Capítulo 71

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De madrugada, eu acordei de repente e senti falta de Raul na cama, mas quando vi a porta de vidro que dava para a pequena sacada levemente aberta, deduzi logo que ele estava lá fora, o que não deixou de me surpreender

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De madrugada, eu acordei de repente e senti falta de Raul na cama, mas quando vi a porta de vidro que dava para a pequena sacada levemente aberta, deduzi logo que ele estava lá fora, o que não deixou de me surpreender. Afinal, Raul não era de acordar no meio da noite, exceto quando acontecia algo. Por isso, me levantei e fui até ele, que, como eu presumi, estava debruçado sobre o parapeito olhando fixamente para a praia que estava logo ali em frente.

— Está tudo bem? — perguntei ao me aproximar, o que o fez se virar de uma vez, como se tivesse se assustado.

— Está, sim — Raul respondeu, esforçando-se para sorrir.

Eu o conhecia muito bem e por isso sabia que, apesar do seu tom de voz sempre sereno e do seu semblante que parecia querer transparecer tranquilidade, algo o estava incomodando.

— O que está fazendo aqui fora a essa hora? — perguntei, tentando fazê-lo me contar o que havia de errado.

— Ah, eu só estava... Sei lá. É que eu perdi o sono e resolvi vir ficar um pouco aqui fora.

Raul nunca perdia o sono. Na verdade, às vezes, ele dormia até demais. Por isso, a estranheza de sua insônia.

— O que te fez perder o sono?

— Não sei. Talvez, eu só esteja cansado.

Ele passou uma mão pelo rosto e fez menção de voltar para o quarto, mas eu o detive com minhas palavras:

— Pode me contar, amor. O que foi?

— É bobagem — ele desconversou enquanto coçava a nuca.

— Não é bobagem se te faz perder o sono — argumentei.

Raul resistiu por mais alguns instantes, mas, por fim, voltou-se na minha direção e perguntou num tom que revelava a sua profunda hesitação:

— Você está feliz com nós dois?

De todas as coisas possíveis, eu nunca imaginei que se tratasse daquilo. E justamente por isso, a princípio, eu fiquei sem palavras para responder. Eu achava que a minha felicidade estava óbvia, porém, depois da pergunta de Raul, já não pude mais ter muita certeza.

— Claro que eu estou, amor — respondi, por fim. — Por que você está perguntando?

Ele deu de ombros e disse que não era nada, desconversando outra vez. E, novamente, eu o detive, desta vez, porém, segurando seu braço.

— Ei, vem cá.

Puxei-o para perto e quis saber mais uma vez:

— O que está acontecendo?

— É que...

Raul pausou por um momento, como se buscasse pelas palavras mais adequadas. Por fim, confessou em meio a um suspiro:

— Eu acho que estou fazendo tudo errado.

— Tudo errado?

— Você não está feliz comigo e...

O Malabarista - ConcluídaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora