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"Ainda não fomos derrotadas, Lina."

ESSAS são as palavras que se prendem ao meu cérebro. Essas foram as palavras que minha mãe disse para mim. Essas são as palavras que predominam os meus pesadelos a noite. Essas palavras me assombram. Elas são o meu monstro ou, pelo menos um deles.
  Acordo, assustada e me sento na poltrona, apertando as laterais dela com força. Vejo JJ dormindo no sofá, com a barriga para baixo. Ele até que era fofo dormindo. Só dormindo mesmo.
  Me levanto, tentando não fazer barulho e vou até o lado de fora. Me sento no sofá que fica na varanda e observo o sol, que estava começando a nascer agora. Amarro meu cabelo com o elástico que estava em meu braço e jogo minha cabeça para trás, exausta.
  Sinto passos vindo até mim. Olho para o lado e vejo JJ. Seu rosto estava amassado de sono e o seu cabelo se matia todo arrepiado.
— Bom dia. Como você está, minha querida ? - O Maybank fala no tom mais normal possível.

— Neste momento, com vontade de te dar um soco por me chamar de "minha querida" ! - Sorrio sem mostrar os dentes, falsa.

— Achei que íamos nos tratar bem agora. Pois bem, então. Minha linda ? Minha amada ? Meu amor ? - da várias sugestões, jogando os braços para cima.

— Qualquer um serve, desde que seja usado apenas comigo. - dou de ombros, me levantando e indo na direção da porta, mas o loiro não dá a passagem para mim, ele só continua me olhando.
  Me perco na imensidão de seus olhos azuis e posso ter a certeza de que meu coração está me sabotando, porque sinto vontade de beijar JJ. Beijar de verdade. Seu olhar desce para minha boca e quando percebo que estou fazendo o mesmo, desvio meu olhar, cortando o clima.

— Er... eu só queria agradecer... por ontem. Obrigada. - Sua voz fica fraca e ele parece desconfortável.

— Não é porque eu não gosto de ti, que não iria te ajudar, Maybank. - Dou um soquinho em seu braço e entro para o castelo, deixando o loiro lá.

— Bom dia, Lina. - Jonh b fala, com sono. Sorrio para o moreno e bagunço seu cabelo, mais do que já estava.

— Bom dia, Jonh.

Eu não sei quando isso aconteceu, mas parece que tenho intimidade com ele, parece que já senti isso antes. Deja vú.

[...]

— CELINA ! - O grito de Luiza pode ser ouvido por toda a grande mansão. Saio correndo de meu quarto e desço as escadas o mais rápido que posso.

— Oi Oi. - falo, rápido ao chegar na cozinha e observar minha avó com um avental, fazendo um bolo.

— Oi, querida. - ela sorri simpática.

— O que a senhora precisa ? - pergunto, regulando minha respiração.

— Eu só queria conversar um pouco com você. - diz sorridente. — Desde que você chegou, não tivemos muito tempo.

Me sento em uma das cadeiras e vejo a mulher se sentar em outra, na minha frente e com a mesa de jantar entre nós.

Olho para a estante de livros que tinha perto da mesa e vejo um porta retrato. Me levanto e pego o objeto, olhando para a foto. Ali tinha um homem e uma mulher, junto com uma criança.
— Quem é, vó? - pergunto, me sentando novamente, mas dessa vez com a foto em mãos.

Luiza segura o porta retrato e acaricia a imagem com o polegar. Posso ter certeza de que escuto os pedaços de seu coração sendo partido e as lágrimas quem preenchem seus olhos, confirmam que estou certa.

— Eu, sua mãe... - ela trava. Gagueja, trêmula. — E seu avô.

Percebo que ela não gosta de tocar no assunto, assim como minha mãe não gostava também.

— Você não gosta de falar do vovô, não é ?

— Eu gosto. Gosto muito. - ela suspira. —Mas dói. Dói saber que ele não está mais aqui comigo. Dói saber que perdi o amor da minha vida. - ela fala como um sussuro. Desvia o olhar da foto e larga ela na mesa.

— Como sabe ? - pergunto. Luiza fica confusa. — Como soube que ele era o amor da sua vida ? - pergunto novamente, deixando mais claro dessa vez.

— Eu só soube. - o sorriso que aparece em seus lábios é contagiante.
— Ele era incrível. Aprontava muito, já tinha sido pego pela polícia algumas vezes, não tinha medo de nada... - ela solta uma risada, sozinha.
— Ele era... nossa. - ela suspira.
— Mas por que a pergunta?

— Não sei.... eu já achei que tinha encontrado o amor e na verdade, ele só me levou a morte. - maneio a cabeça, tentando desviar meus pensamentos.

— Querida, eu vou te falar uma coisa que adolescente nenhum acredita, mas eu juro que é a mais pura verdade. A gente se apaixonar mais de uma vez. Vai amar de novo e vai ser tão bom e extraordinário quanto da primeira vez... e até tão doloroso. Mas vai acontecer de novo ! - ela afirma.

Sinto meus olhos se encherem de lágrimas.

— Quando isso acontecer, você vai perceber a diferença de quando somos realmente amadas e amamos também. Você vai ver como é bom olhar para uma pessoa com um olhar único e receber esse olhar também. Acredite em mim. - Luiza segura minhas mãos e acaricia elas.

— Obrigado, vó. - sorrio para a mulher, que retribue da mesma forma.

JJ MAYBANK

  Observo Celina, de longe. A morena estava sentada na ponta do pier, seus braços sustentavam suas pernas e as abraçavam. Apesar de eu estar a uma distância relativamente longe dela, consigo enxergar suas lágrima descendo pelo rosto.
  Volto a caminhar pelo lado kook da ilha, já que eu tinha vindo fazer algumas entregas para o senhor Heyward, pai de Pope. Mas ao invés de continuar a caminhar, paro e volto.
  Por que não consigo esquecer da existência dessa garota ?

Merda. Merda.

  Sem nem perceber, estou caminhando pelo grande pier, indo na direção de Celina Grey, a princesa kook.
  Ao notar minha presença, Grey tenta esconder as lágrimas, mas não consegue. Me sento ao seu lado, em silêncio. Foi uma péssima ideia vir aqui ?

— Ontem você me ajudou. Caso queira, posso te ajudar agora. - Os olhos claros da morena vão de encontro ao meu. Era como se ela precisasse de ajuda.

— Você vai rir da minha cara. - Ela nega com a cabeça, ainda chorando.

— Você acha que sou tão cruel a esse ponto ? - pergunto, sério.

— Acho. - Ela não aprece estar brincado. — Pelo menos é o que dizem por aí. - afirma.

— Eu posso ser qualquer coisa, mas não sou um babaca ! - Exclamo como se fosse óbvio.
Ela analisa meu rosto por alguns segundos, filtrando meu olhar e absorvendo cada informação.

— Eu tenho medo de me apaixonar... - Diz ela, em um tom fraco.
— porque quando eu tinha 15 anos, eu namorava com um cara mais velho. - Suas lágrima aumentam. —  Ele me... ele... ele abusava de mim.

Sinto um nó se formar na minha garganta ao ouvir as palavras de Lina.

— No início ele dizia que era apaixonado por mim, mas depois me forçava a fazer coisas... ele tocava no meu corpo sem autorização. Ele tocava em tudo... - O choro agoniado de dor da garota e cada palavra que ela fala, me fazem querer vomitar. Estou prestes a vomitar.

— Lina... - tento falar algo, mas nenhuma palavra que eu diga agora será capaz de curar algo assim.
  Apenas puxo a garota para o meu peito e abraço seu corpo, com força. Eu queria poder tirar a dor dela, porque mesmo eu estando com nojo agora, não chega aos pés do nojo que Celina sente de si mesma.

O ɴᴏssᴏ 𝒆𝒕𝒆𝒓𝒏𝒐 ᴛᴀʟᴠᴇᴢ; 𝙹𝙹 𝙼𝚊𝚢𝚋𝚊𝚗𝚔 🦋Unde poveștirile trăiesc. Descoperă acum