Olhei as horas no relógio que estava sobre o criado-mudo e constatei que eram exatamente 2:45 da manhã. Eu havia acabado de amamentar Beatriz e, agora, ela estava dormindo novamente. Sua gripe estava melhorando, mas, em contrapartida, eu estava começando a ficar cansada.
Então, sonolenta, resolvi descer para a cozinha a fim de preparar um chá antes de tentar dormir novamente. Se querem saber, já faz, pelo menos, 1 ano que não durmo direito. Em partes, por causa da Bia, que ainda não estabilizou o sono. Mas, a bem da verdade, parece que já me acostumei a dormir pouco.
Ao chegar à cozinha, acendi a luz em meio a um bocejo que foi interrompido assim que vi Raul em pé em frente à pia. É impossível descrever o tamanho do susto que eu levei. Só não gritei mais alto porque tampei a boca.
— Raul do céu, que susto! — exclamei rindo.
Ele se virou, pois estava de costas para mim, e também riu abafado:
— Desculpa. Eu não queria te assustar.
— O que você estava fazendo aí no escuro?
— Eu vim tomar um remédio e não quis acender a luz para não acordar ninguém.
Ri internamente. Ele, sempre muito preocupado com os outros.
Caminhei até o armário e apanhei uma pequena chaleira; enchi de água e coloquei sobre o fogo. Então me escorei ao lado do fogão e perguntei:
— Tá tudo bem?
— Sim, só um pouco de dor de cabeça.
— Qual remédio você tomou?
— Dipirona mesmo.
— Quer chá? — perguntei tirando duas xícaras do armário.
— Acho que vou querer um pouco. Inclusive, me desculpe por ter mexido na sua cozinha, mas é que eu precisava de um pouco de água para tomar o remédio.
Olhei-o com um olhar brincalhão enquanto levava as xícaras até a bancada, o que o fez sorrir um sorriso que insistia em me derrubar.
— Sinta-se em casa, Raul. Pode mexer na geladeira, colocar os pés em cima do sofá... Eu não ligo.
Ele sorriu outra vez e disse, enquanto eu tirava a chaleira de cima do fogão e voltava à bancada:
— Não sei se consigo ficar tão à vontade.
Abri a caixinha que abrigava os diversos sachês de chá e virei para ele, dizendo:
— Escolhe um.
Assim ele o fez.
— Vamos ter que trabalhar a sua timidez, Raul — falei escolhendo meu chá.
Mesmo sem olhá-lo, ouvi-o rindo baixo. Então, quando levantei o olhar, ele disse:
ESTÁ A LER
O Malabarista - Concluída
SpiritualRaul é um morador de rua que perdeu sua mãe e, desde então, vive debaixo de um viaduto com o seu irmão mais novo chamado Kevin, de apenas 7 anos. Ele vive sem muita esperança de ter a sua sorte mudada, embora esteja sempre consolando o seu irmão, di...