Capítulo 72

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Tudo mudou após a nossa viagem de final de ano que não saiu nada como o planejado

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Tudo mudou após a nossa viagem de final de ano que não saiu nada como o planejado. Até pareceu que o único propósito das nossas férias foi trazer para o meio de nós uma espécie de névoa, que nos impedia de vislumbrar a resposta para certas dúvidas que continuavam à espreita.

Raul e eu não tocamos mais no assunto daquela madrugada. Havia um pequeno, mas peculiar, elefante na sala, mas nós dois, cada qual à sua maneira, dávamos um jeito de contorná-lo. Claro que não era a atitude mais sábia, estávamos cientes disso. Mas o mais provável era que nenhum de nós queria encarar o fato de que estávamos passando por uma crise sem precedentes.

Certa noite, quando já estávamos na cama, eu lia um livro quando Raul, que não fazia nada deitado ao meu lado, se virou para mim e perguntou:

— O que você acha de eu entrar para a academia?

Olhei-o com certa surpresa e perguntei sem pensar duas vezes:

— Desde quando você gosta de academia?

Ele deu de ombros e respondeu:

— Eu nunca fui em uma.

— E porque logo agora você quer ir?

Assim que as palavras saíram pela minha boca, eu me dei conta de que, talvez, estivesse sendo controladora demais. Por isso, tentei consertar imediatamente, dizendo:

— Mas é você que sabe.

Não foi o melhor remendo, ainda assim, pareceu servir de incentivo para Raul que, no dia seguinte, se matriculou numa academia. Não poderia dizer que não liguei. Afinal, não era do feitio dele. Porém, convenci a mim mesma de que tudo não passava de controle meu. Até porque o pequeno elefante na sala era justamente sobre isso, sobre a liberdade de Raul. No passado, eu não o ajudei para, depois, como uma oportunista, amarrá-lo a mim. Tudo que eu sempre quis foi vê-lo feliz com sua dignidade restaurada.

Mas as mudanças não pararam por aí. Certo dia, enquanto eu acertava algumas coisas da clínica sentada na cama à noite, Raul rompeu o silêncio, dizendo:

— Eu acho que não vou mais cursar radiologia.

— Ué, por quê? — questionei com os olhos fixos no MacBook.

— Não é o que eu quero.

— E o que você quer?

Esperei por sua resposta, concentrada no que eu fazia, mas quando não ouvi nada, desviei meu olhar para Raul e o vi fitando o teto do quarto.

— O que você quer fazer? — insisti.

— Não faço ideia — ele murmurou e me olhou com um olhar indecifrável.

Eu não sabia o que era aquilo que estava nos separando. Era como se eu já não o conhecesse. Havia uma espécie de muro que me impedia de penetrar o seu coração. Estava óbvia a sua confusão. Ele tinha dúvidas e incertezas, mas eu estava de mãos atadas. Eu queria salvá-lo daquela crise, aliás, salvar nós dois, porém, para onde quer que eu olhasse, eu não via terra firme que pudesse nos servir de porto seguro.

O Malabarista - ConcluídaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora