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  ME reviro de um lado para o outro em minha cama. Sem dúvidas essa é a cama mais confortável que eu já dormi em toda a minha vida, porém, precisa de muito mais do que uma boa cama para minha insônia não acabar com meu sono todas as noites.
  Não importa onde vou ou quanto tempo passa, cada erro do passado me persegue como um mostro e não importa o que eu faça, ele sempre está lá, me lembrando que errei. Errei em tudo. Errei com todos.
  Quando percebo que meus olhos estão marejando, me levando rapidamente da cama. Olho para o relógio, são uma uma da manhã. Ando até a sacada e abro a curtina dela, sinto o vento fresco bater contra o meu rosto e solto um longo suspiro. Vou até a minha mala e pego minha roupa de surf, visto ela e pego minha prancha.
   A mansão estava silenciosa e com todas as luzes apagadas. Desço cada degrau da escada de vagar, evitando fazer barulho.
  As ruas aqui não parecem ser perigosas, mas mesmo assim, quando o silêncio predomina no local e a única coisa que escuto é o barulho do meu chinelo batendo contra o asfalto, fico um pouco apreensiva.
  Chego a praia e olho na direção do mar, as ondas ficam um pouco mais agitadas a noite, e isso que faz ser tão bom, e tão perigoso ao mesmo tempo. Posiciono minha prancha na areia e arrumo led em volta dela, caminho até o mar e mergulho, sinto meu corpo arrepiar com o gelo da água, mas a sensação de estar ali valia mais apena do que o frio que eu sentia.
  Me lembro muito bem do dia que aprendi surfar, eu tinha oito anos e minha mãe me levou, ela amava surfar e, sem dúvidas, vejo muito dela em mim, e não é só no amor pelo surf ! Aprendi tudo com ela, sou quem sou por ela e tenho orgulho de ter sido a última a ficar com ela, a única a ficar até o final.
  Sinto uma dor imensa quando penso que ela tinha três pessoas que amava de mais e só restou eu, isso é o que mais dói, saber que foi exatamente isso que matou ela aos poucos. Não quero ter um final assim, não quero acabar como ela. Quero ser como minha mãe, mas jamais terminar daquela forma.

JJ MAYBANK

  Ando pela praia, com as mãos dentro dos bolsos da bermuda e os pés sentindo cada partícula da areia. Eu tinha brigado com meu pai, de novo. Meu rosto estava machucado e, apesar de ser noite e estar tudo escuro, sei que tem um grande hematoma na minha barriga. Eu já estou acostumado com isso, a dor dos machucados é o que menos dói agora, para falar a verdade.
  Continuo caminhando, já estou no lado kook de Outer Banks, ou seja, caminhei muito. Mas algo chama minha atenção quando olho para o mar. Uma garota surfando. Sei que era uma garota porque o led que ela colocou em sua prancha iluminava uma parte de sua cintura. Ela estava surfando a uma da manhã só com um led na prancha ! Quem que faria isso se não quisesse morrer ?
  Me sento na areia e fico observando ela. Não consigo enxergar muito a estampa da prancha, se não eu poderia descobrir quem é a garota. Fico admirando suas manobras e tenho que admitir que ela é muito boa, acho que a melhor surfista que já vi presencialmente. Ela não erra nenhuma, faz cada manobra com total perfeição. Eu preciso saber quem é essa garota !

  Como se ouvisse meus pensamentos, vejo a garota nadando para a parte raza do mar

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  Como se ouvisse meus pensamentos, vejo a garota nadando para a parte raza do mar. Ela sai com a prancha embaixo do braço e para por alguns segundos, me olhando de canto, provavelmente com medo. A garota continua andando e conforme se aproxima mais da areia onde estavam suas coisas, consigo ver seu rosto por conta da iluminação do led. Porra ! Esquece tudo o que eu disse sobre ela ! É a garota do café, mas ela ainda não percebeu que sou eu.
  Ando até ela e a garota se vira para mim, parecendo apreensiva, mas no momento que ela vê que sou eu, seu semblante muda.
— Você? - ela levanta a sombrancelha e cruzo os braços, decepcionada. Semicerro meus olhos. Eu realmente não vou com a cara dela. Me jogo na areia ao lado dela e ouço a morena soltar um suspiro.

— Maneira a prancha. - indico o objeto com a cabeça. Ela crava a prancha na areia e observa, com apreciação.
Agora consigo enxergar cada detalhe dela, é toda branca, mas parece desgastada e velha, tem algumas flores pequenas no final, bem discreta. E tem um 'C' estampado no meio, em preto. Apesar de parecer velha, era extremamente bonita e bem cuidada.

— Valeu. - ela fala, um pouco sem jeito. Mesmo eu não gostando dela, não posso negar que é uma das garotas mais lindas que já vi, e agora, com o rosto e o cabelo molhado, acredito que esteja ainda mais linda.
  A morena se senta ao meu lado, não fala nada e nem faz nada, muito menos me olha.

— Por que me odeia ? - pergunto, mesmo já sabendo a resposta.

— Eu não te odeio. O que sinto por você ainda não tem uma definição completa. - ela dá ombros.

— Mas você não gosta de mim.

— Isso é um fato. - ela responde de imediato, o que me faz soltar uma risada nasal.

— Qual o seu nome ? - perguntei.

— Celina. - diz ela.

— Não, nome completo.

— Ah. Celina Hope Grey. - disse ela, mas logo depois ela se vira e me olha, confusa, sem entender o porquê da pergunta.

— Preciso saber o nome da minha inimiga principal. - dou ombros. Ela me encara e semicerra os olhos. — O c é de Celina ?

— O que ?

— Na prancha. - aponto.

— Não. É de Cloe. - sinto a dor na voz dela, não sei porque, mas não pergunto mais nada. Ela se levanta da areia e pega suas coisas. — Preciso ir. - avisa ela.

— Tchau, princesa kook. - vejo seus olhos se revirarem.

— Você não cansa de ser tão inconveniente? - pergunta ela. Dou ombros.

— Para você? Nunca. - ela arfa, junto com uma risada irônica. Vejo a morena se afastando pela praia e, até perder seu corpo de vista, não tiro meus olhos dela, conferindo se chegaria bem, mesmo eu não sabendo onde ela mora.

O ɴᴏssᴏ 𝒆𝒕𝒆𝒓𝒏𝒐 ᴛᴀʟᴠᴇᴢ; 𝙹𝙹 𝙼𝚊𝚢𝚋𝚊𝚗𝚔 🦋Where stories live. Discover now