Capítulo 69

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Eu passei praticamente todo o dia com a mente distante

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Eu passei praticamente todo o dia com a mente distante. No curso, não absorvi nenhuma das palavras dos professores. Minha cabeça estava nas nuvens. Gêmeos? Não dava para acreditar.

Quando cheguei em casa, fui correndo procurar Lorena. Depois do ultrassom, quase não tivemos tempo de processar a notícia. Eu mal podia esperar para comemorar com ela.

Porém, assim que abri a porta do nosso quarto, a encontrei sentada na cama com um semblante sério. Seu rosto levemente vermelho e seus olhos cravados na televisão, denunciavam o esforço imenso que ela estava fazendo para não chorar.

— Aconteceu alguma coisa? — perguntei, deixando minha mochila de lado e me aproximando da cama.

Lorena desviou os olhos da televisão lentamente e, quando me fitou, respondeu quase num sussurro:

— Não.

— Tem certeza? — Sentei-me ao seu lado.

Alguns instantes de silêncio se seguiram, até que Lorena me olhou nos olhos e, sem que eu esperasse, perguntou:

— Você se importa com a nossa diferença de idade?

Fitei-a, sem resposta. Aquele assunto nunca havia surgido entre nós. E de repente...

— Não — respondi, sem desviar os meus olhos.

Lorena me encarou de volta e assim ficamos por alguns segundos, até que ela mesma rompeu o silêncio, dizendo:

— Pode ser sincero, Raul.

— Eu estou sendo sincero. Eu não... Eu... Eu nem penso nisso.

Novamente, o silêncio nos tomou. Desta vez, porém, eu o rompi, perguntando:

— Por quê?

— Eu sou um fardo pra você.

Não contive a surpresa.

— O quê? Você não... Lori, você... De onde você tirou isso? Você não é um fardo para mim.

Lorena enxugou a lágrima solitária que desceu pelo seu rosto e se virou para mim, dizendo com aparente impaciência:

— Uma mulher de quase trinta e seis anos, três filhos e um divórcio na conta é o que, Raul?

— O amor da minha vida — respondi sem pestanejar.

— O amor da sua vida... — Lorena repetiu enquanto sorria um sorriso descrente e triste.

— Não acredita em mim?

— Eu acredito em você, Raul. Mas eu acho que você merecia alguém melhor.

— E quem poderia ser melhor do que você?

Lorena riu, mas o seu riso não era o de sempre, aquele que eu amava, aquele que era contagiante. O seu riso, dessa vez, soou pesaroso, frustrado.

— O que não falta são pessoas melhores do que eu, Raul.

O Malabarista - ConcluídaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora