capítulo 21

641 80 42
                                    

Lisa estava deitada no colchão de sua cama, olhando para o teto do próprio quarto que não possuía nada além da luz acessa. Não estava vendo nada, apenas revivendo tudo o que tinha acontecido naqueles momentos em cima do palco e como ainda parecia irreal o que tinha feito.

O coração é como cordas de guitarra. Elas não produzem som se estiverem frouxas, você precisa puxá-las até quase estourarem e pela primeira vez elas se tornarão ondas que atingem o tímpano.

A primeira vez que Lisa subiu num palco, além de ter sido uma apresentação de merda, ela havia ficado com medo e tinha feito tudo errado. Suas mãos não se movimentaram direito e ela sentiu um nó se formar na sua garganta. Contudo, seu coração vibrou de tal forma que sentiu tudo ao mesmo tempo que nada. O sentimento de apresentar sua arte, sua paixão e praticamente sua alma para qualquer pessoa é ao mesmo tempo revigorante, emocionante e desesperador. A primeira sensação de entrar num palco e mostrar isso é algo que todos os musicistas buscam por toda sua vida, algo que nunca se repetirá, mas é almejado por qualquer um que demonstra sua música.

Lisa tinha esquecido desse sentimento. Algo tão simples, tão puro e magnífico sempre rodeava sua mente antes, porém ela havia simplesmente deixado de procurá-lo. Como pôde? Que tipo idiota era para deixar de lado uma filosofia que perduraria toda sua vida?

Ela estava completamente apaixonada e sentia que poderia chorar agora mesmo com tudo que viajava loucamente na sua mente. Droga, seu corpo tinha tantas reações com suas emoções que talvez ela chorasse mesmo.

As notificações de seu celular soaram pelo quarto, a tirando do transe que tinha entrado sozinha.

Carrapato Familiar: mana você tá bem digite 1 para sim 2 para não

Carrapato Familiar: eu posso entrar?

Carrapato Familiar: fiz cookies

Lisa: pode

Carrapato Familiar: pra isso você me responde né, agora me espera que vou no banheiro

A tailandesa não tinha percebido, mas fazia horas que havia chegado do show e não havia dito uma palavra sequer com alguém ou levantado de sua cama. Talvez era o envenenamento dos olhos de Roseanne Park, a maldita com que Lisa estava completamente apaixonada e não sabia o que fazer após tê-la beijado impulsivamente. E outra coisa, ela não parava de lembrar desse momento.

- Ok, me conta porquê raios você está com as bochechas vermelhas, em posição fetal e com o olhar de um cachorro esquecido na mudança? - Minnie entrou no quarto de supetão com uma tijela cheia de cookies.

- Nada.

- Inventa uma nova. Desembucha, Lalisa. - empurrou a irmã para sentar no pé da cama e encostar as costas na parede.

- Você é insuportável, sabia disso?

- Sim, você me conta desde o primeiro dia que veio morar com a gente. - Minnie jogou um beijo e pegou um cookie para entregar para Lisa.

A tailandesa pegou de prontidão. Talvez fosse só um cookie, mas para elas tinha o segredo que haviam prometido quando crianças de que quando estivessem de cabeça cheia e com algo as atormentando, o cookie seria a chave para que tudo saísse de forma leve e suave para a outra ouvir. Não faziam isso desde que Minnie tinha pegado o cookie com 12 anos quando levou o primeiro fora de sua vida e o garoto a chamou de feia. Era bom voltar com velhos hábitos.

given | chaelisaOnde histórias criam vida. Descubra agora