De madrugada, eu acordei de repente e senti falta de Raul na cama, mas quando vi a porta de vidro que dava para a pequena sacada levemente aberta, deduzi logo que ele estava lá fora, o que não deixou de me surpreender. Afinal, Raul não era de acordar no meio da noite, exceto quando acontecia algo. Por isso, me levantei e fui até ele, que, como eu presumi, estava debruçado sobre o parapeito olhando fixamente para a praia que estava logo ali em frente.
— Está tudo bem? — perguntei ao me aproximar, o que o fez se virar de uma vez, como se tivesse se assustado.
— Está, sim — Raul respondeu, esforçando-se para sorrir.
Eu o conhecia muito bem e por isso sabia que, apesar do seu tom de voz sempre sereno e do seu semblante que parecia querer transparecer tranquilidade, algo o estava incomodando.
— O que está fazendo aqui fora a essa hora? — perguntei, tentando fazê-lo me contar o que havia de errado.
— Ah, eu só estava... Sei lá. É que eu perdi o sono e resolvi vir ficar um pouco aqui fora.
Raul nunca perdia o sono. Na verdade, às vezes, ele dormia até demais. Por isso, a estranheza de sua insônia.
— O que te fez perder o sono?
— Não sei. Talvez, eu só esteja cansado.
Ele passou uma mão pelo rosto e fez menção de voltar para o quarto, mas eu o detive com minhas palavras:
— Pode me contar, amor. O que foi?
— É bobagem — ele desconversou enquanto coçava a nuca.
— Não é bobagem se te faz perder o sono — argumentei.
Raul resistiu por mais alguns instantes, mas, por fim, voltou-se na minha direção e perguntou num tom que revelava a sua profunda hesitação:
— Você está feliz com nós dois?
De todas as coisas possíveis, eu nunca imaginei que se tratasse daquilo. E justamente por isso, a princípio, eu fiquei sem palavras para responder. Eu achava que a minha felicidade estava óbvia, porém, depois da pergunta de Raul, já não pude mais ter muita certeza.
— Claro que eu estou, amor — respondi, por fim. — Por que você está perguntando?
Ele deu de ombros e disse que não era nada, desconversando outra vez. E, novamente, eu o detive, desta vez, porém, segurando seu braço.
— Ei, vem cá.
Puxei-o para perto e quis saber mais uma vez:
— O que está acontecendo?
— É que...
Raul pausou por um momento, como se buscasse pelas palavras mais adequadas. Por fim, confessou em meio a um suspiro:
— Eu acho que estou fazendo tudo errado.
— Tudo errado?
— Você não está feliz comigo e...
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O Malabarista - Concluída
SpiritualRaul é um morador de rua que perdeu sua mãe e, desde então, vive debaixo de um viaduto com o seu irmão mais novo chamado Kevin, de apenas 7 anos. Ele vive sem muita esperança de ter a sua sorte mudada, embora esteja sempre consolando o seu irmão, di...