar de nós as consequências das nossas más escolhas?

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Raul abriu a porta de vidro que dava acesso aos fundos da casa ao ver Lorena sentada em um dos sofás, encarando a piscina como se quisesse cair dentro dela. Ao se aproximar, a fim de se despedir da loira, pois precisa ir para casa, sua casa, viu que, sobre a mesinha disposta ao lado do sofá, havia uma garrafa de vinho aberta e uma taça.

O Malabarista - ConcluídaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora