capítulo 16

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Brisa forte e gelada, temperatura baixa, o mar, as luzes da cidade, os grandiosos aviões e Lisa ao seu lado naquela imensidão. A mente de Rosé tinha apenas uma certeza em toda a sua bagunça.

Ela não estava sozinha. Rosé não estava sozinha dessa vez.

- Park, posso dormir na sua casa? - Lisa disse com a voz baixa logo após um longo período em que as duas ficaram quietas e presas em suas próprias grades.

- Hã?

- Eu...Só não quero voltar para casa, logo de manhã eu saio. - abaixou o olhar, não queria que a garota entendesse as coisas de forma errada, apenas não estava com a cabeça para encarar ninguém, especialmente sua família.

- Pode ser, eu acho? - respondeu com incerteza na voz, ninguém dormia em sua casa desde...Bem, vocês já sabem.

- Ok, obrigada.

Depois de cerca de mais alguns cinco minutos, Rosé sentiu os olhos pesarem. Tinha andado por metade da cidade o dia inteiro, era compreensível seu cansaço. Olhou para a tailandesa que parecia ter um emaranhado de raízes parasitas profundas em seu jardim, suas sobrancelhas arqueadas e os olhos vazios, porém tão cheios do completo nada.

Cutucou o ombro da garota que se assustou com o toque repentino, Rosé assinalou com a cabeça para a saída do parque e sem nenhuma palavra trocada, ambas levantaram e se dirigiram para o metrô. No caminho, Rosé pegou o celular e mandou uma mensagem para Ryujin para que soubesse que estava chegando e também perguntando se os pais da loira estavam lá, recebendo uma resposta negativa. Isso era melhor, não queria mais confusão para sua cabeça.

- Toma, pega. - disse Lisa entregando um lado de seu fone quando sentaram já dentro do trem.

Hanabi (花火) de the peggies ecoava levemente entre as mentes das duas. Era uma das poucas vezes que Lisa colocava alguma música em japonês, a garota ela seletiva com o seu gosto pelas músicas de seu país. Rosé gostava que todas as que a tailandesa escutava, sem nenhuma excessão, possuíam tantos significados por trás que poderia ficar horas tentando analisar o que ela queria dizer com todas que já ouviram.

Mesmo se esforçando para não fechar os olhos, Rosé acabou cedendo a vontade imensa do seu corpo, deitando a cabeça no ombro de Lisa involuntariamente.

Lisa se amaldiçoava internamente. Só o que passava em sua cabeça eram as palavras de Somi. Não entendia o porquê de se incomodar tanto com a informação que Rosé namorou, e ainda ser uma garota, e por final, o fato de que a garota havia se suicidado. Sua cabeça já estava começando a doer com a mistura de Rosé, sua mãe e o show que a Night Eve iria fazer em breve. Se sentia tão pequena com todas as preocupações que martelavam incessantemente.

- Rosie... - cutucou o braço da garota após ver que se aproximavam do bairro que se encontrava a casa de Rosé. - Ei, acorda, estamos chegando.

- Hm? - coçou os olhos despertando aos poucos.

- Vem, vamos. - levantou estendendo a mão para a loira que aceitou a ajuda.

Andaram no silêncio da noite pelas ruas arrastando seus corpos. O cansaço físico pairava entre as duas, mas o que prevalecia era o mental, castigando-as sem pausa. Só queriam ter uma noite de sono boa.

Entraram tentando fazer o mínimo de barulho após a loira ter dito sobre Ryujin dormir cedo. Pé por pé, Lisa passava pela sala de estar ao lado da loira, cansada demais para prestar atenção suficiente nos detalhes da casa, seguia como um cão em uma coleira. Ao entrar no quarto de Rosé, a tailandesa conseguiu direcionar seu cérebro a pensar mais coesivamente, respirando fundo após deixar a capa do violão encostada na parede, se deitou no chão com os braços abertos, estilo quando se fazia anjinhos na neve.

given | chaelisaOnde histórias criam vida. Descubra agora