𝓬𝓪𝓹𝓲𝓽𝓾𝓵𝓸 46

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✶⊶⊷⊶⊷❍⊶⊷⊶⊷✶

𝐿𝓊𝒸𝒾𝑒𝓃

Na manhã seguinte foi mais difícil lidar com a situação do que eu imaginei. Encontraram três corpos que estavam com o estômago totalmente desfigurado e os olhos arrancados. Tivemos que avisar as famílias sobre suas mortes e foi difícil, para não dizer desconfortável, encarar os olhares deles.

Lua insistiu em visitar os parentes dos falecidos para dar a notícia. Ela se sentia culpada pelo o que aconteceu, mas ninguém estava a culpando. A cada casa que íamos, mais ela fungava e disfarçava limpando o rosto rapidamente pelas lágrimas. Aquilo foi mais doloroso de se ver do que perceber que nossas palavras de conforto não faziam efeito algum para aquelas famílias.

Rhys mandou seus espiões para a floresta, onde Lua havia relatado que viu uma movimentação antes da confusão acontecer. Os espiões encontraram outros corpos de caçadores totalmente desfigurados que já estavam entrando em decomposição. Também encontraram um tipo de caverna onde supostamente estavam os monstros pelo o estado em que se encontrava. Sangue por todos os lados junto com uma pilha de ossos humanos e também havia rastros de gosma que eram idênticos à pele dos demônios.

Porém, quando terminaram de vasculhar cada centímetro da floresta e não encontrar nenhum outro demônio, Lua ainda estava à procura de Pompom. Ela estava rouca mas não parava de gritar seu nome em meio a floresta densa.

Eu a acompanhava também ajudando a procurar.

Já estava anoitecendo e percebi que estávamos próximos da fronteira, então resolvi pará-la.

- Lua. Acho que devemos voltar, já está de noite. - digo mas ela continuou andando.

- Só mais dez minutos.

Ela havia dito isso à hora atrás. Mas não era só pelo fato que estava de noite e os monstros podiam voltar, mas porque não a vi comer até agora. Era irônico como ela se preocupava com a minha alimentação mas ignorava a sua quando estava angustiada e preocupada com alguma coisa.

- Lua. - segurei a sua mão fazendo que ela parasse. Ela não olhava para mim desde cedo e aquilo estava me atormentando. - Precisa descansar.

- Eu preciso encontrá-lo. - diz olhando para o chão.

- Nós vamos encontrá-lo, mas precisamos voltar pois passamos o dia inteiro procurando e você ainda não se alimentou. Eu me preocupo com você.

Lua se calou.

Era possível apenas ouvir o som das árvores e de possíveis roedores e aves.

- Eles não confiam mais em mim. - ela diz cortando aquele silêncio. - Eles acham que eu que causei aquilo tudo. - sua mão ainda segurava a minha.

- Lua, claro que não. Aquilo foi apenas um contratempo. - fiquei de frente para ele, porém a mesma continuava olhando para baixo.

- Um contratempo que matou três pessoas que tinham família e filhos. Um contratempo que eu mesma posso ter trazido para cá. Eu não queria isso Lucien. - ela finalmente encarou meus olhos. Consegui ver dor em seus olhos azuis. - Eu queria recomeçar, ter uma nova vida e esquecer pelo menos por algum momento que eu sou um caos ambulante. - ela tinha seus olhos lacrimejando e respiração acelerada.

- Você não é um caos, minha lua. Nunca mais repita isso.

- Como não dizer, basta olhar tudo à minha volta. Olhe como está o jardim da mansão e como estão aquelas famílias. Percebe os olhares que me lançam desde o dia em que pisei nesse mundo? - olhares? Eu nunca havia percebido que olhavam para ela diferente. - Eles desconfiavam o tempo todo que eu iria trazer problemas, e estavam certos. - ela parou para respirar. - E-Eu sequer consigo controlar meus poderes e agora não consigo achar a minha própria criação. Que era para eu saber onde está!

𝓒𝓸𝓻𝓽𝓮  𝓛𝓾𝓷𝓪𝓻  • acotarWhere stories live. Discover now