Capítulo 59

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Durante a maior parte do tempo, Akin ficava trancado na cabine do capitão. Geralmente até altas horas da noite, sempre sozinho. Embora não fosse o comandante de seu navio particular, ele tinha total liberdade e autoridade sobre a tripulação, tanto quanto o capitão. E nos momentos em que passava trancado, não gostava de ser incomodado.

Íris aproveitou a situação e sorrateiramente, colocou seu plano em ação.

As pessoas que trabalhavam para Akin não eram, em sua maioria, como ele. Havia muitos homens como seu pai, que acabaram na pirataria por falta de opção. Todos os reinos tinham seus próprios problemas e nem sempre era fácil trazer o sustento, principalmente quando a família ficava numerosa. Akin convencia muitos a se juntar a ele na busca pelo lendário tesouro com a promessa de dividir as riquezas de forma justa, quando o encontrassem.
Muitos ficaram ambiciosos, como ele. Mas esse não era o caso do pai de Íris.

Olin deixou Vinter quando completou vinte anos. Ele sonhava viver em um lugar mais quente e com comida em todas as épocas do ano. Depois que seus pais faleceram e seus irmãos mais velhos se casaram, Olin partiu em uma viagem sem destino; e acabou se apaixonando por Kleure, um reino colorido e muito mais quente do que sua terra natal.
Pouco tempo depois, conheceu Ayana, com quem mais tarde se casou.

A vida deles se complicou cinco anos após o nascimento de Íris. Uma tempestade arrasou boa parte das plantações de todo o reino. Ficou muito difícil conseguir comida e muitos ficaram sem sustento. Olin foi uma dessas pessoas. Em meio a essa crise, Akin o encontrou e lhe fez uma oferta tentadora, que ele não foi capaz de recusar, afinal, tinha uma família para sustentar. E foi assim que o pai de Íris se tornou um pirata.

As promessas feitas pelo homem em busca do tesouro foram esquecidas ao longo do tempo. O que começou como uma busca inocente, passou a ser uma caçada voraz. Akin se tornou o homem mais rico de Kleure, depois que “aproveitou” seus piratas para roubar navios de carga que viajavam entre os reinos. A princípio, os roubos eram justificados por ele com a desculpa de ajudar o povo, que ainda sofria com a fome. Mas depois, as plantações se reestabeleceram e a situação melhorou. Contudo, a ganância o fez continuar a saquear os navios.

Com o tempo, as tripulações passaram a ter homens perigosos e violentos, em meio aos homens que se viram presos a essa vida. Ninguém podia sair, a menos que fosse morto. A melhor maneira de continuar vivo e proteger a família era continuar trabalhando para Akin.

Íris via pena no olhar dos tripulantes. Todos conheciam sua história trágica e sabiam que seu pai era um homem leal, que só estava tentando cuidar da esposa doente. E mesmo assim, Akin não demonstrou misericórdia.

- Senhorita?

Ela se virou em direção a voz e encontrou o cozinheiro sorridente, com as mãos nas costas.

- Pois não? – Íris respondeu com simpatia.

Gohan tinha idade para ser seu pai e a tratava com muita gentileza desde que embarcou. Os outros tripulantes se comportavam de modo frio e formal quando precisavam se comunicar com ela, mas o cozinheiro sempre era muito educado. E por enquanto era o único a saber que a voz de Íris tinha voltado.

- Venha comer. Acabei de preparar o almoço. – ele disse, a chamando com a mão.

Íris não precisou ouvir duas vezes. Correu para a cozinha sentindo o estômago roncar.

Aquele era um lugar seguro para conversar à vontade com seu mais novo amigo. Ninguém frequentava a cozinha, a não ser os dois. Gohan servia as refeições na mesa de uma copa grande, bem no meio do navio, três vezes por dia. Ele já tinha colocado as panelas na mesa e chamado os outros homens para comer, pouco antes de avisar Íris. Ela sempre comia com ele na cozinha, onde se sentia melhor.

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